Movimento estudantil da USP vai às ruas para defender a democracia

O ato, que aconteceu em várias universidades públicas do país, contou com a participação de coletivos e de líderes políticas

por Antônio Misquey

Movimentos estudantis da USP reunidos nas ruas do bairro Butantã. Foto: Antônio Misquey/JC

Foi mais um amanhecer atípico na USP. Desta vez, mais de dez coletivos se uniram em frente ao Portão 1, logo às seis horas da terça-feira (18), para reclamar a defesa da democracia como pauta prioritária. Pelas quase três horas seguintes, ninguém pôde furar a barulhenta barreira formada por estudantes. As faixas estendidas denominavam os candidatos pretendidos pelo grupo: Lula para presidente e Fernando Haddad para governador.

Esse movimento em São Paulo compôs um ato orquestrado pela União Nacional dos Estudantes (UNE), que ocorreu na grande maioria das universidades públicas do país. Dany Oliveira, diretora da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP), falou sobre a força da mobilização: “É uma demonstração da juventude e dos estudantes que não vão tolerar esse governo por mais quatro anos. A gente sabe que todos os nossos problemas não vão ser resolvidos depois do dia 30, mas dentro de um governo de Haddad e de Lula vamos ter melhores condições de construir a luta no nosso país”, afirma. “Só as urnas são insuficientes para essa luta [contra o fascismo] sair vitoriosa”.

Além das questões políticas externas, o grupo também pretendia retomar pautas anteriores, internas à USP. É o que fala Felipe Scalise, representante discente do conselho gestor da Prefeitura da Cidade Universitária: “Por ser uma manifestação dos estudantes, também carrega diversas lutas dos institutos e dos CAs (Centros Acadêmicos), como a organização dos estudantes, a habitação do espaço, a permanência, a questão do Crusp, o sucateamento do ensino público”, conta. “Pautar uma universidade pública democrática e popular requer também uma intervenção na política macro do Brasil”.

Cartaz contra Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas erguido por um estudante no protesto pelas ruas do bairro Butantã. Foto: Antônio Misquey/JC

Às nove horas, as músicas ganharam volume. Gritos contra Jair Bolsonaro, a Polícia Militar e a favor da educação, em alusão aos consecutivos cortes de verba no âmbito federal, foram entoados pelas centenas de estudantes que começaram a caminhada no bairro Butantã. A mensagem era clara: os manifestantes queriam dar uma demonstração política, representando a voz dos estudantes da USP, mesmo que em uma mínima parcela deles.

Letícia Chagas, co-deputada estadual por São Paulo, explicou o motivo dos gritos: “Temos expectativas muito baixas especialmente em relação à eleição do Tarcísio. A Universidade sempre se colocou contra os governos do PSDB, que sempre atuaram contra a universidade pública. Um exemplo foi o PL [529] que o Dória enviou durante a pandemia, que buscava confiscar parte das verbas das universidades públicas do estado. A gente vê que com o Tarcísio isso pode piorar e muito porque ele já sinalizou que quer governar o estado de São Paulo como o Bolsonaro governa a União”, completou.

Os grupos retornaram à USP para uma roda de conversa sobre as questões que pautavam o ato e seguiram com o planejamento do dia. Horas mais tarde, os estudantes se reuniram em frente ao Fórum Pedro Lessa para discutir uma “educação antifascista” em uma aula pública, com a participação de líderes políticas como Mônica Seixas, Sâmia Bomfim, a Bancada Feminista (Psol); Isis Mustafa (UP) e o professor Gustavo Gaiofato.

Estudantes da USP em manifestação na Avenida Paulista. Foto: Reprodução/Redes Sociais

No fim do dia, a ocupação voltou às ruas de São Paulo. A Avenida Paulista abrigou o ato derradeiro, já no fim da tarde. Com bandeiras, faixas, gritos e, principalmente, estudantes, a mobilização nacional se fez presente na maior cidade do país. Vale ressaltar que o movimento, totalmente pacífico, teve apoio da Polícia Militar e da Companhia de Engenharia de Tráfego para a coordenação do trânsito. Enfim, eles foram ouvidos. Agora é dia 30!