Pesquisa tem recursos, mas sofre entraves

Parcerias da universidade com a iniciativa privada são opção ainda desconhecida e pouco estimulada, apesar da demanda

Financiamentos à pesquisa na USPA USP é a instituição que mais recebe investimentos da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), as maiores agências de fomento à pesquisa do país. Em 2008, foram mais de 304 milhões de reais em bolsas e auxílios só da Fapesp. Mas a universidade ainda encontra dificuldades financeiras, burocráticas e de infra-estrutura para desenvolver seus projetos.

Reagentes importados demoram até 5 meses para chegar ao Brasil. Segundo a professora do Instituto de Química Antônia Tavares do Amaral, “no exterior eles são entregues no máximo em 3 dias”. A doação de reagentes à USP por entidades estrangeiras poderia minimizar os custos. Entretanto, “estes produtos são taxados na alfândega porque o limite para entrar gratuitamente no país é de 20 unidades”, diz a pesquisadora. Quem paga a conta é a própria Fapesp, com dinheiro público, já que ela recolhe 1% da receita tributária do Estado. Ou, então, o CNPq, que é mantido com recursos do Tesouro Nacional.

No campus de São Carlos, a criação recente do curso de Engenharia de Computação trouxe 20 novos docentes ao Departamento de Engenharia Elétrica, mas não houve expansão física para acomodá-los. A Prefeitura cedeu o terreno para a construção do Campus 2, mas enquanto as obras não são concluídas, os professores compartilham os laboratórios.

Falta dinheiro?

Rodrigo Andrade Ramos, professor da Escola de Engenharia de São Carlos, diz que teve dificuldades quando pleiteava sua bolsa de mestrado pela Fapesp por conta do aumento na demanda por bolsas desse tipo, mas acredita que “a situação da pesquisa na USP é satisfatória”. É o que sustenta também José Fernando Perez, Diretor Científico da Fapesp de 1993 a 2005. “Desafio alguém a provar que algum projeto bom foi reprovado por falta de dinheiro. O que falta é demanda qualificada”, fala.

Parceria como opção

Uma alternativa possível, porém pouco recorrente na USP, são as parcerias com empresas privadas. Perez saiu da Fapesp e fundou a Recepta Biopharma, empresa que hoje é parceira do Instituto Butantan e da Faculdade de Medicina da USP. Ele defende que a parceria não fere a “missão da universidade”, que é formar recursos humanos. “Ambos precisam ter em mente que a universidade não é instrumento e nem prestadora de serviços da empresa”, afirma.

A Pró Reitora de Pesquisa da USP, Mayana Zatz, diz que as parcerias são escassas porque não fazem parte da cultura do Brasil. “Nos EUA, se meu pai morreu de Alzheimer, por exemplo, a minha empresa financia pesquisas sobre a doença. No Brasil existe preconceito em relação a isso”, afirma Zatz.

Porém, poucas medidas são tomadas para estimular as parcerias. A lei que dá incentivos fiscais aos parceiros ainda não é conhecida pelas próprias empresas. A professora Tavares do Amaral sugere a criação de um “portfólio de ideias”. Inspirado no modelo de Cambridge, o local virtual serviria como vitrine para as empresas e resolveria o problema da visibilidade dos projetos.