Bom jornalismo precisa estar acessível

Mateus Netzel*

Ao aceitar o convite para escrever esta coluna, recebi a última edição a ser avaliada em PDF, e não como um link para o site, como esperava. Curioso, logo fui atrás das edições anteriores para saber o que escreveram os que me antecederam neste espaço.

Tomei um susto ao acessar a homepage do- Jornal do Campus e ver que não trazia nenhum texto da última edição nos destaques principais. O bloco chamado “Em alta” apresentava a agenda de eventos culturais de julho de 2023. Só no terceiro bloco de notícias apareciam as chama- das para as publicações da edição mais recente.

Encontrei o índice de edições anteriores ainda menos atualizado. A mais recente é de junho de 2023. Esse descuido com o principal meio de acesso do leitor aos conteúdos já publicados no JC invalida muito dos esforços dos alunos jornalistas. O bom jornalismo está calcado na relevância e no interesse público. E não há dúvida quanto à relevância dos temas abordados na última edição do JC.

A equipe foi muito feliz na seleção das pautas. Todas abordaram temas importantes para a comunidade da Universidade de São Paulo (USP). As reportagens sobre os preços de moradia no entorno da Universidade, a presença do comércio informal no campus, os casos de violência e problemas de acessibilidade trouxeram um mix equilibrado de informações objetivas e relatos de entrevistados.

Mesmo as pautas mais leves trouxeram informações interessantes, como o hábito de leitura dos uspianos e a tradição da ceia de Natal na mo- radia universitária.

A reportagem principal, sobre o Hospital Universitário, abordou pontos críticos como a falta de funcionários e as restrições à comunidade do entorno da USP. Sofreu por não ter conseguido entrevistar algum funcionário mais graduado, que pudesse explicar melhor as dificuldades do ponto de vista da administração.

No entanto, tudo isso ficou à disposição de poucos leitores por um curto período na versão impressa e agora só está disponível para os muito determinados a vasculhar o site ou os sistemas de busca.

O bom jornalismo precisa estar acessível para ser relevante. Desconheço os números de acesso online e de tiragem impressa do JC. Mas suspeito que as reportagens serviriam muito melhor à comunidade USP se divulgação nos meios digitais fosse feita com mais cuidado.

Restringir o acesso ao JC à sorte de trombar- com uma pilha de exemplares espalhados pelo campus é um desperdício do bom trabalho realizado pela equipe. Perdem os alunos, perde o jornalismo e, principalmente, perdem os leitores.

*Jornalista formado pela USP e diretor-executivo do jornal digital Poder360.