USP no Aranhaverso

As aranhas fazem parte do convívio uspiano, por isso é importante saber como lidar e quais os riscos que elas proporcionam

por Júlia Castanha

Aranha na vegetação da USP. Foto: Ana Carolina Ferreira Guedes

Enquanto na ficção a picada de uma aranha dá superpoderes ao homem, na vida real as coisas são diferentes. E se você frequenta os campus da USP, provavelmente já se deparou com enormes teias espalhadas e até pode ter se encontrado com a dona delas. Mas será que elas são perigosas para nós? Como o Instituto Butantan faz o controle das espécies? O que fazer em caso de picada? O Jornal do Campus conversou com o professor e aracnólogo Antônio Brescovitti para responder a essas e outras perguntas sobre o mundo das aranhas dentro da USP. 

Quantas são?

A quantidade de espécies de aranhas nos campus da USP é desconhecida, pois ainda não foi feito um mapeamento da região para identificá-las. O professor Antônio afirma que é do conhecimento do Instituto, a existência de, pelo menos, 40 famílias (no mundo, existem aproximadamente 130). 

Esse dado vem dos registros realizados por coletas feitas pelo Instituto, por curiosos e por trabalhos de pesquisa sobre aranhas sinantrópicas e que deram origem à uma coleção. “O número de espécies conhecidas até agora, supera  50 . Algumas são esporádicas, outras são bem comuns. Mas até hoje não fizemos um levantamento de todas elas. Mas certamente chegaria a 60, 70 espécies ”, afirma o professor.

Aranhas Sinantrópicas?

Acredita-se que circulam todo dia no campus do Butantã cerca de 100 mil pessoas (2015, USP). Mas isso não impede que lá tenha uma fauna tão rica e diversa. No caso das aranhas, isso se dá porque a maioria das espécies são sinantrópicas, ou seja, se adaptaram a viver junto com o ser humano. Por isso vemos elas (ou suas teias) nos pontos de ônibus, prédios e até salas de aula. 

“A presença de aranhas se dá por animais urbanizados, que dentro desse grupo, o qual conhecemos, tem pelo menos 15 espécies que são introduzidas aqui no Brasil e  não saem das áreas urbanas. A maioria delas não consegue viver no mato, então elas ficam em volta do prédio, no ponto de ônibus. A  fauna mais autóctone, ou aquela que era mais comum quando era tudo área de mata aqui, fica mais restrita ao que sobrou de vegetação”, explica Antônio.

Então, quando temos vegetação, também teremos aranha. Pois para sobreviverem, elas precisam de suporte, como a mata da USP, e algo que atraia os insetos – o alimento delas –, e como na USP tem bastante lâmpada acesa, o lugar fica propício para elas viverem e se reproduzirem.

Teias de aranha em placa de trânsito na USP. Foto: Diogo Bachega/Jornal do Campus

O que faz elas sumirem periodicamente?

Depois das férias de julho, reparando nos prédios e construções do campus, é possível notar que a quantidade de teias diminuiu. O professor Antônio explica que isso pode ser por dois motivos: limpeza em excesso e espécies sazonais. “Se limparmos todos os dias o ponto de ônibus, não terá mais teias, pois elas demoram um tempo para se restabelecer. Além de tirarmos junto os filhotes e as ootecas. Por isso, tão cedo elas não voltarão, pois acabaram com aquela população.” 

Além disso, a maioria das espécies é sazonal, ou seja, em uma época do ano é muito comum vermos, mas depois de se reproduzirem, elas morrem. Os filhotes se desenvolvem no período seguinte e depois as vemos novamente como adultas fazendo as teias. Um exemplo, é a Trichonephila clavipes, que são aranhas grandes e fazem teias bem grandes. Elas são comuns em quase todos os pontos de ônibus da USP e embora o tamanho assuste, o professor reforça que elas são inofensivas. As Nephilingis cruentata e Pholcus phalangioides, também são comuns e grandonas, mas por serem introduzidas, não são sazonais.

O professor também complementa que no período das chuvas é mais difícil vermos as aranhas, assim como a maioria dos animais, pois eles ficam mais parados e escondidos.

Filhotes de aranha fazendo teia em grade na USP. Foto: Diogo Bachega/Jornal do Campus

Elas são perigosas?

Provavelmente, a pergunta que mais passa pelo pensamento quando vemos aquelas teias gigantescas. Antônio explica que na USP ocorre as mesmas espécies perigosas que podemos encontrar em outros lugares de São Paulo. Podemos citar a Loxosceles gaucho (aranha marrom), Phoneutria nigriventer (aranha armadeira) e Latrodectus doméstica, como as venenosas mais comuns no estado e na USP. 

Contudo, a quantidade de indivíduos de cada uma é muito baixa e por isso, é muito difícil ocorrer acidentes com alguma delas. O professor conta que faz muito tempo que não há casos na faculdade. 

“Até temos alguns casos de picada de escorpião amarelo, mas não de de aranhas. Até porque uma armadeira é muito grande, ela gosta de uma área bem arborizada, então dificilmente ela vai sobreviver nesses outros lugares da USP. A Loxosceles já é menos exigente. Mas não temos recebido há algum tempo material. A possibilidade é que esses bichos tenham uma população muito baixinha, e por isso não estão incomodando, ou então, realmente sumiram dali.”

Fui picado, o que fazer?

O Hospital Vital Brazil, foi fundado em 1945, com foco no atendimento a pacientes picados por animais peçonhentos. “Caso ocorra um acidente, especialmente na USP, tem o Hospital Vital Brasil aqui dentro. Inclusive, ele tem plantão 24 horas. Então, se acontece um acidente aqui, é muito rápido para a pessoa procurar socorro. No hospital tem tudo: atendimento médico, soro — se houver necessidade, porque às vezes não há necessidade, dependendo do animal. Quem está aqui pertinho, de certa forma, está tranquilo.”, conta o professor.

O Instituto Butantan trabalha com o Whatsapp com os médicos de São Paulo. Então, em caso de acidentes, para evitar o deslocamento, é só enviar uma foto visível do animal e contar os sintomas, que eles vão identificar a espécie e te instruir sobre o melhor tratamento. O professor Antônio ainda reforça que o fato das pessoas quererem sempre tirar foto promove mais informação e ajuda no processo de mapeamento e identificação das espécies. 

Apenas 5% das espécies de aranha são perigosas, as outras 95% são inofensivas. Na USP, praticamente todas se enquadram nesse último grupo. Vale ressaltar que algumas espécies podem causar com suas picadas uma leve irritação na pele – nenhuma vai te dar super-poderes.

Instituto Butantan on Twitter: "Fundado em 1945 o Hospital Vital Brazil é o  único do país especializado em acidentes com animais peçonhentos. Veja 👉  https://t.co/BUZ3agpWV2 https://t.co/9AvQD8LWMU" / Twitter

Hospital Vital Brasil. Foto/Reprodução: Twitter @butantanoficial