O que dizem as paredes da USP?

Diariamente, deixam-se marcas e ignoram-se outras

por Ana Júlia Maciel

Fotos: Ana Júlia Maciel/JC

Nomes, cartazes e rabiscos. Qualquer caminho que se faz no campus, dá-se de cara com centenas, talvez milhares, de formas escritas ou coladas pelas paredes, postes ou portas. Na maioria das vezes, ilegíveis ou não entendíveis, elas passam despercebidas. 

Escolas e universidades sempre estão repletas de traços espalhados, aleatoriamente, pelo espaço. Os registros acontecem como uma forma de reafirmação de presença, mas mais que isso: “A pichação, em grande parte, é puro ‘rabisco’. Mas é um ‘rabisco’ carregado de significado, principalmente por parte de quem picha. E também por parte do outro, que saberá, de uma forma ou outra, qual é a mensagem que o autor quis passar. Seja um protesto, seja uma demarcação de território, seja a pura e simples diversão e adrenalina que a produção de pichação causa”, comenta Rodrigo Barchi, doutor em Filosofia da Educação pela Unicamp. 

Às vezes, o rabisco serve apenas pra dizer que esteve

Que é

E reafirmar quem realmente pode ser 

Se fazer entender não é sempre a intenção do autor. “Por isso elas [pichações] são intensamente políticas, pois nos obrigam – nós, não pichadores – a tentar dialogar com uma linguagem completamente distinta da nossa, e que às vezes está reivindicando o mesmo que nós”, conta o professor. 

Os traços falam pra muitos

Também falam pra poucos

E pra todos

Intervir no espaço público surge da vontade de se manifestar. A introdução às belas artes, forma conceituada de expressão, se concentra nas classes mais altas da sociedade. Assim, as camadas com menor poder aquisitivo produzem uma “contra arte”, que exterioriza seus sentimentos como a arte elitizada, ou até mais. “É o que o punk e o rap, nas devidas proporções, fazem com a música ”, diz Barchi. 

Uma janela de vidro é capaz de separar um ato e uma potência?

O que fica pra fora é resistência

“O que o pichador faz ao escrever mensagens, na maior parte, incompreensíveis à maioria, não é comunicação. É resistência, é fuga, é dar outro sentido ao espaço, à paisagem, à palavra e ao ambiente”, é o que conta o professor. Escrever algo em um muro, uma tela pública, não necessariamente tem o vínculo com o próximo. Às vezes, expor é mais privado do que se calar.

Exposto para todos

Ecoando por dentro