Moderna, irreverente e questionadora. Assim é a versão do espetáculo As Três Irmãs, de Tchekhov, encenada pela turma 58 da EAD-USP na Mostra Experimentos. Logo nos primeiros minutos, o público é levado a um pátio aberto, nos fundos do teatro, sem cadeiras ou arquibancadas. Com elenco e espectadores num mesmo espaço, a peça começa: Irina Prozorov, a irmã mais nova, grita aos ventos seus sonhos de juventude. “Eu quero tudo o que me é de direito!”
Celebra-se o teatro moderno, do improviso e do cotidiano. A peça ganha ares contemporâneos – se passa já nos anos 2000 – mas os conflitos das três mulheres ainda são os mesmos da pequena burguesia russa de cem anos atrás. Presas em vidas monótonas, elas se perdem em lamentações e romances incertos. A trama não é convencional: não há um conflito claro, um clímax e uma solução, mas sim vários dramas diários e um sentimento constante de desilusão, que basta para envolver a plateia.

Não por acaso, a relação com o público parece ser o foco central deste trabalho. Já na sala de espera, os atores se misturam aos visitantes para contar histórias curiosas dos seus personagens. A estratégia funciona e o espetáculo flui como uma conversa entre amigos. O diálogo continua por toda a peça e o espectador logo se vê simpatizando com os acertos e erros dos Prozorov.
A história da família russa parece se prender ao tempo. O passado é lembrado e usado como justificativa para tudo, com a vida em Moscou e a morte do pai. O presente é marcado na parede, com a passagem dos anos e das estações, sem que nenhum plano se realize. Já o futuro é o que move as mulheres, com o sonho de uma vida melhor e o retorno ao passado, em Moscou.
A peça explora o teatro como uma experiência viva, em construção. O ritmo é frenético, jovem e irônico, mas sem se tornar cansativo. Para amantes de teatro, é uma oportunidade para repensar as distâncias entre ator, personagem e público.