Conheça o aplicativo que traz monumentos históricos para dentro da USP

Grupo da FAU lança ferramenta que permite visualizar obras da cidade de São Paulo em realidade aumentada

por Thiago Campolina de Sousa

Foto: Ana Júlia Maciel/JC

Na última sexta-feira, dia 30 de setembro, aconteceu o lançamento do demonumentaRA, aplicativo desenvolvido pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP que propõe divulgar e questionar monumentos históricos. O foco são as obras relacionadas aos anos de 1922, 1954 e 1972, feitas em razão do Centenário da Independência, do IV Centenário da Cidade de São Paulo e do Sesquicentenário da Independência, respectivamente.

O aplicativo, que já pode ser baixado na Google Play e na App Store, recria esses monumentos por meio da realidade aumentada. Através da câmera do celular, é possível escanear adesivos que representam cada um deles. Depois, basta esperar para ver bem diante de você, em três dimensões, uma enorme construção em escala reduzida. A visualização em escala real também está disponível. 

O objetivo inicial era estrear o aplicativo na Praça do Relógio, um local amplo que permite a visualização de obras de tamanha magnitude. As chuvas constantes da semana passada, no entanto, acabaram por trazer o evento para dentro do prédio da Reitoria, onde se reuniram os docentes, alunos da graduação e da pós-graduação envolvidos no projeto, assim como outros apoiadores. 

Houve uma espécie de dança cômica entre os presentes, que se movimentavam em círculos a fim de encontrarem o melhor ângulo da obra escolhida. Sim, o aplicativo também oferece essa outra funcionalidade — ainda com o celular em mãos, é possível andar ao redor de toda a extensão do monumento, apreciando-o de cima a baixo a nosso bel-prazer. 

Questionamento das narrativas

A maioria das obras fazem a representação de eventos ou indivíduos questionáveis, como é o caso do Monumento às Bandeiras, o primeiro a ser incluído no projeto. Assim, enquanto damos uma volta virtual em torno da obra, existe a opção de escutarmos um áudio, no qual são postas em xeque as narrativas que foram criadas em relação aquilo que o monumento retrata. 

A professora da FAU Giselle Beiguelman, coordenadora do grupo demonumenta, responsável pelo desenvolvimento do app, conta que a morte do norte-americano George Floyd, em 2020, foi o catalisador do surgimento da iniciativa. À época, diversas estátuas nos EUA foram derrubadas ou sofreram intervenções, em uma onda de protestos motivada pela brutalidade cometida contra Floyd. 

No demonumentaRA, há 22 obras que podem ser vistas através da realidade aumentada proporcionada pela inteligência artificial. Além do Monumento às Bandeiras, localizado próximo ao Parque do Ibirapuera, outras obras famosas, como o controverso Borba Gato, de Júlio Guerra, ou a já finada aspiral do IV Centenário, de Oscar Niemeyer, estão à disposição para serem exploradas.

Fonte Monumental da escultora Nicolina Vaz. Foto: Ana Júlia Maciel/JC

Uma outra característica que chama a atenção é a utilização de um espaço comum do campus para o uso do aplicativo. O estudante de graduação em Arquitetura Guilherme Bretas conta que esse foi, para ele, um dos pontos altos do projeto. “O que eu achei mais interessante foi a intervenção no espaço da universidade”, afirma. Isso também foi ressaltado pela Pró-Reitora de Cultura e Extensão Universitária, Marli Quadros Leite: “a Praça do Relógio não pode ser só um espaço de circulação, mas um espaço de apropriação. Deve ser exercitado enquanto espaço comum”. 

Guilherme destaca outro aspecto de que gosta muito — o fato de que “o projeto une tecnologia e memória”. Ele é um dos mais de 150 alunos da graduação e da pós que se dedicaram à manufatura do app, em um processo que levou quase dois anos. Os discentes, vindos não somente de FAU, estavam divididos em cinco grupos, que passavam pela modelagem 3D à fotografia.

Luís Felipe Abbud, diretor artístico do aplicativo, revelou em seu discurso durante o lançamento que a impressora 3D usada para a fabricação de modelos dos monumentos havia sido jogada fora na Escola Politécnica (Poli). Ele disse que o demonumenta procura criar “produtos de cultura, de educação, que podem melhorar questões da nossa contemporaneidade”. E é nesse sentido que o demonuementaRA foi pensado, como um vetor de questionamento de narrativas pré-estabelecidas. 

O grupo demonumenta 

Batizado como um contraponto ao Programa Monumenta, lançado em 2000 pelo Ministério da Cultura, o demonumenta é definido por Beiguelman como um grupo de pesquisa, extensão e ensino ao mesmo tempo, apesar de não estar vinculado à comissão de pesquisa de nenhum instituto da USP. Ela carrega um mote consigo: “a melhor pedagogia não é a que apenas ensina, mas a que ensina o aluno a aprender”. 

O demonumentaRA foi feito com o apoio da Pró-Reitoria de Pertencimento e Inclusão (PRIP) e da Prefeitura do Campus USP da Capital (PUSP-C). O aplicativo contou com recursos vindos do Programa de Ação Cultural (ProAC), em que alcançou o primeiro lugar do edital.