Transporte e urbanização: grandes obras tentam atrair seu voto

Para especialistas, ampliar o sistema viário mostra desconhecimento histórico e vai na contra-mão das políticas urbanas atuais

Propostas

Anaí Caproni (PCO)

Propõe o fim do que chamou de “legislação municipal repressiva”, como o código nacional de trânsito e as multas municipais. Quer dar um fim à monopolização do transporte público e estatizar o sistema de ônibus da capital, por acreditar que o estado controla melhor o transporte coletivo. Defende ainda a ampliação das linhas e veículos.

Ciro Moura (PTC)

Para o candidato, é preciso tratar inicialmente do básico: recapear ruas, consertar e sincronizar faróis. A intenção é utilizar a estrutura que a cidade já tem. Depois de otimizar tais recursos, Moura pensará em obras maiores. Além disso, diz que aumentará a velocidade do metrô e investirá na continuidade das obras do Rodoanel.

Edmilson Costa (PCB)

Defende a redução do preço das passagens até a tarifa zero (utilizando recursos do IPTU) e prioridade ao acesso de ônibus nas avenidas e ruas. Quer construir corredores de ônibus e integrar os meios de transportes, com estacionamentos públicos subterrâneos para carros próximos a pontos de ônibus e estações de metrô e trem. Ainda defende a criação dos Conselhos Populares de Transporte e a municipalização do transporte público na cidade, recriando uma empresa municipal de transportes.

Geraldo Alckmin (PSDB)

Visa a ampliar a rede de metrôs e rede de trens da CPTM, com o apoio do governo do estado. Quer construir, ampliar e reformar os corredores de ônibus, informatizando sua supervisão e controle, inclusive em terminais e garagens. Propõe pequenas intervenções para diminuir os congestionamento, como modernização da equipe da CET e SPTrans e instalação de painéis eletrônicos em avenidas e vias estruturais para informar os motoristas sobre as condições do trânsito. Pretende, ainda, criar ciclovias e bicicletários em pontos chaves, como terminais de metrô, e construir estacionamentos subterrâneos.

Gilberto Kassab (DEM)

Promete investir R$ 1 bi no metrô. Propõe-se a melhorar os recursos humanos, capacitação e frota da CET e aumentar os recursos aplicados à sinalização viária na cidade. Vai implantar a Nova Marginal Tietê, com alargamento da pista local e construção de pista auxiliar no trecho entre a Rodovia dos Bandeirantes e a Ponte do Tatuapé; e incentivar a construção de garagens subterrâneas. Pretende avançar na estruturação do sistema viário paulistano por meio de anéis, evitando viagens entre bairros passando pelo centro e criando rotas alternativas em caso de acidentes.

Ivan Valente (PSOL)

Propõe a criação de um Conselho e de um Fundo Municipal de Transportes que, juntos, reuniriam recursos para subsidiar integralmente as tarifas de ônibus. Eles seriam ainda responsáveis pelos corredores tronco-alimentadores que controlariam e integrariam o sistema de tranporte público e determinariam seus custos. Propõe restrições ao uso do automóvel e intervenção urbana do município para combater a especulação imobiliária.

Levy Fidelix (PRTB)

Defende a implementação do Aerotrem, um monotrem super-rápido, que, com várias linhas, ligaria pontos estratégicos da cidade. O intuito é complementar o metrô. Quer prosseguir com as obras do anel viário ao redor da cidade, manter a restrição na circulação de caminhões e separar os guardas da CET entre os que auxiliam e os que multam.

Marta Suplicy (PT)

Pretende criar 300km de corredores de ônibus, implementar baias para ultrapassagem nos corredores, modernizar os pontos e implantar semáforos inteligentes. Quer aumentar a fiscalização do Bilhete Único, redimensionar seu tempo de validade, permitindo recarga na catraca. Propõe a integração do planejamento e das ações da CET e da SPTrans, criação de estacionamentos subterrâneos em terminais e integração metrô, trens e ônibus por toda a cidade com extensão até municípios vizinhos. Afirma que concluirá, nos próximos quatro anos, junto com o governo estadual, a implantação de 47,4 km de metrô. Propõe também reverter a concentração do emprego nas áreas centrais com programas de desenvolvimento local específico para as zonas leste, oeste, sul e norte.

Paulo Maluf (PP)

Promete a criação da Free Way, uma construção que criaria pistas adicionais para veículos na Marginal Pinheiros, ocupando e diminuindo o leito do rio. Quer colocar todas as secretarias municipais para pensar em como revitalizar o centro de São Paulo e continuar com o projeto de extinção da “cracolândia”. Além disso, defende a construção de novos corredores de ônibus.

Renato Reichmann (PMN)

Propõe reduzir a tarifa de ônibus para R$ 1,30 fora de horários de pico; a construir alças de acesso no Rodoanel; a aumentar o número de faixas de transição entre as pistas local e expressa das marginais; e a criação de um trem expresso. Quer criar um sistema de tarifa mensal de transporte público a estudantes, que pagariam um valor fixo para se locomover sempre que necessário, e construir edifícios-garagem nas principais estações de metrô e de ônibus, que seriam feitos em parceria com a iniciativa privada.

