Cantora, compositora e recém-formada em Geografia pela USP reflete sobre música, universidade e política; leia e ouça a entrevista
Por Gabriel Silveira, João Pedro Abdo e Mariana Rossi






Cantora, compositora e ex-aluna do curso de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, Sophia Chablau tem 24 anos e um trabalho musical bastante reconhecido pela crítica e pelo público. Em 2023, ela lançou dois álbuns de inéditas com suas duas bandas: Besouro Mulher, que também conta com os músicos Arthur Merlino, Bento Pestana e Vitor Park, e Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, formada em parceria com Téo Serson, Theo Ceccato e Vicente Tassara.
A história de Sophia na música já tem capítulos almejados por qualquer veterano. Uma indicação ao prêmio de Artista Revelação da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), uma menção pela revista musical Spin e uma parceria com o músico e professor José Miguel Wisnik são alguns dos fatos que valem ser destacados.
Além de sua carreira musical, Sophia é um show à parte. Teve um papel de destaque nas ocupações secundaristas que tomaram conta do Brasil em 2016, momento no qual foi sendo rebatizada com o sobrenome que lhe acompanha até hoje: Chablau – referência ao bordão do cozinheiro da série Larica Total, híbrido de programa humorístico e de gastronomia. Romântica, ela acredita na universidade pública e adora cinema.
O Jornal do Campus (JC) conversou com Sophia sobre música, filmes, Geografia, movimento estudantil e muito mais. Além do texto, a entrevista está disponível em formato de podcast e pode ser ouvida no player abaixo:
O som de Sophia



JC: Em 2023, a USP ficou semanas parada por causa da greve pela contratação de professores e melhora nas políticas de permanência estudantil. Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo se apresentou no Grave na Greve, um festival que rolou durante a mobilização. Como foi tocar no Vão da FFLCH?
Sophia: Foi maravilhoso! Eu queria ter feito isso antes. Eu já tinha tocado na USP, em vários lugares, mas o Vão é demais. Também fiquei muito feliz com os bons resultados da greve. Foi legal participar disso tudo com a música. Eu tenho dificuldade de conciliar minhas vontades mais revolucionárias com o meu trabalho. Então, ter somado dessa maneira me deixou muito feliz. Foi um dia iluminado. Até me joguei na roda punk!
JC: Falando de outro VÃO, que é o nome do último álbum do José Miguel Wisnik. Como foi participar desse trabalho e fazer parceria com o Wisnik, que além de um artista importante para a música brasileira, também é professor de literatura na FFLCH?
Sophia: O Zé Miguel é uma grande figura na minha vida. Além dele ser um gênio da música – não sei se ele gosta de ser chamado de gênio, mas para mim ele é totalmente um gênio –, tanto escrevendo como produzindo, ele é um cara do pensamento. No estúdio, ele foi extremamente entusiasta das ideias e me deu espaço para falar o que eu estava achando do som. A Zahy Guajajara gravou depois e tem a letra do Guilherme, filho do Zé Miguel, que também é professor da USP. Quando eu ouvi a música pronta, achei demais. Já ouvi algumas vezes, mas para mim não parece que é real, porque eu sou muito fã.
JC: A música sempre esteve na sua vida e foi tendo cada vez mais importância. Então, por que fazer faculdade em outra área e por que especificamente a Geografia?
Sophia: Eu tentei fazer faculdade de música, mas foi uma catástrofe e reprovei em todas as matérias. Na Geografia foi assim também, sempre fui muito mal, mas eu gosto de geografia desde que eu me conheço por gente. Ela é o grande tesão da existência humana, porque é o estar no espaço. Em qualquer lugar, todo mundo entende geografia, você tem que saber onde você tá, o porquê você está lá.
Mas eu ia trancar esse curso também. Eu pensava: “não tenho capacidade, estou bombando em tudo, não me sinto bem nesse lugar”. No dia que eu estava enviando os documentos para trancar, no meio da pandemia, chegou a lista de aprovados na Iniciação Científica e eu fui aprovada em último lugar. Aí não larguei o curso e me formei. Então se tem uma coisa que eu acredito é em permanência, porque foi a bolsa que me fez ficar. Óbvio, tem gente que precisa de permanência para comer, para moradia, mas também, na universidade a gente leva tanta rasteira, que às vezes você precisa de um incentivo para continuar.
JC: Além da graduação, como você vive a USP?
Sophia: Eu já tive, como na canção, várias Idas e Vindas do Amor com a USP. Mas agora, tenho me sentido muito bem aqui. Eu acho que a universidade tem passado por muitas mudanças, principalmente, depois das cotas. As pessoas estão vivendo o campus de uma forma diferente, se apoderando mais do espaço.
Eu gosto muito de cinema. É uma coisa pela qual me apaixonei recentemente, porque a minha namorada trabalha com isso e também porque fiz uma cirurgia no ombro. Eu não conseguia tocar, desenhar, escrever, então ficava vendo filmes. Eu já gostava muito da programação do Cinusp, mas depois dessa imersão no cinema, comecei a frequentar bastante tanto a sala do Campus da Cidade Universitária quanto a sala de cinema da Maria Antônia. Não existe cinema de rua perto da minha casa, então gosto de vir aqui na USP.
JC: Como você vê o movimento estudantil universitário?
Sophia: O movimento estudantil universitário tem mudado bastante nos últimos anos. Confesso que depois de ter participado das ocupações em 2015, não me envolvi com muita coisa. É uma autocrítica, porque deveria ter me envolvido mais. Eu acho que o movimento estudantil universitário é muito necessário, mas me incomoda um pouco uma certa tendência à repetição dos discursos. Eu gosto muito quando vejo discursos diferentes, porque eles arejam o movimento. Existe também uma coisa um pouco “pavônica” em algumas assembleias.
Eu acredito em outras organizações. Por exemplo, o Emancipa, um movimento de educação popular, que faço parte sendo professora de geografia e coordenadora de um cursinho. Sinto que ali [no Emancipa], consigo perceber o discurso sendo um pouco mais arejado. Essa é a minha única crítica, porque o movimento estudantil é muito necessário. Acredito em permanência e que a universidade deve ser para todos. Mas o movimento estudantil universitário afastou muitas pessoas e me afastou também. Eu apoio todos os movimentos, mas eu sinto que a dinâmica do movimento estudantil tem que ser mais democrática.