Capivaras podem desaparecer da raia nos próximos anos

Foto: Marina Galesso/JC

Por Alex Amaral e Marina Galesso*

Frequentadores da raia olímpica da USP, na Cidade Universitária, estão acostumados com a presença tranquila das capivaras que lá vivem sem predadores naturais. Mas elas são cada vez menos numerosas: o aumento populacional levantou preocupações sanitárias e ambientais, que desafiaram a Universidade a buscar um equilíbrio entre preservação e controle. Uma forma de promover o monitoramento dessa população foi através da esterilização desses animais presentes no Campus.

QUESTÃO SANITÁRIA

A questão das capivaras na USP não é um fenômeno isolado: outras cidades brasileiras também enfrentam o desafio da adaptação desses animais a ambientes urbanos e de riscos relacionados ao carrapato-estrela, vetor da febre maculosa. Para a professora Cristiane Pizzutto, orientadora do Programa de Pós-graduação em Reprodução Animal da FMVZ-USP, a situação exige planejamento: “É preciso pensar em políticas públicas de manejo de forma cordial. O controle populacional pode incluir a vasectomia de machos ou aplicação de anticoncepcionais, mas sempre com respaldo técnico e ético”.

A esterilização foi concluída em 2020, e o número de capivaras na raia vem diminuindo: o dado mais recente indica a presença de cerca de 20 animais. Considerando que a vida média do roedor é de 10 a 12 anos, caso não aconteçam novos nascimentos e com a morte de uma a duas anualmente, por idade ou por disputas territoriais entre os machos, a espécie pode desaparecer do campus em um futuro próximo. “Não podemos ter certeza, mas existe a chance de não termos mais esses animais dentro do campus, uma vez que esse controle foi feito e elas vivem de maneira isolada”, afirma Fernanda Passos Nunes, pós-doutoranda da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP.

“Se não entrar nenhum animal que não foi esterilizado no espaço, provavelmente dentro de 10 anos não teremos mais capivaras na raia”

Fernanda Passos Nunes, pós-doutoranda da FMVZ da USP

A discussão sobre o trato das capivaras é recorrente, especialmente quando ocorrem acidentes ou alertas sanitários. Para a especialista, qualquer decisão precisa considerar não só a ciência, mas também os vínculos que os animais criaram com a comunidade. “A relação vai além da biologia. As capivaras fazem parte da paisagem da Universidade”, afirma Fernanda.

CONVIVÊNCIA PACÍFICA

Theo Carracedo, graduando de Química, treina Canoagem Velocidade na raia há mais de 10 anos e fala com carinho dos animais. “As capivaras fazem parte da raia, são os nossos bichinhos. Elas mudam a experiência, elas estão lá desde que eu entrei”, conta. Ele lembra dos rumores sobre a castração dos animais, em 2020, e confirma que, após a pandemia, percebeu mudanças: “De uns anos para cá, não me recordo de ter visto mais filhotes muito pequenos”.

“No geral, elas ficam bem na delas, não se metem muito com a gente”. Mas há encontros inusitados. Theo conta que um animal já colidiu com o barco: “Tentei fazer um ziguezague para desviar, freei como deu, mas mesmo assim deu um tranquinho, foi como se eu tivesse passando em uma lombada. Depois ela mergulhou e saiu lá longe”. 

“Sempre estiveram presentes, eu não imagino a raia sem capivaras”

Theo Carracedo, graduando de Química

Mas há, literalmente, brechas na história. Como os primeiros animais chegaram à raia pelo córrego do Pirajuçara, a USP os isolou para evitar o acesso de novas capivaras e iniciar o controle populacional no ambiente. No entanto, nada impede que ocorram novas entradas por intervenções naturais ou humanas, o que pode renovar a vida da espécie no campus. Fernanda explica que “Existe a possibilidade de animais não esterilizados entrarem no espaço por meio das galerias hídricas, pela queda de um muro ou pelo rompimento de um grade de proteção. Caso isso ocorra, a espécie pode reabitar a raia olímpica se não for controlada”.