Os planos e as dificuldades envolvendo os edifícios inutilizados da USP

Obras inacabadas, reformas por fazer, editais sem interessados: o superintendente do Espaço Físico da Universidade, Miguel Antonio Buzzar, fala sobre a situação de três edifícios importantes do campus que estão parados

por Tomás Novaes

Em suspensão: um dos prédios projetados para a Praça dos Museus. Fotos: Natane Pedroso/JC

Na heterogênea geografia da Cidade Universitária, os espaços vazios algumas vezes não o parecem ser – grandes construções, tanto conhecidas, como o Estádio Armando de Salles Oliveira, quanto desconhecidas, como o prometido Centro de Convenções, se tornaram elefantes brancos do campus: estejam elas inutilizadas, subutilizadas ou ainda não concluídas.

A gestão atual da reitoria inclui em seu plano orçamentário, executado através da Superintendência do Espaço Físico (SEF), alguns desses edifícios. Entre esses, o principal avanço será a conclusão da Praça dos Museus, obra paralisada desde 2014. O preço: R$ 250 milhões. “Nós iremos retomar esta obra o mais rápido possível – o que requer alguns encaminhamentos”, disse o professor Miguel Antonio Buzzar, do Instituto de Arquitetura e Urbanismo, e atual Superintendente da SEF, em entrevista ao Jornal do Campus.

“O projeto é relativamente antigo, o que significa que várias questões relativas ao combate de incêndios, à mobilidade, à automação, não conheceram uma alteração ao longo dos anos em que a obra ficou parada”, explicou o professor. Desenhado pelo prestigiado arquiteto Paulo Mendes da Rocha (1928 – 2021), a praça, localizada próxima ao Portão 3 do campus, foi pensada para abrigar o Museu da Zoologia (MZ) e o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE), além de um complexo cultural e um edifício expositivo.

“Nós imaginamos, pelo montante de verba inicialmente disponibilizada, que neste próximo período nós faremos uma primeira etapa, que seria a conclusão do MAE e do MZ. Mas o objetivo geral da Universidade ainda consiste em fazer a praça em sua totalidade“, afirmou Miguel. “A primeira coisa que estamos fazendo é estudar como iremos fazer para readequar o projeto às exigências contemporâneas. Resolvida essa questão, nós teremos de fazer o processo licitatório tradicional, como qualquer obra pública”, concluiu.

Ao fundo, a fachada do imenso Centro de Convenções, sem previsão de ser concluído.

Sobre processos licitatórios, um outro projeto encontra maiores dificuldades, sem previsão de serem superadas. Trata-se do Centro de Convenções, um imenso edifício localizado próximo à Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ-USP). Em nota encaminhada em janeiro deste ano, a SEF relatou que “a obra foi interrompida em 2014 em função de problemas financeiros que a USP enfrentou no período” e que “a nova gestão tem todo interesse em concluir a obra do Centro de Convenções”, já que “uma Universidade do porte da USP necessita de um equipamento que permita a realização de eventos acadêmicos e culturais de grande porte”.

Em 2019, a gestão anterior da universidade abriu um edital de Concessão de Direito de Uso, para finalização da obra e exploração, mas que não apresentou interessados. Em 2020 e início de 2021 foram feitos novos estudos para a atualização do edital e abertura de nova Concessão de Uso, mas também não apresentou interessados.

Perguntado sobre, o Superintendente afirmou que, por enquanto, não há um plano da nova gestão para concretizar a obra. “Não tem uma dotação orçamentária específica como o caso da Praça dos Museus. A USP, em anos passados, buscou parceiros para o término da obra, com o Centro de Convenções podendo ter alguma forma de utilização por algum parceiro. A Universidade não foi feliz neste empenho – evidentemente que os últimos dois anos, por razão da pandemia, foram problemáticos para isso”, disse Miguel. “Por ora eu não tenho uma previsão ou mesmo um encaminhamento – isso inclusive foge da alçada da SEF”, completou.

Quando se fala de edifícios subutilizados na Cidade Universitária, não se pode esquecer do mais grandioso deles: o Estádio Armando de Salles Oliveira, ou o “Estádio Olímpico da USP”.  Construído em 1961 e com capacidade para 35 mil pessoas, recebeu seu último jogo oficial em 1988 – e desde então foi perdendo seu espaço não só no esporte regional, mas na própria vivência da Universidade.

Grandeza desperdiçada: a quinta maior arquibancada do estado, com lotação pouco menor que o Pacaembu.

“É uma obra que nos interessa e que interessa toda a Universidade, como patrimônio e obra significativa do arquiteto Ícaro de Castro Mello, mas que vai passar por uma avaliação mais cuidadosa das reais possibilidades de recuperação desse estádio, o que nós buscaremos fazer agora no segundo semestre”, afirmou o Superintendente.

A verba destinada para a avaliação e recuperação estrutural do estádio é de R$ 300 mil. Sobre planos futuros, ainda é cedo para dizer – mas a intenção é conseguir uma recuperação total. “Nós gostaríamos que ele fosse utilizado na sua plenitude, quanto às arquibancadas, e assim por diante. O objetivo é podermos usar ele plenamente”, disse Miguel.