Terceirizados reivindicam isenção no pagamento de transporte e denunciam os planos de precarização da instituição

Texto por Beatriz Haddad e Gabriel Carvalho*
No dia 14 de novembro, o Conselho Gestor do Campus da Capital validou a proposta de concessão do Bilhete USP (BUSP) para trabalhadores terceirizados da Universidade. A demanda foi levantada pelo Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) para que fosse concedida a isenção do pagamento de passagens nos ônibus circulares da Cidade Universitária aos terceirizados, que arcam diariamente com os custos de locomoção na USP. A reivindicação foi incluída no Plano Diretor e será apresentada e votada no Conselho Universitário (CO) no dia 10 de dezembro. Apesar do avanço representado pela conquista da aprovação, a luta dessa categoria por salários mais dignos e direitos igualitários ainda persiste.
O Sindicato estima que o número de trabalhadores terceirizados na USP é superior a 5 mil – não há divulgações precisas desses dados no Anuário Estatístico da Universidade. Também é estimado que a grande maioria é formada por mulheres negras, muitas de origem nordestina, ou mesmo imigrantes de países da América Central, como o Haiti. No Campus da Capital, vários setores dependem desse tipo de serviço, principalmente nas áreas de limpeza e higienização, vigilância, manutenção e alimentação.
O avanço crescente nos processos de concessão de serviços dentro da Universidade se reflete também no aumento de denúncias – expostas pelo Sintusp em carta de defesa a extensão do BUSP para os terceirizados – sobre as más condições de trabalho, salários inferiores aos de contratados efetivos, atrasos nos pagamentos e escassez de materiais e equipamentos para a realização dos serviços. Grande parte dos funcionários terceirizados permanece por anos na realização da mesma atividade, muitas vezes sem perspectiva de ascensão ou desenvolvimento na carreira.
A reivindicação pelo acesso ao BUSP é uma dentre muitas outras questões pendentes na luta dos trabalhadores, e conta com o apoio de organizações como o DCE Livre da USP, a Associação de Docentes da USP (Adusp), outras entidades sindicais e Centros Acadêmicos. No Manifesto Contra Terceirização e Precarização do Trabalho, assinado por diversos intelectuais e membros do Sintusp, algumas dessas questões são sintetizadas: “Defendemos, como efeito, a plena igualdade de direitos para as trabalhadoras e trabalhadores terceirizados. Igualdade salarial entre homens e mulheres, negros e brancos. Igualdade de acesso aos equipamentos de saúde, educação, lazer, alimentação e transporte oferecidos pelos locais de trabalho”.
Em entrevista ao JC, Claudionor Brandão, dirigente do Sintusp, explica que há anos os processos de terceirização na USP têm sido crescentes, ainda que estejam sendo implementados a “conta-gotas”. Ele explica que grande parte dos serviços básicos no campus, como segurança patrimonial, transportes e restaurantes, são atualmente terceirizados: “Não é do interesse da USP contratar funcionários para o serviço operacional. É mais barato para a Universidade não ter que ser responsável”, analisa.
*Com edição de Diego Facundini