Transição energética no mundo… e no Campus?

Cidade Universitária gasta R$36,2 milhões em energia elétrica anualmente e produz 1,28% do que consome em energia solar; a meta é atingir 20%

Sistemas fotovoltaicos do Instituto de Energia e Ambiente (IEE-USP). Foto: Nícolas Dalmolim/JC

Texto por Lucas Lignon*

A Prefeitura do Campus Capital-Butantã (PUSP-CB) indica que 1,28% da energia elétrica consumida em 2023 foi gerada por sistemas fotovoltaicos, ou seja, energia solar. O consumo total foi de 47.731 MWh, quantidade de eletricidade utilizada em hora, e seu custo foi de  R$36,2 milhões, equivalente ao consumo médio de 35 mil pessoas em ambiente doméstico por ano. O uso de energia elétrica tem impactos ambientais relacionados, como as emissões de carbono na sua geração que aceleram as mudanças climáticas.

O Grupo de Trabalho (GT) de Energia do novo Plano Diretor do Campus Butantã analisou a atual situação de eficiência energética e sustentabilidade dentro da Cidade Universitária. O grupo identificou, em oficinas e consultas públicas, que os problemas mais recorrentes estão ligados ao consumo ineficiente, ao impacto ambiental negativo e à qualidade da rede elétrica dentro dos prédios. O GT se dedica agora a estabelecer metas para tornar o Campus mais autossuficiente em energia e reduzir as emissões de gases do efeito estufa para os próximos dez anos.

Em entrevista ao Jornal do Campus, José Aquiles Baesso Grimoni, coordenador do GT de Energia e do Programa Permanente para o Uso Eficiente dos Recursos Hídricos e Energéticos na Universidade de São Paulo (PUERHE-USP), afirma que a USP tem a preocupação com o uso de energia há muito tempo. Ele cita ações do Programa que reduziram o consumo de energia, como a compra de equipamentos mais eficientes e a troca dos antigos. No período de 2021 a 2023, o nível de consumo de eletricidade caiu cerca de  23% em relação a 2017-2019.

A Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira (CUASO) conta hoje com seis sistemas fotovoltaicos que produzem energia elétrica: quatro deles associados ao Instituto de Energia e Ambiente (IEE-USP), um ao Biênio da Escola Politécnica (Poli-USP) e outro ao Hospital Universitário (HU). De acordo com Grimoni, o objetivo do novo plano é que 20% do consumo energético da USP seja produzido por energia própria fotovoltaica, mas há dificuldades para concretizá-lo. “Aqui em São Paulo, precisamos de um volume muito maior de geração própria para chegar nos 20%, devido ao tamanho do campus”, afirma. 

Projetos de expansão de usinas fotovoltaicas também estão sendo realizados  nos outros campus: USP Leste, São Carlos, Piracicaba, Pirassununga, Ribeirão Preto e Lorena. O programa USP Sustentabilidade prevê instalar mais células de energia fotovoltaica de mesma potência no campus USP da capital até janeiro de 2025. Segundo Julio Romel Martinez Bolaños, pesquisador do IEE, estudos mostram a viabilidade econômica da autoprodução de energia solar para atender 10% da demanda da CUASO utilizando apenas os telhados e estacionamentos das edificações já existentes.

O que pode ser feito?

Para Grimoni, a USP deve continuar as ações de eficiência energética nos prédios, melhorar a infraestrutura da rede elétrica, investir na produção de energia própria e reduzir o consumo de combustíveis fósseis. Ele também destaca a migração do campus para o mercado livre de energia, ambiente em que grandes consumidores podem comprar energia de diferentes empresas por preços  mais competitivos. Essa ação, segundo o coordenador da PUERHE, pode reduzir 30% dos gastos com energia elétrica, além de ser mais sustentável. “Como a USP vai comprar energia verde, ela vai reduzir muito as emissões de carbono da energia que chega até o Campus.” A USP e a Enel, distribuidora de energia elétrica na cidade de São Paulo, estão adequando a infraestrutura da subestação que recebe energia na Cidade Universitária para que ela possa entrar nesse mercado.

Bolaños, pesquisador do IEE, ressalta que a diversificação das fontes de energia é essencial em um contexto de mudanças climáticas: “Principalmente para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e fornecer segurança energética ao mesmo tempo”, acrescenta. Ele defende que as universidades desempenham um papel fundamental na promoção de maior eficiência, tanto na geração quanto no uso de energia, através da pesquisa, capacitação, desenvolvimento de projetos pilotos e no estabelecimento de parcerias com empresas do setor público e privado. “A participação da USP é fundamental para direcionar políticas públicas e dar diretrizes para a criação de marcos regulatórios que garantam segurança na transição energética”, complementa o pesquisador.

Transição energética

“É o processo de mudança de toda a cadeia de valores do setor energético global. É sair de uma matriz fóssil do ponto de vista global para uma matriz renovável, como as eólicas e solares”, conceitua Erik Rego, professor da Poli e coordenador do recém-inaugurado Energy Transition Innovation Center (ETIC). O novo centro é dedicado a pesquisas sobre a transição energética para uma economia de baixo carbono.

As mudanças climáticas que causam eventos extremos mais frequentes, como as queimadas e enchentes nos últimos meses, são os principais motivadores para a transição, já que 75% dos gases causadores do efeito estufa mundialmente vêm do setor energético. “É um esforço grande, que envolve tecnologias que ainda não estão em escala comercial, políticas regulatórias e capacitação de pessoas”, afirma Erik.

Ele enfatiza que o papel da USP é, justamente, mostrar cientificamente as mudanças que estão acontecendo. “Se nada for feito, os problemas que estamos colhendo a curto prazo serão piores para a sociedade como um todo a médio e longo prazo”. 

*Com edição de Beatriz Haddad