Set de Setembro: o sequestro forjado do patriotismo

Jair Bolsonaro politiza e enterra a identidade de uma comemoração que deveria ser nacional

por Antônio Misquey

Bandeira do Brasil com o rosto de Jair Bolsonaro no centro, em manifestação na Avenida Paulista. Foto: João Pedro Barreto/JC

Na manhã do ducentésimo aniversário da Independência, o palco estava montado para o presidente da República discursar. Em um trio elétrico, cercado de bandeiras do Brasil, Jair Bolsonaro teve o espaço ideal para exaltar uma identidade nacional esquecida. Um palanque midiático, aliás, que nenhum de seus adversários políticos já teve.

Contudo, Bolsonaro preferiu fazer mais do mesmo: selecionou os seus fiéis e abusou da retórica nacionalista falha, incapaz de angariar novos eleitores em um comício político forjado. O patriotismo foi sequestrado, mais uma vez, para virar bandeira política.

Ele atacou Lula, pediu votos e clamou por sua virilidade. Acompanhado de milhares de fanáticos pelo bolsonarismo – e não pelo Brasil, celebrou a si como herói da pátria, assim como dom Pedro I fez, em 1822. Não repetiu, porém, a sua postura de 2021, quando questionou todas as vias democráticas que pôde. Em 2022, simplesmente não as defendeu, ou melhor, não repreendeu cartazes e cânticos golpistas.

Faixa com dizeres golpistas estendida por manifestantes na Avenida Paulista, no Sete de Setembro. Foto: João Pedro Barreto/JC

O objetivo de demonstrar sua força política foi alcançado. No Rio de Janeiro, em Brasília e por país afora, arrastou e engajou multidões pela sua reeleição. Os movimentos acabaram em jornais e redes sociais porque não foram insignificantes. Contudo, também não foram suficientes. Bolsonaro segue precisando de novos votos e parece não ter estratégia alguma para conquistá-los.

Bolsonaro teve a oportunidade de ser, pela última vez, o presidente de todos os brasileiros. Em vez disso, manteve o discurso combativo, sequer citou o termo “independência” e fez a data festiva encontrar a letargia. Agora, ele é investigado, pela enésima vez, por sua conduta. O caos social continua sua escalada no país, encabeçado pelo líder da nação.