Onda de assaltos na Vila Indiana aterroriza estudantes da USP

Crimes ainda comprometem vida universitária dos moradores. Alunos se mobilizam para solucionar o problema

por João Pedro Barreto

Portão de pedestres da Vila Indiana liga o bairro ao campus do Butantã da USP. Foto: Helen/JC

“Eu estava voltando do bandejão para casa, eram umas 19h40 e eu moro aqui na rua Corinto, que é muito próximo ao portão de pedestres da Vila Indiana, não chega a ser dois minutos andando da minha casa até o portão da USP. Eu já estava na porta de casa, indo entrar e uma moto desceu a rua. Tinha dois caras, o que estava na garupa pulou da moto na minha direção e já sacou a arma apontando para mim. Naquele desespero, eu corri para dentro de casa sem pensar. Depois eu percebi que foi uma decisão inadequada para o momento, mas, no desespero, como eu estava no portão, só virei a chave e entrei. Ele não conseguiu pegar nada de mim, mas isso me deixou um trauma gigantesco”, contou Luiz Ricardo, aluno de Geografia da Universidade de São Paulo e morador da Vila Indiana.

Esse relato é apenas um entre dezenas de casos parecidos que vêm acontecendo na Vila Indiana, bairro que fica colado ao campus do Butantã da USP e que abriga centenas de alunos da universidade. Luiz ainda conta que passou meses traumatizado com o caso, precisou de suporte psicológico para conseguir voltar a sair de casa normalmente e, como os assaltos não diminuíram, fica, até hoje, muito atento ao andar pela região que mora.

Segurança pública e violência são temas muito recorrentes na vida do paulistano. São muitos bairros da cidade conhecidos pela falta de segurança e pelo perigo de andar na rua. Nos últimos meses, a Vila Indiana se tornou um desses bairros. “No fim do primeiro semestre eu senti que a coisa começou a ficar bem pesada” relatou Hugo Portelinha, aluno do Instituto de Matemática e Estatística (IME) e um dos representantes da comunidade de moradores do bairro.

Bairro da Vila Indiana fica localizado na Zona Oeste de São Paulo e é tradicionalmente ocupado por alunos da USP pela proximidade com o campus. Imagem: Reprodução

Hugo mora na região desde 2019 e disse que sempre foi um bairro muito tranquilo. Alguns relatos de assalto apareciam de vez em quando, mas que sempre andava despreocupado, mesmo tendo que voltar tarde da noite depois das aulas na faculdade. Atualmente, o bairro é outro e os assaltos acontecem até em plena luz do dia. “A gente ouvia muitos relatos à noite, eram sempre estudantes indo para faculdade ou voltando da aula e se concentravam à noite. Mas nas últimas semanas começou a ter de até de manhã também”, contou Hugo.

Esses assaltos, além de aterrorizarem os estudantes, vêm afetando a vida universitária e a graduação dos moradores. Muitos alunos têm evitado frequentar o campus à noite, vêm trancando matérias no período noturno e deixando de comer nos restaurantes universitários. Além disso, são obrigados a mudar suas rotas para voltar para casa, com medo dos assaltos, gastando mais dinheiro com passagens ou com aplicativos de transporte.

A fim de tentar resolver o problema, os moradores da região que frequentam o campus se organizaram por meio de grupos no whatsapp para cobrar das autoridades uma solução. O primeiro passo dado pela comunidade foi realizar um abaixo assinado por segurança na Vila Indiana, que seria levado às autoridades competentes. Com o lema “Segurança também é permanência”, o abaixo assinado angariou cerca de 400 assinaturas.

Abaixo assinado realizado pelos moradores da Vila Indiana que circulou pela comunidade da USP. Imagem: Reprodução

Após o abaixo assinado, o grupo de moradores conseguiu uma reunião com a subprefeitura do Butantã, onde descobriram que o abaixo assinado não possuía valor legal, mas receberam orientações de como prosseguir com o caso. “Na reunião com a subprefeita, ela deu três dicas para gente: fazer uma reunião dos B.O’s que aconteceram na região, para fazer uma solicitação por meio da subprefeitura para a polícia; fazer um novo abaixo assinado, desta vez com dados oficiais para que tenha valor legal; e ela indicou que fossemos na reunião do Conseg, o Conselho de Segurança do Butantã” relatou Hugo.

Na reunião do Conseg, o mestrando conta que os alunos conseguiram contato direto com os chefes de polícia e da Guarda Comunitária Municipal (GCM), os quais prometeram a eles que resolveriam o problema. Todavia, até o momento, ainda não houve muito resultado. “A gente notou que aumentou um pouco a ronda, mas não vimos muita solução”, complementa.

Apesar dos assaltos acontecerem quase em sua totalidade do lado de fora do campus, os alunos da USP que moram na Vila Indiana enxergam que também há responsabilidade da universidade na solução do problema. “A prefeitura do campus não pode fazer nada do portão para fora, por isso que a gente foi atrás de autoridades de fora do campus. Mas eu sinto que se tivesse uma pressão na USP, essa pressão também cairia na polícia, até porque é obrigação da USP garantir segurança para os alunos”, afirmou Hugo.

Questionada sobre o assunto pelo Jornal do Campus, a Superintendência de Prevenção e Proteção Universitária (SPPU), órgão responsável pela segurança do campus, afirmou ter conhecimento do problema e que já se movimenta para ajudar na solução. “Já estamos tomando providências, aproximando as viaturas da GU (guarda universitária) e também da polícia comunitária. Já fizemos uma reunião com os dois comandantes da PM da região para tratar do assunto e temos uma reunião agendada com os dois comandantes, a ouvidora e alguns centros acadêmicos para traçar planos internos e externos”, disse a SPPU. 

Além disso, o órgão prometeu mudanças na passagem de pedestres da Vila Indiana que trariam mais segurança para os frequentadores do campus. “Já acertamos com a nossa prefeitura (prefeitura do campus) e a SEF (Superintendência do Espaço Físico) para derrubarmos os muros das portarias e colocar grades metálicas, colocar postes de iluminação, uma pequena praça interna e aumentar o número de câmeras dos locais, o que aumentaria a visibilidade”, completou. 

Os esforços para que o problema seja solucionado continuam por parte da comunidade de moradores, já que ainda não enxergaram grandes mudanças na segurança do bairro. “A gente vai se concentrar no abaixo assinado e espero que isso ajude de alguma forma. Eu sinto que a gente ainda não teve o nosso problema atendido, nada concreto foi feito, mas espero que saia coisa boa de todo esse nosso esforço” finalizou Hugo.