Aleijadinho 3D disponibiliza obras na web

 Um escâner capturou dados das esculturas do artista e o resultado já pode ser conferido diretamente na internet
Para chegar ao resultado final foram necessários um escâner tridimensional, 400 milhões de pontos e aproximadamente cem fotografias (Foto: Reprodução)

Agora quem se interessa por arte e história do Brasil colonial não preci­sa ir até Minas Gerais para poder conferir as obras de Aleijadinho. O Instituto de Ciências Matemá­ticas e de Computação (ICMC) de São Carlos, por uma iniciativa da Pró-Reitoria de Cultura e Ex­tensão Universitária (PRCEU), digitalizou as obras do artista e elas estão disponíveis em 3D na internet, para que o usuário aces­se de seu próprio computador.

De acordo com o professor José Fernando Rodrigues Júnior, coordenador de Aleijadinho 3D, “o objetivo era levar o conheci­mento científico produzido na Universidade para a sociedade em geral”. Ele conta que havia outros dois escultores em mente – Victor Brecheret, realizador do Monumento às Bandeiras, e Bruno George, que ilustrou Brasília com o monumento d’Os Guerreiros (Os Candangos) –, mas nenhum dos dois tinha uma quantidade tão grande de obras em um mesmo espaço quanto Antônio Francisco Lisboa. São 12 esculturas juntas no Santuário do Bom Jesus de Mato­sinhos, em Congonhas, além do próprio adorno da igreja. Como um adicional, este ano se com­pleta o bicentenário de morte do importante escultor do período colonial brasileiro.

A ideia do projeto surgiu em março de 2013 e começou a ser trabalhada quando a equipe foi para Minas Gerais captar os da­dos, os quais foram processados até o começo deste ano. Ao todo, um ano do planejamento à fina­lização. A pesquisa para o desen­volvimento do projeto envolveu a prospecção e a combinação de técnicas para processamento de dados em três dimensões de alta escala. O escâner da Universida­de, que seria usado a princípio, foi substituído por um da empresa Leica Geosystems, que ofereceria maior alcance de imagens.

Em uma outra etapa, as ima­gens obtidas foram tratadas e pintadas, os buracos nas escultu­ras, tapados, e o material, enviado para o site. “Tivemos que lidar com os desafios de um volume de dados muito grande, além de dados faltantes, como buracos e imperfeições, e tivemos que desenvolver um programa que colocasse todo o resultado digital em um ambiente interativo 3D”, conta o professor Rodrigues.

Como as obras se encontram a céu aberto, a iluminação natural poderia ser um problema para a captação precisa e equivalente das imagens. Assim, como explica o professor Mario Alexandre Ga­zziro, optou-se por um processo de coloração semiautomático, em que em determinada etapa os alunos e os parceiros adicionaram cor manualmente com base em fotografias dos trabalhos.

Ele ainda diz que não houve como colocar o equipamento para captação em todos os ângulos possíveis porque aí teriam que ser montados andaimes e estruturas que talvez comprometessem o sítio. Por conta disso, considera que tenha sido um trabalho tam­bém artístico, complementar às regiões esculpidas. Tratou-se de um processo bem manual e tra­balhoso de esculpir digitalmente e manter a qualidade das obras. “A do São Francisco de Assis foi a que mais demorou. Foram quase 16 horas até tapar os buracos finais dessa obra”, diz. “Afinal de contas, é uma obra do Aleijadinho, não pode ser feita de qualquer jeito”.

Algo parecido faz a National Geographic Channel em seu programa “Time Scanners”, em que oferece uma visão de diversos ângulos das pirâmides do Egito. Mas, de acordo com Gazziro, essas imagens nunca estiveram direta­mente ao alcance do público, de maneira que ele próprio tivesse autonomia para navegar por elas. E aí está a grande inovação de Aleijadinho 3D. A equipe do ICMC diz ter sido uma das primeiras a conseguir reunir todo esse volu­me de dados, com a qualidade de conteúdo que tem, e disponibi­lizar na internet, para que cada um possa acessar de seu próprio computador, a hora que quiser.

De acordo com os professores, antes esse sistema não era viável, mas “estamos em um estágio tec­nológico em que agora é possível, só estavam faltando iniciativas que colocassem todas essas tec­nologias juntas”. Segundo eles, há até dois ou três anos não havia capacidade computacional, e isso abarca velocidade de internet e capacidade de processamento dos computadores, além da dificulda­de técnica para se fazer a edição gráfica necessária. Rodrigues diz que a equipe, inclusive, passou por esse empecilho. No entanto, os professores ainda apostam que, após o resultado de Aleijadinho 3D, projetos semelhantes devem surgir em um futuro próximo.