Eu, tu, elu: saiba mais sobre a linguagem neutra

Apesar de existirem mais de trinta projetos de lei contrários à sua utilização, a linguagem neutra vem se popularizando no país

por Isabella Oliveira, Larissa Leal e Rosiane Lopes

A bandeira da visibilidade não binária foi criada por Kye Rowan, em 2014. Imagem: wikimediacommons

Pode-se dizer que a linguagem neutra ou linguagem não binária, como também é conhecida, desponta como um dos assuntos mais polêmicos e comentados nos últimos anos, sendo cada vez mais utilizada, principalmente nas redes sociais.

No início, a linguagem neutra propunha o uso dos artigos neutros “e”, “x”, ou “@” em substituição aos artigos femininos e masculinos “a” e “o”, a fim de representar pessoas que não se encontram dentro da binariedade de gênero. Entretanto, as terminações em “x” e “@” são consideradas inadequadas atualmente por dificultarem a leitura e a fala.  

“Para mim a não binariedade é a liberdade de poder ser quem eu sou independente de rótulos, porque ela não é uma caixinha fechada, é um termo guarda chuva com diversos outros termos dentro. Eu, por exemplo, estou mais próximo de gênero neutro ou agênero”, comenta Aqua, audiodescritor e estudante de matemática.

Desse modo, palavras como “todas” ou “todos” seriam escritas como “todes”, com o objetivo de evitar os marcadores de gênero. Há quem defenda também a utilização do pronome “elu” para se referir a pessoas sem levar em conta o  gênero com o qual elas se identificam.

Desse modo, palavras como “todas” ou “todos” seriam escritas como “todes”, com o objetivo de evitar os marcadores de gênero. Há quem defenda também a utilização do pronome “elu” para se referir a pessoas sem levar em conta o  gênero com o qual elas se identificam.

É importante ressaltar que a linguagem neutra se aplica somente a pessoas e não a objetos ou animais. É comum observarmos o emprego errado dos pronomes e artigos neutros devido ao desconhecimento, no entanto, alguns indivíduos o fazem intencionalmente para deslegitimar o movimento que defende sua adoção. 

Segundo Aqua, “quando alguém usa pronome neutro comigo, eu percebo que essa pessoa me valida, que ela entende o quanto isso é importante para mim, o peso disso, porque quase ninguém se dá o trabalho de usar. Eu fico extremamente feliz, por um momento é como se eu me sentisse abraçada por palavras”. 

A linguagem neutra no Brasil e no mundo

No Brasil, as opiniões quanto ao uso da linguagem neutra não são unânimes. Enquanto certos segmentos se colocam a favor da linguagem e frisam a importância da adoção do uso de expressões neutras no processo de inclusão de pessoas não-binárias, transexuais, travestis e intersexo, outros são contra

Segundo levantamento realizado pela Agência Diadorim, o Brasil tem 34 projetos de lei contra o uso do gênero neutro. Ainda conforme a Agência, os lugares com mais projetos de lei que visam frear o uso da linguagem neutra são Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro e Santa Catarina. 

A institucionalização da linguagem neutra é importante pois é algo que existe e as pessoas precisam perceber e aceitar esse uso.”

Em Rondônia, em outubro de 2021, , foi sancionada a primeira lei que proibia a linguagem neutra na grade curricular e no material didático de instituições de ensino públicas ou privadas e em editais de concursos públicos. No entanto, em novembro do mesmo ano, essa mesma lei foi suspensa pelo ministro Edson Fachin. Além dela, outros projetos estão em tramitação

Na França, o Ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer, tomou uma medida mais dura em relação à linguagem inclusiva, que no utiliza o ponto médio (•) para combinar a grafia da palavra no masculino e no feminino. Jean-Michel proibiu o uso desse tipo de linguagem dentro das escolas e afirmou que poderia dificultar o aprendizado das crianças. Em Buenos Aires, na Argentina, também se firmou uma norma para barrar a utilização da linguagem neutra em escolas de educação infantil. 

Em países de língua inglesa a discussão não segue tanto para o lado gramatical, já que, no inglês, o pronome “they” (eles/elas) já é utilizado em situações em que o gênero do sujeito não é determinado. Além disso, grande parte dos adjetivos não flexionam quanto ao gênero. Assim, as pessoas que se enquadram na não-binariedade seriam referidas com esses pronomes que já existem na linguagem inglesa. 

A existência de pronome sem definição de gênero são um ponto facilitador para a aderência da linguagem neutra em países que tem o inglês como língua principal. Imagem: Katie Rainbow /unsplash