Reitoria usa legislação da ditadura

O Jornal do Campus acerta em cheio nos temas abordados em sua edição de número 393. Um dos destaques vai para a boa reportagem assinada pelos repórteres Leonardo Fernandes, Alessandra Goes Alves, Carolina Santa Rosa e Daniela Frabasile sobre os estudantes que estão sendo processados pela reitoria da Universidade de São Paulo.

O leque de informações das matérias permite que o leitor construa opinião a respeito do tema. A pauta também merece destaque por ter destinado duas páginas da publicação para o aprofundamento do assunto.

Elogios extensíveis à editoria de imagem que valoriza a manchete com uma excelente fotomontagem baseada em registros de cenas sobre a repressão policial no campus da Cidade Universitária, no Butantã. As artes que ilustram as reportagens também harmonizam com o texto e permitem a amarração da informação, com uma leitura ágil dos principais trechos tratados nas matérias.

Em uma delas é facultado ao leitor fazer a comparação entre a legislação do período da ditadura militar utilizada pela reitoria da USP para punir estudantes oposicionistas e a legislação utilizada na condução de processos administrativos pelo Estado de São Paulo atualmente. Fica absolutamente claro para o leitor, que os trâmites jurídicos levados a cabo pelo reitor João Grandino Rodas contra os estudantes processados estão em total dissonância com as regras previstas em um estado de direito.

A ilustração da página 4 também é bastante feliz ao retratar o peso desproporcional da repressão contra estudantes que assistem ao ataque estupefatos. A única ressalva a fazer é que foram oito e não seis, os estudantes expulsos pela reitoria no final do ano passado. É verdade, que dois deles já não cursavam mais a Universidade, mas assim como os outros cinco que ainda não obtiveram da justiça liminar que os reintegre ao quadro discente da USP, estão impedidos de prestar novo vestibular ou concurso público para trabalhar na instituição.

O outro destaque vai para a também boa reportagem de Jéssika Morandi e Juliana Mendonça Santos sobre o drama enfrentado pelas mães estudantes que vivem na USP. A matéria mostra de uma maneira suave como é dura a vida dessas mulheres que optaram por estudar e criar os filhos ao mesmo tempo. O texto construído evidencia que a Universidade de São Paulo não está preparada para atender a essa demanda.

A condição imposta pela estrutura universitária da principal e mais importante instituição de ensino superior do país, a essas mães e seus filhos, funciona como uma verdadeira punição.

Lúcia Rodrigues é jornalista e cientista social. Já trabalhou na revista Caros Amigos e no jornal Folha de São Paulo. Atualmente, é repórter da Rádio Brasil Atual. Você, leitor, também pode entrar em contato com a nossa ombudsman. Basta mandar um e-mail para luciarodrigues[@]estadao.com.br