Cheerleader: falta de apoio prejudica saúde de atletas na USP

Seis anos após a criação do primeiro time na universidade, o esporte não tem espaço adequado para treinar

por Victoria Borges

Apresentação da equipe de cheerleading da Escola de Comunicações e Artes da USP. Foto: Ecatlética

“Na hora de subir, eu caí no chão. Foi tudo muito rápido, nem me lembro direito, só sei que foi muito forte. Não sei se bati as costas ou a cabeça, mas não conseguia levantar. Na mesma hora, tive que ir ao HU (Hospital Universitário) para fazer uma tomografia”, conta Vivian Mota, estudante de Biblioteconomia, que é flyer (posição que realiza os movimentos no ar) no time de cheerleading da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.

As quedas fazem parte da rotina dos atletas de cheerleading. O  “cheer”, como é popularmente chamado, é conhecido por ser uma modalidade bastante exigente e perigosa. A variedade e o alto grau de complexidade dos movimentos podem expor os atletas a múltiplas lesões — e a falta de um local adequado para treinar piora esse cenário. 

É o que acontece com os times de cheerleading da USP, que não são reconhecidos pela diretoria do Centro de Práticas Esportivas (Cepeusp) da Universidade e não podem reservar horários nos quadras cobertas, chamadas de “módulos”, com tatames e equipamentos adequados para os treinos. 

“A gente estava treinando na grama. Se [a queda]  tivesse sido no tatame, que é o lugar apropriado, o impacto teria sido um pouco menor”, acredita Vivian.

As atléticas da USP que possuem times de cheerleading — a Ecatlética, da ECA, a AAAIXS, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) e a Atlética XII de Fevereiro, do Instituto Oceanografia (IO) —, escreveram uma carta para a diretoria do Cepeusp reivindicando o direito de reservar horários nos módulos. Entretanto, o pedido não foi atendido e os atletas permanecem treinando em locais sem estrutura adequada.

O Jornal do Campus entrou em contato com a unidade para entender as motivações da restrição. Em resposta, a diretoria afirma que os módulos já estão sobrecarregados com as reservas das atléticas para a prática de outras modalidades. 

Mas, afinal, o cheerleading é considerado esporte?

De acordo com o Estatuto Social da União Brasileira de Cheerleaders (UBC) — associação que representa o cheer no Brasil, criada em 2017 —, a modalidade é reconhecida formalmente como esporte e regulada por normas nacionais e internacionais, sobretudo aquelas em parceria com a Confederação Brasileira de Cheerleading e Dança (CBCD) e International Cheer Union (ICU).

Mas o cheerleading já era considerado esporte antes disso. Em 2012, o SportAccord, associação que reúne todas as federações internacionais de esportes, reconheceu a prática oficialmente. Quatro anos depois, foi a vez do Comitê Olímpico Internacional (COI) legitimar o esporte. A expectativa é que a modalidade seja incluída nas Olimpíadas de Los Angeles, que devem acontecer em 2028.

Ainda que esteja associado à imagem dos pompons e roupas curtas, como os filmes norte-americanos normalmente representam, o cheerleading é um esporte bastante complexo, que exige flexibilidade, força e dedicação por parte dos atletas, que precisam manter uma rotina rigorosa de treinos.