Saindo do Ninho

Entre uma aula e outra, a USP vira palco de diversas atividades culturais – do cinema aos gibis, algumas chegam a fazer sucesso fora da Universidade
(ilustração: Ana Marques)
(ilustração: Ana Marques)

Alguns anos, muito trabalho e, no final, um diploma. Para boa parte dos estudantes, essa é a fórmula básica para a conquista de uma profissão e, como consequência, o início de uma grande carreira. Para outros, porém, o ambiente universitário proporciona experiências e vivências que vão além das cadeiras da sala de aula e que estimulam, também, a realização de projetos que ultrapassam até os muros da Universidade. No caso de trabalhos audiovisuais, o que não faltam são exemplos de produções que tiveram ampla repercussão.

Foi o que aconteceu com a diretora Vera Egito (leia a entrevista na íntegra). Filmado em tempo recorde, seu trabalho de conclusão do curso de Audiovisual, o curta-metragem “Espalhadas pelo Ar”, foi destaque na semana da Crítica de Cannes, em 2009. Formada em 2007, Vera conta que, ao entrar na USP, jamais havia feito vídeo algum. Apesar disso, “Espalhadas” teve sucesso imediato, ao estrear no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, e ser mandado a Cannes logo a seguir.

Segundo ela, ser filmado como um tcc fez de “Espalhadas” um filme muito universitário: desde a equipe, toda composta por colegas de curso, até a inspiração para o roteiro. Mesmo a ideia por trás de Espalhadas surgiu de uma conversa com uma amiga, que fumava nas escadas de seu prédio, tomando o cuidado de tirar as roupas para evitar o cheiro do cigarro.

Aliás, Vera considera que a convivência e a troca de conhecimentos com os colegas da faculdade foram muito importantes para o seu desenvolvimento. “Toda a minha formação como realizadora foi um processo coletivo”, diz. “A faculdade foi um processo intenso, de vida, de criação, de tudo o que me transformou”, garante.

Orientadora de Vera, a professora Vânia Debs concorda que a convivência universitária foi essencial para a realização de “Espalhadas” – o contato com amigos acaba agregando uma série de novos elementos, incorporados pelos futuros cienastas: “Muitos saem da faculdade e continuam juntos em produtoras, desenvolvendo trabalhos no mercado profissional”.

O apoio da universidade, tanto no sentido material quanto no de orientação, foi outro ponto levantado por Vera. O equipamento utilizado para filmagens, por exemplo, foi todo adquirido com a ajuda de parcerias da ECA com empresas de locação. De outro modo, o filme dificilmente ficaria pronto, uma vez que tudo era muito caro.

Antes e depois

Para Andréa Midori Simão e Thiago Faelli, os anos de universidade trouxeram, além de um casamento, a possibilidade de realização de “Obra Prima”, escolhido como melhor curta pelo júri popular na 13ª Mostra de Cinema de Tiradentes, em janeiro desse ano. Apesar de ter sido produzido depois da faculdade, a equipe do filme era composta basicamente por colegas do curso.

Rodado em 17 diárias, num período de um ano, o filme fugiu um pouco do tradicional: produzido sem o auxílio de nenhum edital e sem dinheiro para pagar a equipe, os dois diretores precisaram contar com o apoio de mão de obra amiga. O cotidiano do set, no entanto, prejudicou algumas relações. “Foi um filme feito a custo zero, mas a custo de muitas amizades”, diz Midori.

Baseada nos projetos que participava em paralelo às aulas, Midori fala ainda sobre a importância de atividades extraclasse para a formação do aluno. Para ela, o “Hirros de Tchê”, circuito interno de televisão transmitido para os alunos da ECA entre os anos de 2000 e 2002, foi uma chance de pôr em prática tudo aquilo que aprendia. Através do rodízio de funções, todos podiam experimentar e conhecer um pouco de cada área. De acordo com Midori, foram experiências que fizeram a diferença para a sua afirmação como cineasta: “Até hoje ainda devo muito a todas aquelas pessoas”.