Do blockbuster ao “filme cabeça”: Cinusp apresenta seleção eclética para calouros

Mostra “Para Gostar de Cinema” trouxe para os novos alunos da USP uma diversificada seleção de filmes a aqueles que desejam se aprofundar na sétima arte

por Fernando Cardoso

Foto: Ana Beatriz/JC

Em busca de novos entusiastas do cinema, o Cinusp Paulo Emílio, um projeto de cinema público e gratuito dentro do campus da Universidade de São Paulo (USP), realizou uma mostra no início do ano letivo para atrair os alunos recém-chegados para a frente das telonas, com uma seleção de filmes diversa e pouco convencional.

A mostra “Para Gostar de Cinema” ocorreu entre os dias 20 de março e 08 de abril, abrangendo justamente as primeiras semanas do ano letivo da USP, e levou à nova audiência um selecionado de quinze obras de diferentes gêneros e países, uma dose do que a sétima arte tem a oferecer em sua totalidade.

“A mostra oferece um conjunto eclético de filmes, de países, épocas e estilos diferentes, com a ideia de estimular a variedade de identificações possíveis. Filmes que brincam com as convenções de gênero, extrapolando essas convenções” afirmou Esther Império Hamburger, professora da disciplina História do Audiovisual na Escola de Comunicação e Artes (ECA-USP).

Entre os escolhidos, estavam filmes de diretores norte-americanos clássicos, como Alfred Hitchcock e Martin Scorsese, obras brasileiras, documentários e outros longa-metragens que dificilmente seriam possíveis de assistir fora das duas salas de cinema do projeto, uma na Cidade Universitária e outra na rua Maria Antônia, no centro universitário homônimo.

Seja um blockbuster ou um filme soviético do século anterior, o objetivo do Cinusp foi trazer uma mostra profunda o suficiente para fazer o espectador refletir e conhecer diferentes mundos dentro do cinema. “Conhecer cinemas diferentes pode ser muito enriquecedor.  Ao relativizar nosso conhecimento, sugerem possibilidades éticas, estéticas, lúdicas”, explica a professora. “Um blockbuster pode ser muito complexo. Um filme hermético também pode ser muito complexo. Se o filme despertou alguma inquietação, se nos sensibiliza de alguma forma, podemos pesquisar sobre ele.”

A oportunidade de assistir a um filme diferente e gratuito fez com que as sessões da mostra tivessem sempre capacidade próxima do total. Calouros visando acumular suas primeiras experiências como universitários lotaram as salas. Foi praticamente impossível acompanhar algum filme sem chegar com muitos minutos de antecedência.

Foto: Ana Beatriz/JC

“Os filmes que são escolhidos você não consegue encontrar de forma fácil em um cinema de shopping ou em serviços de streaming”, conta Giovanna Pereira, uma caloura da ECA-USP. “Há o conforto para assistir, apenas tendo que se deslocar na universidade e sem pagar nada.”

A experiência certamente não é de um cinema convencional. Se em um cinema comum o silêncio é cultuado, no Cinusp as cenas cômicas leves se tornam grandes gargalhadas e passagens polêmicas geram manifestações sonoras e comentários espontâneos. O público se une e interage como se estivesse diante de um grande debate.

“Eu diria que é uma ótima oportunidade de ver um filme que te interessa em uma tela grande, de graça, e ainda poder conversar sobre o filme com as pessoas que você conhecer lá”, afirma Gabriela Cecchin, outra caloura da ECA-USP que teve a oportunidade de conferir um filme da mostra.

Além dos filmes, a mostra também promoveu atividades interativas para o público. Em uma sessão, os alunos puderam votar em qual obra de animação deveria ser projetada. Em outra, os universitários participaram de um quiz sobre os filmes da mostra, com prêmios para os principais vencedores da noite.

A seleção de filmes também serviu como uma espécie de preparação para o resto do ano. Normalmente, as mostras do Cinusp são monotemáticas e trazem um catálogo mais integrado.

A mostra atual, por exemplo, traz como foco o Novíssimo Cinema Brasileiro, um movimento do cinema contemporâneo que contém filmes com temáticas sociais relevantes e acenam para técnicas de alguns dos períodos de maior sucesso na história da arte no país. Uma oportunidade para tentar criar uma nova demanda pelo produto audiovisual brasileiro.

“Os filmes brasileiros já foram muito populares e podem voltar a ser. Hoje, em sua maioria, circulam pouco, são prejudicados na produção e na distribuição e o pouco contato entre cineastas e público não ajuda a turbinar produções. Mas o cinema brasileiro conta com a vantagem de falar português”, conclui a professora.

A mostra Novíssimo Cinema Brasileiro está em cartaz até 30 de abril, com duas sessões diárias de segunda à sexta na sala da Cidade Universitária, e duas sessões diárias aos fins de semana na sala do Centro Universitário Maria Antônia.