Banco União Sampaio, na Zona Sul, foi inaugurado no último dia 27
A Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da USP (ITCP-USP), a União Popular de Mulheres de Campo Limpo e Adjacência e a Rede Solidária da Zona Sul inauguraram no sábado (27), o Banco União Sampaio.
Nos últimos 15 dias, o ITCP inaugurou outros quatro bancos em associação com movimentos de moradia. Os locais beneficiados são Cidade Tiradentes (Zona Leste), Jardim São Luís (Zona Sul), COHAB Apuanã (Zona Norte) e COHAB Vista Linda (Zona Oeste). Eles estão em fase de consolidação, operando transações bancárias e ampliando parcerias com o comércio local. A moeda social local ainda não está em circulação.
O que o diferencia o União Sampaio dos outros bancos é que o ITCP trabalha intensamente na região desde 2001. De acordo com Rebeca Regatieri, coordenadora executiva do ITCP, a expectativa é forte porque ali os empreendimentos e parcerias estão mais consolidados. “A expectativa agora é formar grupos produtivos articulados com o banco. A gente faz o mapeamento do consumo e da produção, para ver o que pode ser produzido localmente”, diz.
O banco elimina o gargalo do acesso ao microcrédito, problema enfrentado por todos os empreendimentos ligados à incubadora. De acordo com Rebeca, os empreendimentos estão em setores de trabalho intensivo, como a costura e o artesanato, mas mesmo precisando de poucos recursos, tem dificuldade de acesso.
No Banco União Sampaio vai circular a moeda “Sampaio”. Cada “Sampaio” equivale a R$1 e haverá dois tipos de crédito: o crédito produtivo, em reais, voltado para quem quer empreender um pequeno negócio, com taxas de juros abaixo do mercado, e o crédito para o consumidor, limitado a 200 “sampaios” por pessoa, sem juros, para devolução em 30 e 60 dias. A colocação de uma moeda local em circulação faz com que a riqueza gerada permaneça na comunidade.
A moeda será aceita nos estabelecimentos que tenham feito parceria com o banco. Antes da inauguração, cerca de 10 estabelecimentos já haviam manifestado interesse em aceitar o “Sampaio”. De acordo com Rafael Mesquita, coordenador da União Popular de Mulheres e gerente do banco, a idéia também despertou interesse dos cerca de 500 moradores que circulam por dia na Casa da Mulher: “Sempre acaba o dinheiro mais cedo, acaba o gás e precisa pedir emprestado. Tendo um lugar assim, eles acreditam que seria melhor. Tem um grupo de geração de renda na Casa que já está pensando na lojinha, em comprar equipamentos. O grupo de costureiras e os grupos vinculados à rede também tem expectativas muito boas”, diz.
Também já foram feitas reuniões com representantes das escolas, unidades de saúde, do CEU Campo Limpo, associações de bairro e de futebol, entre outras. As associações podem participar da gestão do banco por meio do conselho gestor consultivo. O banco pretende organizar a economia local e o conselho servirá para estabelecer diretrizes.
Rebeca informou que a incubadora iniciou a elaboração do projeto há dois anos, junto com o Instituto Palmas e a Secretaria Nacional de Economia Solidária. O Instituto Palmas foi o criador da primeira iniciativa desse tipo, em 1998. Para ela, o ITCP contribuiu construindo e discutindo um conhecimento que resulta do encontro do acadêmico com o popular. “Quando esses dois se encontram, constroem outro conhecimento”, diz.
A carteira de crédito administrada pelos bancos provém do Banco Popular do Brasil e foi concedido R$ 50 mil, para ser gasto em cinco meses. Rebeca conta que o juros ficará entre 2 e 4% e seu cálculo contraria à idéia vigente no mercado formal. No banco comunitário, quem pega menos dinheiro emprestado paga uma taxa de juros menor, porque tem menos condições de pagar e quem pega mais dinheiro emprestado, paga uma taxa de juros maior porque pode pagar mais. “É uma forma de ir pensando a própria comunidade”, diz Rebeca.