Divulgação precária e crise afetam museus da USP

A Universidade de São Paulo possui no total 17 museus, seis deles localizados dentro da Cidade Universitária, segundo o site oficial da USP. Porém, nem todos são conhecidos, especialmente pela comunidade uspiana: enquanto o Museu de Arte Contemporânea (MAC) recebeu cerca de 227.000 visitantes só até agosto deste ano, o Museu de Anatomia Veterinária foi visitado por apenas 7.000 pessoas no ano de 2013 inteiro.

Além da pouca divulgação da maioria dos museus, a sinalização dentro da Cidade Universitária também é muito aquém do ideal, sendo difícil encontrar um museu mesmo depois de estar dentro do Instituto que o abriga. É o caso do Museu da Educação e do Brinquedo, do Museu de Anatomia Veterinária, do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) e do Museu de Geociências, por exemplo.

(Foto: Sara Baptista)

Entre as 17 instituições listadas pela USP, nove estão fechadas devido a reformas, incluindo o Museu Paulista – vulgarmente conhecido como Museu do Ipiranga – o mais tradicional da Universidade. O Museu de Anatomia Humana não está aberto ao público há mais de quatro anos e, devido à crise orçamentária, não tem previsão de abertura ou sequer de início da reforma. Já o Museu de Geociências não está oficialmente fechado, mas devido à ausência de vigia – e à falta de verba para a contratação de um novo – só está recebendo visitas agendadas. Segundo a especialista em museologia pelo MAE, Marjorie Medeiros, não há um regulamento que condicione o funcionamento dos museus à presença de um segurança, mas a instituição faz essa escolha quando o acervo tem valor significativo.

Na lista de museus da USP também consta a Casa de Dona Yayá (que fica fora do campus, na rua Major Diogo), um prédio histórico onde funciona um Centro de Preservação Cultural, mas que, de acordo com os funcionários, não é considerado um museu. De acordo com o Conselho Internacional dos Museus (ICOM, na sigla em inglês), “o museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que promove pesquisas relativas aos testemunhos materiais do homem e do seu ambiente, adquire-os, conserva-os, comunica-os e expõe-nos para estudo, educação e prazer”.

EXTENSÃO

Os museus se enquadram no conceito de Extensão, ou seja, são uma forma de retribuir para a sociedade o que ela investe na USP, através do pagamento do ICMS, e fazer com que ela tenha acesso ao conhecimento aqui produzido. No entanto, nem todos são gratuitos e atualmente apenas 6 funcionam aos finais de semana. A presença de monitores capacitados para prover explicações também não é unânime e, na maior parte dos casos, ela se restringe a visitas agendadas por escolas.

Segundo a Pró-Reitora de Cultura e Extensão, Maria Arminda do Nascimento Arruda, “a USP tem um patrimônio museológico inestimável, praticamente nenhuma universidade do mundo tem igual”. Porém, o que vemos hoje é um aproveitamento muito pequeno desse patrimônio por parte da sociedade. Nilson Sousa, ex-funcionário do Museu de Anatomia Veterinária, conta que costumavam ser realizadas iniciativas como palestras e um museu itinerante. “Era para tirar essa ideia de que o museu era só aberto para escolas”, diz. Tais atividades de Cultura e Extensão continuaram mesmo após o fechamento do Museu, mas foram encerradas em 2010.

No MAE, o espaço expositivo está fechado desde 2010 e com a inauguração prevista para dezembro deste ano, mas são realizados empréstimos de peças para exposições externas. Além disso, semanalmente são oferecidas atividades educativas abertas ao público, que em 2013 atraíram cerca de 80.000 participantes.

O Parque dos Museus, que abrigaria o Museu de Arqueologia e Etnologia e o de Zoologia, é uma construção que foi planejada para facilitar o acesso e a visibilidade de tais instituições. Contudo, a obra vem sendo idealizada desde os anos 1990 e até hoje a construção não foi concluída.

Frente a inúmeras dificuldades de acesso e de divulgação, os museus da USP acabam recebendo quase que somente visitas de escolas. A falta deste canal de comunicação com a comunidade contribui para que o conhecimento permaneça restrito.

por SARA BAPTISTA