Falta de verba prejudica pesquisas sobre vacina brasileira contra o HIV

Professores da FMUSP buscavam uma versão que pudesse abranger as diversas mutações do vírus

A Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) pesquisa uma nova vacina contra o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV, da sigla em inglês). Porém, a falta de verba pode comprometer a continuidade desses estudos. O imunologista Edécio Cunha Neto, um dos responsáveis pela vacina, afirma que seriam necessários cerca de US$500 mil. As vacinas criadas até hoje não obtiveram sucesso, pois o vírus é capaz de sofrer diversas modificações.  Essa nova tentativa visa abranger o maior número possível de mutações do vírus.

Cunha Neto explica que a pesquisa necessita de um espaço de pesquisa com segurança nível III “para abrigar e manipular animais infectados pelo Vírus da Imunodeficiência Símia, similar ao HIV”. No entanto, esse tipo de laboratório não existe no Brasil,sendo necessária que essa fase seja feita na Universidade de Winscosin , nos Estados Unidos, que dispõe da estrutura adequada.

Inicialmente, os pesquisadores fizeram uma solicitação de verba para o HIV Vaccine Trials Network e para o Center of HIV/AIDS Vaccine Immunology, mas o pedido não foi contemplado. “Dificilmente uma agência de fomento como a Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo] ou CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], disponibilizariam tal montante para ser empregado essencialmente no exterior”, declara Cunha Neto. Sem este financiamento, só órgãos governamentais, como o Ministério de Ciência e Tecnologia, podem viabilizar a continuidade do estudo. O pesquisador salienta a dificuldade de apoio devido aos aspectos diferenciados da pesquisa.

Forma de ação

O caráter inovador da vacina está na forma de combate ao vírus. “A maioria deste tipo de vacina se foca apenas na indução de respostas de linfócitos [células de defesa], que matam diretamente as células infectadas. Entretanto, é necessário estimular outros linfócitos, indispensáveis para o desenvolvimento adequado dos que combatem o HIV”, explica o pesquisador.

O grupo de pesquisa selecionou, para isso, 18 fragmentos de DNA do vírus capazes de produzir as respostas imunológicas desejadas. “Testes em camundongos de diferentes raças mostraram que tal vacina induzia uma resposta tanto dos linfócitos que combatem o HIV quanto dos que potencializam a ação dessas células”, diz o imunologista.

Para se tornar comercialmente viável e eficaz, Cunha Neto destaca a necessidade de se acoplar essa vacina a um vírus atenuado ou vacina atenuada, como ocorre no caso da vacina da febre amarela. “Embora não proteja contra o contágio, seu uso reduziria a quantidade de vírus no organismo, diminuindo em muito a chance de transmissão do HIV-1 e atenuando a infecção”, comenta ele. “Caso a etapa de testes em primatas tenha êxito, a vacina estaria pronta para testes em seres humanos, que poderiam ser realizados com a estrutura já disponível na FMUSP”.