Estudos em cultura aumentam na USP

Universidade passa a se integrar ao movimento de debate, pesquisa e incentivo ao crescimento das manifestações de caráter popular

A Universidade começa a fazer parte do movimento de incentivo ao crescimento de ações de cultura popular, por meio de pesquisas acadêmicas dos movimentos existentes, e projetos de extensão universitária, que colaboram no desenvolvimento de novos projetos. Os grupos de extensão universitária que levam os ensinamentos acadêmicos às populações carentes promovem eventos que buscam trazer e desenvolver maneiras de levar as crianças e adolescentes a fugir da violência e do crime.

Mas do que se trata o termo cultura popular? Diversos exemplos podem ajudar na construção desta definição:  samba, capoeira, forró, candomblé, axé, bumba-meu-boi, literatura de cordel. Eles revelam o que é a interação de pessoas, crenças e hábitos que estão em um mesmo território. Essa é uma cultura mutável e dinâmica, que pode incorporar valores ao longo da evolução da sociedade.

Luzia Aparecida Ferreira, doutora e especialista em Políticas Públicas e Gestão da Cultura pela Escola de Comunicações e Artes (ECA), analisa estes conceitos e definições a partir do trabalho realizado pelo Centro Popular de Cultura (CPC), fundado pela UNE nos anos 60. “Ferreira Gullar, um dos fundadores do grupo, dizia que a expressão ‘cultura popular’ surge como uma denúncia dos conceitos em voga na época e que escondem seu caráter de classe. Quando se fala nisso, acentua-se a necessidade de colocá-la a serviço do povo”, conta.

Esta forma também foi explorada por Oduvaldo Vianna Filho, o Vianninha, e Gianfrancesco Guarnieri, que trouxeram novas perspectivas aos textos e às montagens teatrais brasileiras, realizando-as em sindicatos, fábricas e favelas. O movimento trouxe à cultura um caráter engajado e que não poderia estar desvinculado às discussões do contexto político da época.

Outro ponto debatido nesta definição é a influência da mídia, que pode se apropriar da cultura e transformá-la em subproduto de consumo do mundo globalizado. A especialista acredita que isto é decorrência desta nova forma de organização mundial, pois “os indivíduos têm necessidade de consumir tradições e costumes, eles têm uma carência constante de novos produtos culturais”, observa. Ela ainda vê que os detentores do poder determinam o que pode ser transformado em popular ou não, de acordo com seus interesses. “Elas são capazes de qualificar o que seja bom culturalmente, e se, determinada ação ‘cair no gosto’, como se diz popularmente, haverá um lobby que ligará a manifestação ao país de onde se originou”, relata.

Porém, iniciativas como a Lei Rouanet (Lei Federal de Incentivo à Cultura) têm colaborado para aumentar o número de projetos voltados para o incentivo de manifestações populares, ainda que uma boa fatia seja destinada à cultura dita ‘erudita’. “Ë possível dizer que, no Brasil, houve uma diminuição das distâncias entre as culturas populares e as eruditas”, analisa Luzia Ferreira.

Ela ainda acredita que a universidade é “um grande laboratório que, no caso das humanidades, tem como resultados o pensar. Há excelentes pesquisas nesta área que se colocadas em prática solucionariam muitas questões, porém ficam nas prateleiras e são consultadas por uma pequena elite. A USP, em 75 anos é produtora de teorias e práticas, e isso tem que ser utilizado senão o país não avança”, finaliza.