Voto em branco não é opção democrática neste segundo turno

No próximo dia 30, não cabe omissão: seu voto pode definir o futuro do país e da USP

por Gabriel Gama

imagem de urna eletrônica
Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Tradicionalmente, o voto em branco surge em uma parcela do eleitorado que não se vê representada por nenhum dos candidatos em disputa e, assim, opta por não depositar seu voto em nenhum partido.

Seja na corrida presidencial entre Lula e Bolsonaro, seja na estadual entre Haddad e Tarcísio, não há como reverter o fato de que um dos candidatos irá obrigatoriamente assumir o poder — os cenários do segundo turno de 2022 estão definidos. Podem não ser os candidatos do seu agrado, caro leitor, mas não é possível mudar isso.

E o futuro do Brasil, de São Paulo e, de forma inevitável, da USP, será definido no próximo domingo.

Momento de decisão

É compreensível que o eleitorado esteja dividido em uma guerra de rejeição, entre a desconfiança no governo de Lula e a aversão ao bolsonarismo.

Porém, não é razoável dizer que se trata de uma polarização, como insiste uma parte da mídia e da população.

Se a disputa entre Lula e Bolsonaro ou Haddad e Tarcísio fosse polarizada, ambos os candidatos apresentariam propostas de governo radicais, o que poderia justificar a indecisão ou a preferência por anular o voto.

Essa não é uma tese válida. O extremismo ideológico não está presente em ambas as candidaturas.

Basta olhar o passado: ao longo dos 14 anos que o Partido dos Trabalhadores governou o Brasil, nunca houve tentativas de desmonte de universidades, instituições e órgãos públicos, ameaças concretas ao Estado Democrático de Direito, ataques sistemáticos à imprensa, ampla militarização do governo, projeto de interferência no Supremo Tribunal Federal, flexibilização e incentivo ao porte de armas e descompromisso com a saúde pública e a fiscalização do meio ambiente.

Tudo isso foi feito no governo de Jair Bolsonaro. Os fatos estão documentados e as atrocidades humanitárias, econômicas e institucionais cometidas nos últimos quatro anos, especialmente durante a pandemia, estão cristalizadas na memória de cada um, ou ao menos deveriam estar.

Há uma seríssima resistência por parte da imprensa em reconhecer o bolsonarismo como o que ele de fato é: um movimento da extrema-direita. São raras, senão inexistentes, as associações feitas nos grandes veículos entre o bolsonarismo e os elementos que identificam a extrema-direita.

A extrema-direita, portanto o bolsonarismo, mata a democracia. O nazismo, de extrema-direita, financiou o Holocausto e o assassinato em massa de milhões de judeus, e mesmo esse passado nefasto não é suficiente para suprimir investidas extremistas. Figuras como a de Roberto Jefferson, aliado de Bolsonaro que atacou agentes da PF com tiros de fuzil e granada no último domingo, não são compatíveis com o exercício da democracia. A disseminação em massa de fake news por bolsonaristas ameaça a democracia — “uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”, lema da propaganda nazista de Goebbels.

Lula não representa “ameaça comunista” e tampouco é de extrema-esquerda. Se o fosse, não receberia o apoio de tantas personalidades influentes no cenário nacional como está recebendo.

A começar por Geraldo Alckmin, adversário histórico do PT em eleições e hoje vice na chapa de Lula.

Simone Tebet, terceira colocada no primeiro turno e que mergulhou de cabeça na campanha do petista.

Marina Silva, que permaneceu afastada de Lula por anos e também integra sua campanha.

João Amoêdo, liberal e fundador do Partido Novo, que apoiou Bolsonaro no segundo turno de 2018 e hoje defende a eleição de Lula para “proteger a democracia”.

Miguel Reale Jr., autor do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, que declarou voto em Lula para “impedir o obscurantismo”.

E a lista continua: economistas do Plano Real, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o tucano José Serra (também adversário histórico do petista), a herdeira do Banco Itaú Maria Alice Setúbal, entre muitos outros.

Diante de tantos apoios, cabe a reflexão: será que todas essas pessoas e os mais de 57 milhões de eleitores que depositaram voto em Lula no primeiro turno são petistas?

A resposta é não.

Há, de fato, pessoas que desde sempre se identificaram com as propostas do PT e são fiéis ao partido. Mas é certo que nesse contingente de milhões de apoiadores há pessoas que teclaram o número 13 pela primeira vez na vida no último dia 2, ou até mesmo que votaram em Bolsonaro ou anularam o voto em 2018 e neste ano repensaram suas decisões.

E por qual razão? Pois reconhecem que o momento pede respeito à democracia e responsabilidade na administração do país, atributos que não pertencem a Bolsonaro ou a Tarcísio, que sequer conhece o estado que pretende governar ou tem propostas em seu plano de governo para a USP, maior universidade do Brasil.

O momento é, sobretudo, de decisão. Momento de deixar o antipetismo de lado e reconhecer que Lula e Haddad são as únicas lideranças democráticas viáveis nestas eleições, na esfera nacional e estadual. É o momento de se posicionar pelo bem de toda a população, nem que seja para fazer oposição ao governo petista no dia 1º de janeiro. É a decisão de que país queremos construir para as próximas décadas: um Brasil democrático e que prevê diálogo com a oposição ou autoritário e sem abertura a tudo que escapa do bolsonarismo?

Não é momento de se ausentar do pleito. A neutralidade não deve ser motivo de orgulho: é omissão com a democracia.

Gerações inteiras de brasileiros estão votando com esperança de um futuro menos catastrófico e mais diplomático e comprometido com o bem-estar do país. A História julgará aqueles que se mantiveram neutros quando a democracia brasileira e a USP estavam em risco, e o Jornal do Campus também.