De volta ao mundo: estudantes da USP retornam às experiências de intercâmbio com aulas presenciais

Controle dos casos de covid-19 possibilitou a volta às aulas presenciais no exterior e intercambistas do 1º semestre de 2022 já aproveitam as atividades no pós pandemia

por Giovanna Oliveira

Arte: Giovanna Oliveira/Foto: Adobe Stock/Pixabay

O avanço da vacinação contra a covid-19 e a queda no número de casos possibilitaram o retorno às aulas não apenas na USP, mas em escolas e universidades do mundo todo. Com essa volta à rotina presencial, a dinâmica dos intercâmbios internacionais da USP pôde retomar as experiências pré pandemia e proporcionar novas histórias aos intercambistas.

Na USP, é possível cursar disciplinas em universidades de outros países através dos intercâmbios da Aucani (Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional). Estudantes de todos os institutos podem estudar de seis meses a um ano em instituições renomadas de todos os continentes.

Infelizmente, uma das consequências da covid-19 foi a mudança de experiência dos intercâmbios. Muitos dos editais foram adiados e estudantes que viajaram entre os anos de pandemia tiveram que assistir aulas remotamente mesmo em um outro país.

O aluno Pedro Vivas, que cursa Ciências Sociais na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), foi aprovado em um edital de intercâmbio para a Noruega, na Universidade de Bergen, durante a pandemia. Ele passou o primeiro semestre de 2021 no país e conta que, durante os seis meses, teve apenas uma aula presencial: 

“Eu tive aulas online no semestre todo. Eu tive apenas uma aula na universidade, apenas para garantir que eu tivesse a mínima experiência presencial. A dinâmica foi bem parecida com a USP, mas eu confesso que não me engajei tanto”, Pedro pontua.

Para Pedro, a principal perda do intercâmbio durante a pandemia foi não ter a vivência universitária devido às limitações das aulas online, mas acredita que ainda conseguiu aproveitar a cidade com os parques, museus e atrações turísticas.

Mas para a felicidade dos estudantes e intercambistas, tudo indica que as aulas obrigatoriamente online ficaram no passado. Assim como no Brasil, instituições de ensino do mundo todo retornaram às aulas presenciais neste ano. 

Alunos das unidades USP já conseguem viajar a intercâmbio em 2022 tendo aulas presenciais e dois deles decidiram compartilhar suas experiências com o Jornal do Campus.

Lívia Magalhães é estudante de Jornalismo na ECA e está temporariamente na Universidade de Roma La Sapienza, na Itália. O intercâmbio sempre foi um sonho de vida para ela e, inclusive, um dos motivos para tentar ingressar na USP era a quantidade de convênios com universidades internacionais.

O que mais chamou a atenção de Lívia em La Sapienza foi a pluralidade de culturas e ter estudantes de diversas nacionalidades na universidade: “Eu tenho contato com pessoas do mundo inteiro. Isso expande muito o nosso repertório. O ambiente universitário já é muito propício para conhecer pessoas e, em uma comunidade internacional, isso é ainda mais intenso”.

A experiência de intercâmbio pode proporcionar muitas vantagens para um estudante, desde a vida acadêmica até a profissional e pessoal. Além do contato com novos idiomas e culturas, o intercâmbio oferece oportunidade de conhecer metodologias de ensino diferentes e agrega valor para o currículo do aluno. 

Agora, com a flexibilização das medidas contra covid-19, esses benefícios ficam ainda mais evidentes na vida presencial. João Saraiva, estudante de Engenharia Química na Escola Politécnica (Poli) está na França em intercâmbio na Escola Nacional de Indústrias Químicas (Ensic) e conta que hoje já quase não há mais restrições na região em que ele vive. A única obrigação é o uso de máscaras em transporte público, mas ele presenciou algumas medidas mais sérias.

“No começo tiveram várias restrições. Eu lembro que havia uma regra que se determinado número de pessoas pegasse covid, as aulas da universidade deveriam ser suspensas para todos por um certo tempo. Isso aconteceu duas vezes”, ele afirma.

Embora o intercâmbio proporcione experiências inesquecíveis aos estudantes, essa infelizmente ainda não é uma oportunidade para todos. Em um contexto pós pandemia, no qual os brasileiros perderam em média 9% de suas rendas em um ano, realizar intercâmbio pode estar fora de cogitação para muitos alunos da universidade.

O custo de vida nos intercâmbios pode sempre ser um desafio para os estudantes. Muitos países usam moedas como o euro e o dólar, que estão cotados a um alto preço. Na USP, há a possibilidade de concorrer a bolsas de cerca de R$ 20 mil para auxiliar a se manter no país, mas infelizmente o valor é muito abaixo do necessário e a concorrência é alta.

Lívia conta que muitas bolsas foram congeladas. No edital o qual ela foi aprovada, tinham cerca de 14 pessoas que poderiam concorrer ao auxílio financeiro. Porém, foram ofertadas apenas 3 bolsas. “Isso é muito pouco porque se manter aqui é muito caro por causa da moeda”, ela diz.

Além do custo de vida, um dificultador é o requisito de idiomas. João explica que, em seu edital de intercâmbio, era obrigatório ter nível B2 em francês e ele acredita que é uma língua que poucas pessoas ainda dominam no Brasil.

Ainda assim, mesmo com os desafios de acesso aos intercâmbios na universidade, já é uma conquista a volta dos editais e aulas presenciais no exterior. O intercâmbio oferece inúmeras oportunidades aos estudantes e pode gerar diferentes experiências acadêmicas.

Lívia ainda conclui dizendo que espera que, com o retorno das aulas presenciais e volta dos editais, mais pessoas possam ter a experiência de estudar no exterior: “Eu espero que no futuro seja possível mais pessoas fazerem intercâmbio, infelizmente ainda não é uma coisa muito acessível”.