Cepeusp faz homenagem para professor de tênis

Funcionário desde a década de 70 no centro de práticas esportivas, Thales Bon agora nomeia complexo de quadras

Foto: Renan Affonso/JC

Texto por Sarah Kelly*

No final de outubro, o professor de tênis Thales Bon se despediu das quadras após 46 anos como funcionário efetivo no Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo (Cepeusp), antes disso ele foi estagiário por seis anos. Uma das homenagens que recebeu foi uma placa com seu nome: agora, está eternizado no “Complexo de Tênis Thales Bon”.

Assim que um servidor público completa 75 anos, ele é obrigatoriamente afastado de seu posto de trabalho. No Cepeusp, o procedimento tem acontecido com frequência: professores de educação física que iniciaram a carreira no início dos anos 1970 estão próximos ou já chegaram a essa idade. É o caso de Gladson de Oliveira e Silva, ex-professor de Capoeira e Emilio Antônio Miranda, de futebol, que se aposentaram recentemente e também foram homenageados.

Sempre de bom humor, como é descrito pelos alunos, o professor era facilmente encontrado nessas quadras, disposto a receber atletas de todas as idades. O jornalista Rodrigo Bertolotto foi um desses. Começou a aprender com Bon há 15 anos e, aos poucos, viu a modalidade assumir um importante papel na sua vida: “O tênis é como um regulador de humor, é algo que me acalma”. Como um dos ex-alunos frequentantes, ele também valoriza o espaço do Cepeusp. “Tem uma estrutura que nenhum outro clube em São Paulo tem, nem os mais ricos. É quase um paraíso.”

História do Cepe

Diferente do que é difundido entre a comunidade uspiana, a implementação do Cepeusp não aconteceu exclusivamente por conta dos Jogos Pan-Americanos de 1975 — embora grandes investimentos tenham acontecido graças ao campeonato, como a construção do velódromo. Desde o Plano Piloto da Cidade Universitária, segundo Miranda, era previsto um centro esportivo para atender alunos, funcionários e professores.

Em 1971, Bon era um estudante de educação física e tinha aulas no Ibirapuera, quando a EEFE ainda não tinha uma sede própria. “Meu professor de ginástica era o Antônio Boaventura, que tinha acabado de assumir o Cepeusp. Ele convidou a sala para ir fazer estágio lá e alguns de nós, por volta de 10 pessoas, aceitamos”. O tenista começou no vôlei, mas com o incentivo do professor “Pororó”, passou a trabalhar com tênis. Passados cinco anos, Bon não foi efetivado e se tornou técnico em uma escola de São Bernardo. Em 1978, foi chamado novamente pelo Cepeusp e, dessa vez, contratado.

Momentos Marcantes

Entre os feitos que Bon se orgulha, a criação do Ranking em 1985 é um destaque. Já noticiado na edição 356 do JC, trata-se de uma competição que promove jogos e classificações contínuas nos fins de semana para todos os tenistas do Cepeusp. De forma voluntária, o professor contribui para a integração da comunidade universitária, além de garantir a evolução técnica dos estudantes. “A gente começou com 32 pessoas e agora temos 200 participantes em nove categorias”, diz.

A maior adesão aconteceu graças à abertura para a comunidade externa na década de 1990, entre outros fatores de incentivo. “A gente só atuava com universitários e sobrava muito espaço livre. Então a direção percebeu que teria que aumentar o número de pessoas dentro do Cepeusp, começamos com os idosos 60+.”

Além do forte desempenho com alunos que treinam apenas pelo lazer, Bon já se envolveu em competições profissionais. “Comecei com aulas simples de iniciação. Fui crescendo e comecei a trabalhar também com o pessoal que jogava no nível mais avançado. Treinei uma equipe em que muitos dos integrantes foram para a FUPE (Federação Universitária Paulista de Esportes)”, organização a qual o professor já integrou a direção.

Bon lembra com carinho do tempo em que foi técnico da seleção brasileira de tênis. Com um grupo que competiu na “Universíade”, os Jogos Mundiais Universitários, de 1995, conta que passou um mês no Japão e que teve um perrengue na gestão de Pelé como Ministro do Esporte: ele e os alunos só receberam as passagens um dia antes de viajar.

Despedida

“Acho que eu poderia continuar trabalhando, mas a lei é clara”, lamenta o professor. Depois de passar os últimos 46 anos no mesmo ambiente de trabalho, Bon parece ter encontrado seu propósito. Do outro lado, os alunos o admiram e já temem pelo futuro da modalidade. “O diferencial da aula do Thales é o estilo integrador e social, por colocar diferentes níveis de performance para atuar junto. A aula é bastante eclética, abrange conceitos técnicos, teóricos e lúdicos”, conta Maurício Casaroti, que teve a primeira aula com Bon em 1998.

O professor explica que a diretoria do Cepeusp está em contato com novos profissionais, um processo que não é rápido, mas espera que o complexo não termine. Com o fim da trajetória profissional, fica a gratidão. “Todas as coisas que eu consegui na vida foram através do Cepeusp.”

*Com edição de Isabella Gargano