Soninha Francine (PPS)

Quer tornar os corredores de ônibus linhas-tronco percorridos por veículos que façam exclusivamente o percurso. Visa a permitir trânsito perimetral, não só concêntrico. Aos usuários, quer lhes dar mais informações referentes ao transporte urbano. Defende ainda o atendimento dos 350 mil ciclistas – com condições de trânsito e estacionamento – e a implementação de balsa de transporte entre bairros marginais às represas. Quanto à urbanização, a candidata quer recuperar o centro, a partir da reconstrução de prédios abandonados, e fazer política contra construção de muros de alvenaria e incentivar grades.


Transporte e urbanização (ilustração: Cogumelo/FAU)Análise

Qualquer paulistano que perde, em média, duas horas no trânsito todos os dias entende o porquê da intensa – e muitas vezes cansativa – discussão sobre o caos dos transportes nos debates políticos. Quase todos os candidatos incluem o tema como uma das prioridades nas suas propostas de governo porque o problema afeta todas as regiões e classes sociais da cidade. Apesar da discussão e das inúmeras propostas de soluções, a crise aumenta e afeta outras áreas, como a economia – São Paulo perde cerca de 10% do PIB por ano em decorrência do trânsito.

Algumas medidas são quase unanimidade, como a implantação de corredores de ônibus e a ampliação do metrô – que tem sido a menina-dos-olhos da maioria dos candidatos, apesar de a responsabilidade pelas obras ser do estado. Gilberto Kassab e Geraldo Alckmin, cada um a sua maneira, tomam para si os créditos pela ampliação do metrô de São Paulo e prometem fazer a malha crescer. Marta Suplicy, por sua vez, afirma que conseguirá, com o apoio da União, construir 47,4km de trilhos até o final do mandato. De acordo com Raquel Rolnik, professora da FAU e ex-secretária nacional de Programas Urbanos, tais números nada significam para o cidadão que “quer saber quais linhas,quando vão ficar prontas”.

Para ela, a maioria dos programas é parecida porque a necessidade desse tipo de obra é mais do que óbvia. Quanto à construção de novos corredores, o professor Orlando Strambi, do Departamento de Engenharia de Transporte, da Poli, enfatiza que de nada adianta se não houver uma melhoria urbanística nas regiões.

Para Rolnik, independente das promessas de construções e reformas, o principal é investir no transporte integrado. “Mais do que ampliar linha e veículo, é preciso planejamento geral do sistema, valendo-se de integração modal. A eficiência de um sistema de mobilidade não está na quantidade de ônibus e linhas, mas na capacidade de integração, para se chegar a qualquer lugar de modo rápido e barato”, diz. Strambi concorda com Rolnik. Para ele, a grande questão no trânsito em São Paulo é a “briga por espaço” – e os automóveis costumam vencer essa luta.

Para fazer com que o automóvel perca alguns pontos, estão nos programas de Alckmin, Edimilson Costa, Kassab e Marta a criação de estacionamentos subterrâneos. Rolnik vê a medida com bons olhos, mas ressalva: “Nos terminais as garagens são boas, mas dentro do centro são complicadas, pois estimulam o uso de automóveis para chegar ao centro”. Strambi, por sua vez, é contra a implantação desses estacionamentos. Para ele, trata-se de uma política de “compensação” que não desestimula o uso do automóvel e evidencia a tentativa dos candidatos de equilibrar medidas a favor do tranporte público, sem prejudicar quem usa carro.

Reafirmando que obra viária não resolve problema de trânsito, Rolnik critica propostas como as de Kassab de implantar a Nova Marginal Tietê e de avançar o sistema viário por meio de anéis. “Essa proposta desconhece a história do urbanismo de São Paulo. Desde os anos 30 tem-se tomado esse tipo de medida e o problema só piora”, diz a especialista. Strambi também é contrário à medida. “Ampliar o sistema viário é ampliar a extensão dos congestionamentos. Ninguém mais no mundo vê isso como uma política urbana”.

Alguns candidatos possuem propostas muito características, como o Aerotrem de Levy Fidélix e a Free Way de Maluf. Esta última provoca indignação entre especialistas. Para Strambi, “a moda é destampar rios, e não o contrário”, afirma, dando exemplos bem sucedidos, como em Seul. Já Rolnik prefere “nem comentar”. Diz apenas que “São Paulo quer recuperar os rios [Pinheiros e Tietê] e isso vai na total contra-mão”. Quanto ao Aerotrem, ela afirma que “não interessa se é aéreo ou não. A volta do transporte sobre trilhos é que importa, pois é menos impactante.

Além dos trens, muito se falou do transporte sobre duas rodas – e que não polui. Soninha, por exemplo, é defensora da construção de ciclovias. Strambi é a favor. “Existe um potencial de uso de bicicleta em São Paulo”. O professor também diz que a topografia acidentada da cidade pode ser superada pela tecnologia que já existe em algumas bicicletas. Mas afirma que elas não serão a salvação, pois “tudo tem que ser utilizado” para melhorar o trânsito.