Por Isabel Seta
Inicio esta coluna com meu imenso agradecimento à turma pela honra de ter sido escolhida como ombuds(wo)man do JC – jornal que foi minha escola. Há oito anos, eu também passei um semestre como repórter, editora, secretária de redação e conheço os vários desafios para produzir edições pertinentes e ancoradas na realidade universitária.
Nesse sentido, a edição nº542 acertou ao trazer um cardápio variado de reportagens sobre diferentes qualidades e problemas da USP, como a promoção de práticas esportivas, as (várias) falhas de bandejões, quadras externas, programa de bolsas para iniciação científica e processo de instalação das grades no Crusp e, ainda, a importância de espaços virtuais, artísticos e indígenas.
Apesar de a maioria dos textos ter escolhido bem as pautas, uma omissão permeia várias das matérias: a ausência de dimensionamento das realidades retratadas. Faltam dados para que os leitores possam compreender o tamanho dos problemas descritos. Dou exemplos: quantas são as quadras poliesportivas do CEPEUSP e quantos estudantes as utilizam? Quantos alunos têm bolsas PUB e quantos responderam ao formulário do JC? Qual o número de casos de Mpox registrados em SP?
Números “sozinhos” valem pouco como informação. Mas, quando apresentados em contexto, são importantes indicativos da proporção das questões relatadas. Assim, é de fato crucial saber que o restaurante central oferece 4 mil refeições diárias e que 91% dos estudantes que responderam à pesquisa do JC utilizam esse estabelecimento para comer. Assim como são determinantes as informações de número de alojados no Crusp e de estudantes indígenas na USP em comparação com o número total.
Esses e outros dados apurados, no entanto, poderiam estar mais bem posicionados nas matérias – de preferência já nos parágrafos iniciais. A hierarquização das informações é um dos desafios de todo repórter na hora de transformar a apuração em texto. Nesse sentido, algumas reportagens poderiam ter trabalhado melhor seus lides, já trazendo no primeiro parágrafo (ou, no máximo, no segundo) o cerne das histórias. Na matéria sobre o fim do Drive ilimitado, a informação mais importante está no 4º parágrafo. Na sobre o valor das bolsas de pesquisa, o lide ficou restrito à linha fina. Na sobre o MAC, tive a impressão que a novidade está no projeto “colégio das artes” – focar nele talvez tivesse sido uma saída para um texto menos burocrático e mais instigante.
Vale sempre se perguntar: qual é o ponto central da reportagem e quais são as informações mais importantes para que o leitor compreenda ou se interesse logo de início por ele? Vários critérios jornalísticos (proximidade, impacto, ineditismo) podem ajudar a responder.