Primeiro processo de contratação de professores com cotas é aberto na Biologia
Texto por Pedro Morani*
Um ano após o fim da greve discente de 2023, o Instituto de Biologia (IB) abriu o primeiro processo de contratação de docentes com reserva de vagas para pessoas Pretas, Pardas e Indígenas (PPI), na área de ecologia. O concurso, que espera ser concluído nos próximos meses, oferece três vagas, sendo uma delas reservada para o grupo. A possibilidade de ter um professor não-branco foi celebrada pelos alunos, em um espaço historicamente pouco diverso.
Como parte da negociação para o fim da greve, o movimento estudantil exigiu a admissão de 1027 professores até o semestre seguinte, o primeiro do ano de 2024. Essa leva de cadeiras seria necessária para apenas repor a quantidade de baixas que a Universidade sofreu desde 2014, e não são, efetivamente, novas contratações.
Em nota ao JC, a assessoria de imprensa da USP afirmou que a Reitoria “autorizou a distribuição de 879 cargos para contratação em caráter permanente e 148 temporários para todas as Unidades de Ensino e Pesquisa da Universidade. O processo de contratação é realizado pelas próprias Unidades, que dispõem de dados sobre esses processos”.
É recorrente no IB a demora no preenchimento de vagas após a saída ou aposentadoria de docentes. De acordo com Matheus, graduando em biologia, algumas disciplinas do núcleo avançado deixaram de ser oferecidas pela falta de professores. “Desde a greve, sei da contratação de somente um docente, acredito que seja abaixo do prometido”, afirma o estudante.
Na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design (FAUD), assim como em demais unidades, a situação não é muito diferente. “Nós temos professores muito antigos, e quando eles acabam se aposentando ficamos sem substitutos”, explica Gabriela Vitória, graduanda do curso de arquitetura.
Durante a greve, embora a principal exigência dos alunos fosse a contratação de docentes, também foi negociada a integração de cotas no processo de seleção de professores. Com a negociação do fim da greve, a reitoria aceitou acatar a demanda estudantil, porém, apenas em concursos que incluíssem mais de duas vagas, caso raro entre os concursos para docente da USP, que majoritariamente contam com apenas uma vaga.
Se for para contar a nossa história, tudo bem, vão contar. Mas não vai ser uma pessoa negra falando.
Marcelly Soares
Atualmente, a FAUD tem apenas dois professores negros em seu quadro de docência, composto por mais de 120 professores, ambos contratados após o fim da greve. “Para eles, não cabem pessoas negras naquele espaço”, relata a estudante de arquitetura Marcelly Soares.
Hoje, estão em curso nove editais de diferentes categorias para docência na FAUD. Embora a contratação de professores tenha aumentado desde o ano passado, conforme prometido, nenhum desses processos possui reserva de vaga PPI. “É reconfortante saber que as novas gerações de ingressantes vão ter a oportunidade de se sentirem mais confortáveis e não vão passar pelas coisas que passamos. Mas, o quadro ainda precisa melhorar, precisamos de mais docentes, e, principalmente, mais docentes negros”, conclui Marcelly.
*Com edição de Marcelo Teixeira