Greve não se inicia imediatamente

Assembléia do dia sete de maio, apesar de final conturbado, decidiu pontos importantes das próximas ações estudantis

A Assembléia geral dos estudantes que ocorreu quinta-feira, dia 7, e o que deveria discutir temas como a Univesp e a repressão a movimentos sociais, terminou sob gritos de “pelego!” e “oportunista” dirigidos à mesa. A reunião foi interrompida principalmente por militantes ligados ou simpáticos ao grupo Território Livre (chapa para DCE oriunda do Movimento Negação da Negação – MNN) junto à Aliança Juventude Revolucionária (braço do Partido da Causa Operária – PCO) e independentes. Eles encararam a decisão da Assembleia de dissolver temporariamente o comitê de mobilização como uma forma de manobra. O comitê que existia até antes da assembléia tinha maioria do Território Livre (além de independentes do Crusp) desde que foi abandonado pelo DCE dia 30 de abril. A decisão da Assembléia do dia 7 cria, na prática, um novo comitê, que deverá ser mais heterogêneo.

A participação no comitê permanece aberta, mas será limitada a cinco delegados de cada curso com direito a voto. Após a decisão, a Assembléia se tornou tumultuada e inoperante, o que fez com que o DCE a encerrasse. Em seguida, sob gritos de “ocupa o DCE!”, os grupos opositores às propostas vencedoras -praticamente metade dos presentes – se retiraram para o centro de vivência, onde funciona a sede ocupada do DCE.

Embora a maior parte dos temas centrais planejados para a Assembléia não tenham sido discutidos, chegou-se a decidir que os estudantes não entrariam em greve imediata. Por 184 votos contra 151, decidiu-se que tampouco seria colocado um indicativo de greve. Com apoio de militantes do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) e da atual gestão do DCE, Nada Será Como Antes!, ligada ao PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados), ganhou a proposta de uma construção mais prolongada da greve, sob o argumento de que uma greve imediata seria restrita à chamada “vanguarda” do movimento estudantil: o grupo reduzido de militantes, normalmente ligados a agremiações políticas, que conduzem o referido movimento. Além dos dois partidos, também votaram contra a greve imediata militantes da LER (Liga Estratégia Revolucionária), do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e do PT (Partido dos Trabalhadores). “Do lado do DCE estavam praticamente todos os partidos que atuam dentro da USP”, comenta Júlio Mariutti, do MNN que, junto a simpatizantes e à AJR, votaram contra as propostas vencedoras.

O estopim que gerou o tumulto na assembléia, no entanto, foi a resolução sobre como deveria ser constituído o comitê de mobilização. O comitê tem a finalidade de encaminhar as decisões da assembléia e construir, entre os estudantes, um clima propício para a greve a partir de debates, atos, panfletos etc. Até então, o comitê era formado por qualquer estudante que quisesse integrá-lo, sendo que a maioria dos voluntários eram militantes ligados ao grupo Território Livre. Como foi reportado em matéria da última edição do JC, o DCE havia deixado o referido comitê, acusando os militantes do grupo Território Livre de tomar decisões que vão além das atribuições meramente executivas do grupo. Ana Beatriz Moreira rebateu as acusações, dizendo que era o DCE quem agia contra a Assembléia – instância máxima do movimento estudantil – ao abandonar e não reconhecer um comitê criado pela mesma.

Na última assembléia, houve uma modificação do comitê. Ao invés de ser composto por qualquer estudante que queira juntar-se a ele, decidiu-se que até 5 representantes de cada curso, serão eleitos em reuniões abertas dos Centros Acadêmicos ou em Assembléias dos cursos. A proposta, foi defendida pelo DCE e pelo PSOL como forma de gerar uma mobilização maior nas bases estudantis, uma maior “capilarização” do movimento, como foi colocado por um militante do PSOL. Como resultado, o comitê será, teoricamente, composto por um grupo mais variado de representantes, diminuindo o peso das decisões do Território Livre e dos estudantes que atualmente estão no comitê. Foi decidido que sua próxima reunião deverá acontecer no dia 18 de maio, quando os representantes já deverão ter sido eleitos. Na prática, isso dissolve o comitê de mobilização por cerca de 11 dias.

O grupo Território Livre propôs então que fosse votada a manutenção de um comitê de mobilização aberto até que os representantes fossem eleitos. A proposta foi negada pelo DCE, que argumentou que isso já havia sido discutido e que a decisão por uma nova reunião somente no dia 18 deveria ser mantida. A partir disso, papéis foram jogados nos representantes da atual gestão do DCE, que conduziam a discussão. A polarização entre um grupo composto majoritariamente por PSOL e PSTU, além de LAR, PCB e PT e um outro, aparentemente equivalente numericamente, composto pelos grupos Território Livre, alguns representantes do PCO e independentes era clara, visto que a mesa havia orientado para que os favoráveis à proposta de um conselho formado por até cinco representantes de cada curso se concentrassem de um lado e os favoráveis a uma comissão formada por qualquer um que quisesse participar se concentrassem de outro. Essa foi a saída encontrada pela mesa de facilitar a verificação dos votos, visto que as últimas contagens haviam obtido resultados acirrados. “Ao contrário do que a matéria deu a entender, havia uma polarização bem forte, em que o grupo minoritário [simpatizantes do mnn e pco] tinha 150 votos”, comenta Júlio Mariutti, militante do Território Livre.