Nova diretoria do MAC USP resgata contemporaneidade

Planos da nova gestão visam manter e ampliar a digitalização e criar “Colégio Livre das Artes“

Foto: Diego Facundini/JC

Por Paloma Lazzaro*

Na Avenida Pedro Álvares Cabral, número 1301, 1o andar, José Lira e Esther Hamburger ocupam os cargos de diretor e vice-diretora do Museu de Arte Contemporânea (MAC -USP), desde 13 de julho de 2024. Precedidos por Ana Magalhães e Marta Borgéas, gestão responsável por lidar com a pandemia e implementação de atividades digitais, o novo plano de gestão visa a criação do primeiro centro de ciências do patrimônio da cidade, a maior atuação estudantil e de artistas vivos e projetos interdisciplinares. Esse espaço, responsável pelo lazer, pesquisa e educação, é composto pela somatória das mudanças e permanências implantadas durante as últimas três gestões.

Capturar e preservar a história recente da arte, ao mesmo tempo em que se fomenta a produção e novas perspectivas sobre ela, é a base do projeto do “colégio das artes”, que é a meta da nova gestão. O espírito da preservação também está presente na criação do primeiro centro de ciências do patrimônio da cidade, que contará com a atuação interdisciplinar de diversos docentes da USP. No entanto, a ideia não é inédita no museu. Durante a década de 1960, Walter Zanini, primeiro diretor da instituição, tinha uma visão parecida ao atual projeto.

Esther destaca que a diretoria anterior deixou o legado de um museu que intervia na cena cultural, fazendo uso dos laços com instituições internacionais e fomentando essas conexões. “Dentro da USP, se falava em ‘Instituto das Artes’. Então, é um pouco assim, imaginando uma efervescência parecida com a da década de 60, que vem a nossa ideia de estimular os colegas a virem dar aulas aqui”, anuncia Esther. 

O MAC estava profundamente ligado à vida cultural e artística da cidade de São Paulo, afirma José Lira. Jovens vinham ao museu não só para conhecer o acervo, mas também para participar de discussões e exposições da arte de seu próprio tempo. “Essa vinculação entre a vida do museu e a vida urbana era muito forte, o que durante muitas décadas arejou o museu”, conta o novo diretor.

Exposição Tempos Fraturados do MAC. Foto: Diego Facundini/JC

Entre os visitantes das exposições e pelo terraço, há grupos de alemães, ribeirão-pretenses e de escolas, todos guiados por funcionários da USP. Casais se encontram na cafeteria do mezanino antes de subir para os andares expositivos. Durante 2020 e 2021, no entanto, a vida movimentada no prédio de pilastras em V foi interrompida. Os primeiros dois anos da gestão de Magalhães e Borgéas demandaram uma nova forma de funcionamento da instituição.

“A primeira grande mudança foi pensar nos meios digitais. Rapidamente implantamos uma série de atividades e eventos digitais no segundo semestre de 2020”, conta Magalhães. O novo diretor acredita na continuidade dessa mudança: “a pandemia gerou uma revolução em museus. A necessidade de compartilhamento de acervos, atividades e informação criou um meio muito mais amplo de acesso e adaptação do conteúdo para essa nova esfera pública que se criou. Uma esfera de troca de conhecimento.”.

O MAC é um museu universitário, parte de uma instituição acadêmica e dotado de responsabilidades perante à educação e pesquisa. Ao mesmo tempo, nos últimos doze anos, o imponente prédio projetado por Niemeyer se tornou parte da paisagem e do roteiro cultural de São Paulo. Executivos de roupa social sobem até o oitavo andar para um almoço de alta gastronomia no Vista Restaurante. Em outro conjunto de elevadores, estagiários e curadores se movimentam entre andares fechados ao público. Um desses estagiários, André Maia, aponta como características do MAC “a proximidade com o Ibirapuera e a conjugação  de uma ampla seleção de arte moderna e contemporânea no acervo”. André ainda destaca a presença demasiada da cor branca: “o próprio prédio é bem notável nesse aspecto”. 

Os projetos da nova diretoria do MAC USP são uma maneira de dar continuidade a aspectos de um passado recente. Além disso, as duas gestões e o plano museológico priorizam a presença física na cidade de São Paulo, a excelência na pesquisa e sempre manter a contemporaneidade, com a presença de artistas vivos e alunos envolvidos. Gerir um museu é um trabalho intergeracional. “Há um tipo de continuidade institucional, nós não estamos em lados opostos. Houve uma discussão muito bem azeitada entre o corpo docente da casa e os agora gestores. A nova gestão é a continuidade desses grandes valores que o museu tem”, fala Magalhães. Assim, na Avenida Pedro Álvares Cabral 1301, projetos são gestados e depois nascidos no mesmo jogo de fraturas e permanências cronológicas que se vê nas obras da atual exposição de longa duração: Tempos Fraturados.

*Com edição de Gabriel Carvalho