Sites estimulam debate político

Movimentos online vêm criando uma nova esfera de pesquisa e discussão sobre a política

Em tempos de eleição, a legitimidade dos candidatos, do voto obrigatório e até mesmo do sistema democrático, é questionada. Parte da população desacredita na capacidade de transformação da política e engrossa comentários pouco otimistas quanto à eficiência de votar e participar politicamente. Na internet, contudo, um movimento vem ganhando força e transformando o voto em parte de uma ação engajada em pesquisar, investigar e opinar sobre política. Trata-se da “webcracia” ou “movimento cidadão online”. Segundo a equipe do “Webcitizen”, empresa de tecnologia digital que propõe aproximar os cidadãos e promover o engajamento cívico, trata-se de um movimento de participação no qual a internet serve como base, fornecendo ferramentas e plataformas que são capazes de potencializar o exercício da democracia.

Massimo Di Felice, professor da ECA e coordenador do Centro de Pesquisa ATOPOS, que investiga o impacto das tecnologias digitais na sociedade, afirma que iniciativas e comportamentos que surgem na internet são resultados da revolução tecnológica que vem ocorrendo, responsável pela mudança em muitos campos de sociabilidade. Para Massimo, um outro tipo de cultura surgiu, diferente da tradicional: a cultura da colaboração. O professor ressalta ainda que a sociedade está vivendo uma nova forma de interação social. A tecnologia deixa de ser um elemento externo e passa a fazer parte de nós.

Segundo o professor, a relação entre política e mídia está mudando, mesmo sendo uma relação de longa data. “A relação entre democracia e mídia é tão antiga quanto o homem”, diz. Estamos diante de um novo modelo democrático, que provavelmente nem possa mais ser chamado assim, por se tratar de algo inteiramente novo. É a participação direta e presente, que exige retorno e transparência.

Iniciativas na web

Um dos exemplos é o “Repolítica”, site que analisa e compara políticos com base na opinião dos usuários, dados da ONG Transparência Brasil e do TSE. Quando o internauta entra no site, responde oito perguntas que definem o seu “político ideal”, isto é, aquele cujas propostas vão de encontro às suas expectativas. Daniel Veloso, um dos criadores, diz que a página tem atualmente cerca de 2 mil pageviews por dia e quase 70% deles são usuários novos. Ele conta ainda que nenhum dos quatro “inventores” do site é especialmente engajado, militante ou tem uma preferência partidária definida. “A cada eleição gostávamos de saber quem tinha melhores condições de nos representar e tínhamos dificuldade em pesquisar entre as informações disponíveis”.

Exemplos de sitesO “Vote na Web”, um dos principais projetos do “Webcitizen”, segundo Fernando Barreto, um dos criadores, foi feito para oferecer ao cidadão “uma maneira fácil, simples e direta de acompanhar o trabalho dos parlamentares”. O site se compromete a disponibilizar todos os projetos de 2010 e, pelo menos, um projeto de cada um dos 680 parlamentares, que podem ser votados pelos usuários que se cadastram. Os políticos podem acessar o site e acompanhar a votação no projeto de lei criado por ele ou por outro político. Além disso, podem interagir e defender seus projetos. “Queremos apresentar informações sobre projetos de lei de forma tão simples e direta que votar e discutir sobre, se torne quase que atividades de entretenimento”, explica. Atualmente o site tem mais de 12 mil pessoas cadastradas, 200 mil votos computados e 6 mil comentários.

Iniciativas na web

Cerca de quarenta alunos de unidades da USP como ECA, FAU, FFLCH, IME, FEA, Poli, Faculdade de Direito do Largo São Francisco, entre outros, procurados pelo JC, afirmaram usar a internet quase que diariamente. Entretanto, a política não costuma ser um tema frequente nas discussões que realizam virtualmente. Dentre os entrevistados, poucos conhecem sites de participação política e um número ainda menor os utiliza de forma ativa.

Os defensores da “webcracia” apostam no potencial brasileiro para avançar na área. Daniel Veloso acredita que as pessoas têm percebido que podem mudar o país, e com isso, participam mais das questões políticas e sociais. “É um sistema que se realimenta: quanto mais as pessoas percebem que podem fazer, mais elas se interessam em fazer e mais fazem”. Fernando Barreto acredita que, devido ao grande número de usuários de internet, o Brasil tem grande potencial para a cultura da participação e completa “se conseguirmos fazer com que as pessoas que têm acesso à internet votem ao menos em um projeto de lei por dia, acredito que teremos uma força incrível”.