Cancelamento de palestra levanta polêmica na Poli

Debate marcado para Semana de Engenharia Ambiental (SemEA) foi impedido pela diretoria às vésperas da realização

Evento havia sido divulgado por canais oficiais da Poli. Foto: Pedro Morani/JC

Texto por Artur Abramo*

No dia 25 de outubro, uma palestra sobre racismo ambiental organizada pelo Centro Acadêmico de Engenharia Ambiental (CAEA) da Escola Politécnica da USP (Poli), para a SemEA, foi cancelada pela diretoria cerca de uma hora antes de sua realização. Os membros da agremiação foram surpreendidos por um e-mail enviado pela direção que informava o cancelamento do evento.

A mensagem citava uma denúncia que questionava a autorização da palestra. Em seguida, afirmava que a participação da vereadora já reeleita Luana Alves (PSOL-SP) poderia caracterizar o evento como político às vésperas do segundo turno da eleição municipal em São Paulo. Por fim, justificava que a decisão visava “preservar o patrimônio público e a integridade das pessoas em trânsito no prédio, tendo em vista a possível ocorrência de protestos e conflitos por parte de grupos contrários”.

Como alternativa imediata ao problema, os organizadores levaram o evento ao Diretório Central dos Estudantes (DCE). “Felizmente, o DCE conseguiu nos acolher e possibilitar a realização do evento que estava marcado há mais de uma semana”, comenta Gabriela Alves, presidente do CAEA. A realização da palestra era importante, sobretudo, pois contava também com um convidado de fora de São Paulo. Daniel Alkmin, membro do centro acadêmico, explica que o ativista climático Marcelo Rocha havia viajado do Rio de Janeiro para participar do debate.

O caso foi levado à Comissão de Inclusão e Pertencimento (CIP) da Poli, que realizou uma reunião com alunos e docentes para discutir o tema. Rebeca Almeida, vice-presidente do CAEA, sente que, desde setembro, com o cancelamento de evento da Poliberty, a diretoria passou a ser mais rígida com questões políticas. O grupo libertário havia organizado uma roda de conversa com o candidato a vereador pelo PL e coordenador municipal do movimento ProArmas Brasil, Henry Kadima. A estudante ressalta, no entanto, as diferenças entre os grupos: “É uma entidade que não é representativa, não tem eleições e vai contra o pensamento científico”.

Para João Mendonça, ex-presidente do Centro Acadêmico de Engenharia de Produção, também existe uma falsa isonomia entre os casos. Ele entende que a medida foi utilizada como meio de afastar a instituição de questões políticas. “Querem que a escola seja muito técnica e não pense na parte social”.

Em contato com a reportagem do JC, a assessoria da Poli confirmou a existência de uma norma interna de não autorização do espaço para eventos de cunho político. Além disso, alegou que o cancelamento do evento sobre racismo ambiental estava de acordo com o Manual de Condutas Proibidas pela Legislação Eleitoral, que impede a cessão de bens públicos em benefício de candidatos, partidos políticos ou coligações.

O CAEA reforçou que a palestra, autorizada previamente pela direção, “nunca teve motivações eleitoreiras” e, mesmo depois da realocação para o DCE, não houve momento de mobilização por votos por parte da vereadora. “Não queríamos exaltar nenhum político, apenas trazer discussões que não temos em sala de aula”, concluiu Daniel.

*Com edição de Marina Giannini e Diego Facundini