Alina Dumas: “Foi uma sensação de que deu certo”

Estudante da Faculdade de Medicina da USP representou o Brasil remando nos Jogos Paralímpicos de Paris

Foto: Alessandra Cabral/CPB

Por Nícolas Dalmolim*

Alina Dumas, 31, passa seis manhãs por semana na raia olímpica da USP. De segunda a sábado, a atleta do Corinthians rema cerca de 12 km por dia, o equivalente a mais de metade da extensão da Marginal Pinheiros, ao lado. Nas últimas semanas, ela se afastou das águas do Butantã, na zona oeste de São Paulo, para abraçar uma missão inédita: estar no time brasileiro dos Jogos Paralímpicos de Paris.

A uspiana é uma das quatro esportistas que representam o país na modalidade PR3 quatro com misto (PR3 Mix4+). A categoria é reservada a remadores paralímpicos que apresentam limitação motora, mas conseguem utilizar tronco, braços e pernas na disputa. Ela é a única aluna da USP a participar dos Jogos, de acordo com a comunicação institucional da Universidade.

Em entrevista ao JC, Alina contou sua reação com a classificação da equipe brasileira no Qualificatório disputado na Suíça, em maio: “Eu fiquei um pouco em choque, eu não sabia muito o que fazer”. O país ficou em 2° lugar, atrás apenas da Itália, o que permitiu a participação da esportista nas primeiras Paralimpíadas de sua vida.

Além da atleta, os brasileiros que competem na modalidade PR3 quatro com misto são os remadores Priscila Barreto, Erik Lima e Gabriel de Souza. Quem guia a equipe é o timoneiro Jucelino da Silva, responsável por orientar os atletas sobre a direção do barco e as manobras realizadas.

Naturalizada

Alina nasceu na Argentina e se mudou para o Brasil com a família quando tinha quase 15 anos. Após o Ensino Médio, se graduou em Bacharelado em Ciência, Química e Genética pela Universidade de Toronto. Quando terminou a faculdade, percebeu que precisava escolher se voltaria ou não para a terra natal. “Eu achava que o Brasil tinha bem mais oportunidades de pesquisa, de trabalho, de tudo. Então decidi ir”, afirma Alina. 

Entre 2019 e 2022, a atleta fez mestrado em Ciências do Sistema Musculoesquelético pela Faculdade de Medicina (FMUSP). Hoje, é doutoranda pela mesma instituição, porém sua orientadora permitiu que desse uma pausa nos estudos por causa do esporte. “Ela me deu liberdade agora para focar nos Jogos, mas quando voltar sei que vou ter que focar muito em terminar o doutorado”, comenta.

A esportista começou o processo de naturalização em novembro, em cima da hora para poder competir pelo país. “Tinha acabado de completar os seis anos [necessários]: dois de residência temporária e quatro de residência permanente. Foi um estresse fazer tudo, porque em maio eu já tinha que viajar e precisava dos dados”, lembra. O Registro Geral (RG) foi obtido em março e o passaporte, em abril.

Amor pelo remo

Alina se apaixonou pelo remo após assistir ao esporte nas Olimpíadas de 2012, enquanto já era uma atleta de alto rendimento de natação. Após deslocar o ombro, ela precisou parar de nadar, mas não deixou as águas de lado. “Quando iniciei a faculdade no Canadá, entrei no circuito de remo para iniciantes. Comecei lá e adorei”, recorda.

A remadora iniciou a carreira de atleta na faculdade e entende que o esporte universitário é importante para ter contato com pessoas que têm outros estilos de vida e outras condições financeiras. “Dá para fazer amigos e criar relações com pessoas fora do seu ‘normal’. Eu abri muito a mente para poder fazer vínculos e entender as pessoas de uma forma diferente”, reflete Alina.

Em 2020, a atleta rompeu os ligamentos dos dois tornozelos e precisou passar por três cirurgias. Enquanto se recuperava das lesões — o tornozelo esquerdo não reagiu bem aos primeiros dois procedimentos —, foi atrás da classificação para poder competir no para-remo. “Foi uma chance única de tentar chegar nos Jogos, uma coisa que sempre sonhei.”

Depois das Paralimpíadas, Alina afirma que quer manter a rotina de treinos e tentar se classificar para outras competições. Também nos estudos, não esconde a paixão pela ciência: “[Minhas vontades são] fazer um pós-doutorado e depois achar um trabalho em algum laboratório, porque eu gostaria de fazer pesquisa com células”, planeja.

“[Com o esporte universitário], eu abri muito a mente para poder fazer vínculos e entender as pessoas de uma forma diferente.”

Alina Dumas
Ilustração: Lara Soares/JC

*Com edição de Nicolle Martins