Tragédia permanece, mas cheia de graça

Na Itália do século XVI, nasce uma paixão adolescente entre os filhos de duas famílias em guerra: Romeu dos Montecchios e Julieta dos Capuletos. A história, todos conhecem: um amor impossível, desencontros e morte. A mais perfeita tragédia shakespeariana. Tragédia? Nas mãos do diretor Wagner Cintra e do grupo de extensão Teatro Didático, da Unesp, Romeu e Julieta virou comédia.

Releitura do clássico Romeu e Julieta é encenado com pitadas de humor tupiniquim
Releitura do clássico Romeu e Julieta é encenado com pitadas de humor tupiniquim

Entre os dias 14 e 16 de março, o palco do Tusp foi tomado por figuras dançantes, mergulhadas em vestidos de chita, calças xadrez e muito fuxico. Ao fundo, o violino se mistura ao violão, e uma voz fina entoa cantigas de São João, de roda e de amor. Onde foi parar o melodrama? E a água-com-açúcar, e os versos rebuscados? Nada disso: aqui, a obra do autor inglês torna-se brasileira, leve, colorida e muito bem humorada. A peça de Wagner Cintra é, afinal, uma criação original, que homenageia o clássico, mas não abre mão do popular.

A história dos dois amantes é contada por um grupo de comediantes, que lembram uma trupe circense. Para a surpresa da plateia, até a Julieta aparece fazendo caretas e piadas, quebrando de vez todos os estereótipos românticos. O drama continua presente, reforçado por jogos de luz e sombra e momentos de silêncio, tudo muito sutil, mas é mesmo o humor – sarcástico ou pastelão – que domina o espetáculo.

A música comanda a encenação. Os atores cantam e dançam a todo momento, mas mesmo nos versos falados e nos movimentos mais simples pode-se sentir o ritmo. Tudo é coreografado, como num circo.

De acordo com o diretor e autor, a peça atual é resultado de vários anos de experiências e adaptações, e parece ter finalmente encontrado o gosto do público. Para quem perdeu, Romeu e Julieta deverá entrar em cartaz no Teatro Unesp em breve, na Barra Funda, mas a data ainda não é certa: “Provavelmente no final de abril ou maio”, arrisca Wagner. O grupo ainda viajará a Bauru e a Rio Claro para apresentar a peça às outras unidades da faculdade. Vale a pena esperar.