Texto por Isabel Seta
Senti calafrios ao ler a importantíssima reportagem de capa da edição 543 do JC. Como ex-aluna do período noturno do campus do Butantã, lembro-me bem do medo de andar sozinha pelas ruas sempre mal iluminadas.
As repórteres Gabriela Varão e Julia Alencar acertaram ao procurar diferentes fontes, como entidades estudantis, a Prefeitura do Campus, a Guarda Universitária e a Superintendência de Prevenção e Proteção Universitária, para falar do grave cenário de insegurança para as frequentadoras da USP. Merecem destaque os dois fortes relatos de jovens que tiveram suas identidades protegidas: uma foi perseguida ao sair da faculdade, a outra sofreu violência sexual. Ambas não encontraram o acolhimento necessário – assim como as vítimas recentes de dois estupros e uma tentativa de estupro.
Considerando a centralidade do assunto e, ainda, a quantidade de facetas e desdobramentos do quadro reportado (da recorrência dos casos e suas consequências individuais e coletivas, passando pela falta de apoio dos órgãos oficiais e o peso sobre as entidades estudantis), deixo aos jovens jornalistas uma dúvida genuína: por que não tratar do tema em mais de uma matéria?
Entendo que o JC tem suas editorias definidas, mas, como sempre me disseram bons editores: não adianta brigar com a notícia. Diante de uma notícia dessas proporções, será que o jornal não pode se adaptar e fazer diferente? O fato de ser um jornal laboratório pode incentivar a ousadia – e não a manutenção de padrões fixos e imutáveis.
Como destacado pelo editorial, outras reportagens da edição abordaram problemas do passado e do presente mais e menos relacionados à segurança na USP. São impressionantes os relatos sobre a vivência universitária na época da ditadura. Assim como são pertinentes as reportagens sobre o impacto da fumaça das queimadas, a existência de ilhas de calor e as mudanças no trajeto dos ônibus circulares. Todas essas (e outras matérias da edição), no entanto, teriam se beneficiado de lides mais bem estruturados.
Uma edição mais rigorosa pode (e deve!) ajudar, dando o devido tratamento noticioso às manchetes, linhas finas, “olhos” e lides das reportagens, ainda que em poucos caracteres. Sintetizar é mesmo um negócio complicado, mas, por mais difícil que seja, é necessário continuar tentando cortar, hierarquizar, destacar, resumir e informar. E, por fim, reler o texto final mais de uma vez, para que pequenos erros de digitação e pontuação não cheguem ao leitor final.