Curtas e grossas

Os barracões da avenida Professor Lúcio Martins Rodrigues serão demolidos e, para o local, estão planejados dois edifícios cuja entrega deve levar dois anos (matéria “Todos os barracões serão demolidos“). Quem é leitor do Jornal do Campus sabe que a Reitoria não é muito fã de cumprir prazos de obras. Portanto, o jornal começa mal com o tema ao não exigir garantias de que a universidade não está plantando mais um esqueleto de concreto. No mínimo, uma tabela mostrando o tempo planejado e o cumprido das obras dos últimos dez anos seria algo didático e constrangedor.

O problema do texto “Usuários da USP questionam critério de acesso ao Campus” não está na execução e sim na pauta. Até a mais fina marmota que chafurda a Praça do Relógio sabe que o problema de acesso ao campus não são os critérios adotados pelas portarias, mas sim os muros que envolvem a universidade e a tornam uma bolha para alguns milhares que se beneficiam de sua área verde a qualquer hora enquanto milhões só podem em horários específicos. Hã? O quê? Pública? A USP? Não! Imagina… Se fosse, o JC discutiria a derrubada de muros e não a regulamentação de portarias.

No texto “Liberdade e ética integram discussão sobre voto obrigatório“, a matéria está construída de modo a parecer que há consenso sobre a necessidade de uma reforma política no país. Ai, como eu gostaria que as coisas se decidissem assim, por canetada jornalística, ignorando a realidade. A reforma agrária já teria sido posta e realizada há muito tempo…

Um representante da Federação Paulista de Triathlon deu a entender no texto “USP não se decide sobre situação de assessorias esportivas no campus” que a universidade não barraria os esportistas pois personalidades influentes treinam no local. Eu li o mesmo que vocês? Pô, e não perguntaram os nomes? Aliás, o jornal deveria ir atrás e saber quem é essa “gente importante” que pressiona a USP para manter os portões abertos. E pedir ajuda para que nunca se fechem os do campus ao restante da sociedade – como discutido dois textos acima.

Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política. Cobriu conflitos armados e trabalhou em diversos veículos de comunicação, tratando de problemas sociais brasileiros. É atual coordenador da ONG Repórter BrasilFale com o ombudsman.