USP não se decide sobre situação de assessorias esportivas no campus

No Segundo Fórum Permanente do Espaço Público da USP, que reuniu as comunidades que convivem na Universidade, foi retomada a discussão sobre possíveis restrições à prática de esportes dentro do campus. Entre eles, está a questão da utilização de carteirinhas e cobrança de taxas dos atletas que frequentam a Cidade Universitária, boato surgido entre os esportistas no final do ano passado e que os colocou em alerta para esse tipo de medida.

Augusto Barradas, treinador da Limiar Assessoria Esportiva, conta que o atual reitor João Grandino Rodas negou os boatos e disse que buscaria uma forma de regulamentar a prática. Os planos para essa regulamentação ainda estão em discussão, como afirmou Cristina Guarnieri, diretora de Relações Institucionais da Coordenadoria do Campus da Capital (Cocesp). Com a nomeação do novo coordenador em agosto, o professor Geraldo Francisco Burani, as medidas “ainda estão em estudo junto a Cocesp”.

Atletas treinam na Av. Professor Melo Morais (Foto: Karin Salomão)
Atletas treinam na Av. Professor Melo Morais (Foto: Karin Salomão)

Para Toninho Macchione, relações públicas da Federação Paulista de Triathlon, apesar de importante, o Fórum é dirigido por funcionários que dependem da Reitoria e já vêm com um discurso pronto para a discussão. Ele explica que já houve tentativas de tirar os ciclistas da Cidade Universitária, mas, com a pressão dos interessados, a proibição não se efetivou. Ele diz que a USP não tiraria os esportistas do campus, até mesmo porque personalidades influentes como empresários, pilotos de corrida e políticos treinam no local.

Cerca de 120 assessorias esportivas usam a USP para o treino. Só no sábado 8000 pessoas treinam na Cidade Universitária, segundo a Associação dos Treinadores de Corrida de Rua de São Paulo. Barradas explica que a Cidade Universitária tem um bom espaço para a prática, sobretudo ao ciclismo.

Para Gerson Mendonça, atleta que pedala no campus há cerca de cinco anos, “é um dos únicos espaços que a gente tem para isso”. Ele acredita que a presença das assessorias é boa, a medida que propõe a utilização de seu espaço para uma prática saudável. “Acho importante a presença das assessorias, porque elas estão incentivando as pessoas a praticarem esportes”, explica ele.

Entre as vantagens da prática do ciclismo na Cidade Universitária está a possibilidade de agrupar participantes, o que não é possível nas demais vias urbanas. Enquanto para os ciclistas há mais liberdade, para os motoristas o cuidado tem que ser redobrado no campus em fins de semana. “O ruim é para quem está dirigindo, pois chega a demorar dez minutos para sair da rotatória porque os ciclistas ficam no meio da rua”, explica Márcia Trento, aluna do quarto ano de arquitetura da FAU.

Campus e cidade

O professor Bruno Padovano, coordenador científico do Núcleo de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo da FAU, afirma que é importante o espaço da universidade pública estar mais integrado à cidade, e o esporte faz esta conexão urbana e humana, “não sou apenas favorável às atividades esportivas no campus, mas igualmente a favor de outras formas de tornar a USP mais integrada à cidade”.

Ele sugere que os bons urbanistas e paisagistas que a Universidade possui elaborem o melhor aproveitamento do espaço público, junto com os esportistas. É o que defende também Toninho, que diz que o ideal seria que a USP criasse uma solução “sem preconceitos”, e não através de uma decisão unilateral como ele acredita que ocorre com o Fórum. Gerson Mendonça concorda: “acho válido ter um controle, se não for um controle social. Ele deve ser democrático”


USP é procurada por falta de planejanto urbano para esportes

A presença das assessorias esportivas no campus coloca em evidência um problema maior de falta de lugares adequados para a prática esportiva na cidade de São Paulo, o que leva os atletas a procurarem espaços com mais estrutura como a Cidade Universitária.

O professor Bruno Padovano da FAU diz que, não havendo conflitos, não há problemas em usar um espaço com tanta área verde ociosa para a prática esportiva, “especialmente numa cidade tão carente disso”. Márcia Trento, aluna da FAU, concorda: “a Universidade é um espaço público, então por que os atletas não poderiam utilizar o campus?”

Padovano ainda diz que “uma solução melhor seria todo um planejamento de instalações esportivas adequadas ao uso e bem distribuídas pela cidade, para que os praticantes não precisassem se deslocar”. Ele sugere que é preciso aproveitar espaços flexíveis para o esporte: “a possibilidade de se permitir atividades múltiplas em espaços flexíveis é muito interessante em países com menos recursos, como o nosso. Por exemplo, estacionamentos usados de dia que à noite se transformam em locais para esportes, ‘piscinões’ adaptados em campos em épocas de seca e parques lineares que incluam espaços esportivos”.