Dentro ou fora dos ringues, um grande apaixonado pelo boxe

Ding!

Ao soar da sineta sobre a mesa do professor Luiz Carlos Fabre, os alunos da aula de boxe; saem do breve descanso e voltam ao trabalho: treinam no ringue, se exercitam no chão, acertam os sacos de pancadas.

Quem vê o professor talvez não saiba, mas sua vida inteira foi dedicada ao esporte. Só no CEPE já são quase 40 anos de história.

Fabre nasceu no Alto da Lapa em 14 de fevereiro de 1948. Ainda criança começou a brincar de lutar boxe com um amigo, que tinha acabado de ganhar um par de luvas. Percebendo o interesse do menino, o pai, argentino, o matriculou no Clube Nacional, onde passou a lutar. “Ficávamos só brincando, não tinha técnica”, declara o instrutor, que por isso sempre priorizou o ensino dos fundamentos. “Sinto que se eu tivesse aprendido o método correto no início, teria evoluído muito mais”.

Aos 13 anos, já disputava contra adultos para poder “lutar pesado”, ainda que sob os protestos do técnico, que temia que ele se machucasse. “Sempre fui muito teimoso”, ri o ex-peso médio.

Pouco depois entrou no primeiro torneio: o Campeonato de Estreantes, promovido pela Gazeta Esportiva. A derrota, para sua tristeza, veio na primeira luta. “Fiquei muito decepcionado, não fui treinar por duas semanas”.

A persistência foi mais forte, no entanto, e aos 15 anos, usando um documento falso, Fabre se inscreveu como adulto no Torneio Estímulo e obteve sua primeira premiação. No mesmo ano recebeu também títulos do Campeonato Paulista, Brasileiro, e do Torneio dos Campeões.

Daí para frente, não saiu mais do boxe. Após concluir o ensino médio (dois anos atrasado, por conta de uma temporada lutando na Europa), ingressou na EEFE, que na época funcionava no Ginásio do Ibirapuera. “Era engraçado. Durante a semana eu estudava lá, e no sábado e domingo subia no ringue”, comenta o ex-pugilista, dono de um invejável cartel profissional com mais de 60 vitórias, duas derrotas e nenhum empate. Dentre as conquistas, um vice-campeonato Pan-Americano e o título Latinoamericano, para Fabre o mais valioso de seu currículo.

A transição para professor foi gradual. Fabre passou a dar aulas enquanto ainda competia profissionalmente. “Eu só sabia que gostava do boxe, não queria me afastar”, explica. A aposentadoria após cerca de 16 anos de carreira permitiu maior dedicação ao ensino e lhe rendeu postos de treinador no Centro Olímpico, em colégios do Estado e no CEPE, onde está desde a sua inauguração na década 1970.

Dos muitos pupilos guarda boas lembranças, mas ressalta que nunca incentivou nenhum a competir profissionalmente. Contrastando com as enormes e rudes mãos, o professor guarda no peito uma preocupação paternal pelos discípulos. “O boxe é um esporte muito bruto. Ficaria muito chateado se alguém se ferisse”. Foi para eles que o professor organizou, anos atrás, um encontro com Éder Jofre, apontado como o maior pugilista brasileiro de todos os tempos, e amigo de longa data do antigo campeão. “Infelizmente acabamos perdendo contato com o tempo”.

Ao sineta soa de novo e Fabre, orgulhoso, observa os aprendizes. “Gosto de dar aula para universitários. É muito legal ver esses alunos, alguns muito maiores do que eu, e que sempre me tratam com carinho”.

Em aula, Fabre preza pela técnica: “Se tivesse aprendido corretamente, teria evoluído muito mais” (Foto: Guilherme Speranzini)
Em aula, Fabre preza pela técnica: “Se tivesse aprendido corretamente, teria evoluído muito mais” (Foto: Guilherme Speranzini)