Dirigentes apontam festas menos rentáveis pós-pandemia e queda de receita por falta de apoio das Unidades
Por Alex Amaral, Davi Caldas e Guilherme Ribeiro*

Com festas menos rentáveis, menor verba e mais dificuldades, as atléticas da Universidade de São Paulo têm enfrentado dificuldades financeiras que ameaçam a sobrevivência das equipes esportivas. A pandemia de Covid-19 interrompeu as principais formas de arrecadação — como eventos e campeonatos — e muitas ainda não conseguiram se reestruturar, ainda mais sem o apoio institucional da Universidade em sua maioria. O resultado é sentido diretamente pelos atletas, que sofrem com falta de materiais, comissão técnica insuficiente e espaços inadequados para treino.
Renata Hayashi, presidente da atlética da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), conta que o cenário de festas foi moldado diretamente com a realidade pós-pandemia: “Em 2022 tivemos um estouro nas festas, devido ao pessoal que estava a fim de voltar a sair depois do isolamento social”. No entanto, o bom cenário durou pouco: “A partir de 2023 a adesão às festas voltou a cair”. Renata suspeita que a queda seja por conta de um perfil diferente de ingressantes da faculdade, composto por pessoas “menos entusiasmadas” com esses eventos.
Matias Prata, vice-presidente da atlética da Faculdade de Economia e Administração (FEA), corrobora com a versão de Renata. Ele explica que, ainda que o número de festas pré e pós-pandemia seja o mesmo, a baixa adesão do público afeta diretamente as atléticas, pois o dinheiro captado com os eventos é uma das principais fontes de arrecadação das associações.
A crise escancarou uma desigualdade histórica entre as atléticas: enquanto algumas, ligadas a cursos mais tradicionais ou com maior apelo comercial, conseguem se reinventar via patrocínios, outras dependem majoritariamente do esforço dos estudantes. Além disso, mudanças no perfil socioeconômico dos universitários afetam o engajamento em atividades extracurriculares e a disposição de financiar coletivamente os esportes.
“O esporte universitário demanda muito dinheiro, e poucos sabem disso”, diz Renata. Ela explica que as atléticas enfrentam desafios para bancar modalidades que exigem materiais, reservas de espaços e inscrições. Apesar da vontade de cobrir todos os custos, a realidade financeira obriga os atletas a arcar com parte das despesas.
Prejuízo irreparável
Na Escola de Comunicações e Artes (ECA), a situação é mais complexa. Em 2019, a atlética vendeu todos os ingressos da FestECA — seu principal evento —, mas uma falha na documentação do espaço causou um prejuízo estimado em R$40 mil. A devolução dos ingressos e a perda do investimento deixaram a atlética sem recursos para apoiar os times desde então.
“Quando eu entrei na diretoria, o caixa estava baixo. Não conseguíamos trabalhar com quase nada. Foi bem complicado”, relembra Jade Villar, ex-diretora financeira da atlética da ECA. Com a pandemia, a situação piorou: sem festas nem grandes eventos, a principal fonte de renda secou. “O que realmente dava certo era promover eventos. Era o que salvava o caixa”.
A situação afeta também os alunos da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE), como explica Lucas Baioni, atleta de futebol e ex-vice-presidente da atlética da unidade: “Não há nenhum suporte da atlética”. Ele cita alguns dos custos do futebol de campo: “São R$ 420 de arbitragem por jogo, R$ 140 para reservar o campo no CEPE por treino, além de materiais como bolas, que precisam ser repostos”.
Para contornar a situação pós-pandemia, as atléticas buscam alternativas como rifas, vendas de produtos — opção adotada também durante o período de distanciamento social — e, claro, as festas. “Estamos aqui pelo esporte, não para fazer festa. Tudo é pensado em arrecadar para os times”, afirma Renata, reforçando o compromisso com o esporte diante da má fama de que atléticas só se importam com a realização de eventos.
“O esporte universitário demanda muito dinheiro, e poucos sabem disso”
Renata Hayashi, presidente da atlética da EACH
Baixa adesão
A história parece se repetir quando se trata de atléticas de outras unidades: a penúria se soma à baixa procura pelo esporte. “Temos sempre que implorar para pessoas que nunca jogaram nenhum esporte na vida”, comenta Manuela Varanda, vice-presidente da atlética do Instituto de Psicologia (IP). Essa baixa adesão prejudica não só a prática esportiva, mas também as finanças da atlética, pois grande parte dos torneios esportivos costumam cobrar multas quando o número de atletas em um jogo é insuficiente.
Para contornar a situação, a associação busca ajudar os times através de vendas de produtos em festas. Com o que arrecadam, ela comenta: “Tentamos auxiliar ao máximo com inscrição dos atletas em campeonatos. A cada competição, temos um planejamento para pagar metade do registro dos times e a outra metade fica por conta deles”, acrescenta Manuela.
Apoio Essencial
A cultura de apoio interno de algumas atléticas auxiliou na sobrevivência das entidades esportivas. Cassiano Garcia, tesoureiro da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) na gestão de 2020, conta que as equipes recebiam suporte financeiro da atlética: “Os times arcam com parte de seus custos através do valor arrecadado na caixinha (mensalidade). Mas existe também um valor que recebem da atlética, que chamamos de repasse”.
Além da ajuda mensal, Matias Prata confirma que a atlética da FEA ainda se compromete a pagar, por modalidade, até duas inscrições em campeonatos semestralmente. “Considerando esses gastos, uma iniciativa que temos é usar a Lei do Incentivo ao Esporte*, os fundos patrimoniais da própria faculdade e a prospecção de patrocínios”, afirma.
No caso de ajuda institucional, algumas unidades contam com esse privilégio. É o exemplo do IP, que recebe apoios perto dos campeonatos interatléticas. “Nós costumamos receber ajuda monetária às vésperas dos torneios que acontecem fora da capital. Dessa forma, conseguimos ter auxílio com os maiores gastos, como o fretamento dos ônibus”, afirma João Haick, atual presidente da atlética do Instituto de Psicologia.
NOTA DE RODAPÉ – Lei de Incentivo ao Esporte (LIE) – permite que recursos provenientes de renúncia fiscal sejam aplicados em projetos das diversas manifestações desportivas e paradesportivas distribuídos por todo o território nacional.
*Com edição de Júlio Silva