Centenas de pessoas visitaram a Universidade no último fim de semana (11 e 12 de setembro) para participar da I Virada Científica da cidade de São Paulo. O evento, organizado pela USP e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico (CNPq/MCTI) contou com mais de 80 atividades, a maioria delas sediada na Cidade Universitária. Além de promover o conhecimento científico, o evento teve por objetivo aproximar a sociedade paulista de um espaço que, sendo público, ainda é pouco explorado por quem o mantém em funcionamento.
A oficina de jogos de tabuleiro, conduzida por alunos de especialização do curso Ciências da Computação, no Instituto de Matemática e Estatística (IME), já foi aplicada em programas de auxílio a crianças carentes e teve a participação de jovens e famílias durante a Virada. Luiz Carlos Vieira, doutorando que monitorou a atividade, ressaltou a importância do evento para estimular o acesso da população à USP.
“De certa forma, existe uma visão… Não sei se elitista é a palavra certa, mas a visão de que [a Universidade] é um lugar sagrado, inacessível. As pessoas têm que saber que elas podem vir aqui, podem participar [do que é desenvolvido na USP]”, opinou.
Vieira também vê no evento uma oportunidade de a comunidade entrar em contato com algo que pertence a ela. “[A Virada] É a divulgação do que a gente faz aqui, para que as pessoas conheçam o que é produzido com o dinheiro que estão empreendendo”, concluiu, se referindo aos impostos pagos pela população para a manutenção da USP.
A Escola Politécnica (Poli) registrou uma estimativa de 120 visitantes, enquanto o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) recebeu 70 pessoas em seus laboratórios. Já o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) alcançou a marca de 1500 visitas em seu circuito “Ciências da Terra e do Universo”, que continha atividades interativas de explicação de terremotos, emissão de poluentes e observação de planetas na virada da noite de sábado para domingo.
No Instituto Oceanográfico, o conjunto de exposições “Oceano Sustentável” e uma esfera de multiprojeção de vídeos representando fenômenos da Terra receberam bom público, ainda não divulgado, incluindo excursões escolares que participaram da virada em diversos institutos. José Wilton, aluno de licenciatura da Faculdade Anhanguera que visitava o local, se mostrou surpreso pela liberdade com que as pessoas circulavam pela Cidade Universitária.
Ele ressaltou que, mesmo morando perto, nunca havia visitado o campus e que viu no evento uma oportunidade de conhecer o ambiente da Universidade. “Para mim, era só um local onde as pessoas vinham estudar e iam embora, ou onde moravam. Apesar de ser um espaço público, nós não tínhamos essa ideia [de que era um espaço aberto]”, explicou José.
O estudante conta também que não tinha ciência da abertura desses locais para a comunidade, nem de que havia outros fora do campus do Butantã. A Virada Científica contou com a participação de vários deles em sua programação, incluindo o Museu Paulista, no Ipiranga, e o de Arte Contemporânea, no Ibirapuera, vinculados à USP (sendo a entrada gratuita no último), que colocaram suas exposições como parte do evento científico.
Por essa fusão de espaços, Wilton julgou a Virada um acontecimento importante para ampliar seus horizontes em termos científicos e a respeito da própria Universidade. “O conhecimento que adquiri hoje foi uma coisa incrível. A USP é mais do que a Cidade, é mais do que a gente imagina. Talvez, esteja faltando essa interação com o público lá de fora, divulgar as maravilhas que existem aqui”, ponderou.
PODE MELHORAR
A organização da I Virada Científica de São Paulo foi iniciada em maio desse ano e contou com a participação de cerca de 25 unidades vínculadas à Universidade e mais de 300 monitores, entre docentes e alunos. Segundo Mikiya Muramatsu, professor do Instituto de Física e um dos organizadores do evento, a promoção da ciência e da tecnologia em uma linguagem mais acessível à sociedade é de fundamental importância para aproximá-la não só da USP, mas das atividades nela desenvolvidas.
“A população não se vê no direito de frequentar o campus, ela se autoexclui porque acha que não vai entender [o evento]. Isso não é verdade. Temos que apresentar de modo que uma parcela mais ampla do público consiga entender”, explicou.
Para Muramatsu, a divulgação realizada junto à grande mídia ajudou a trazer um público culturalmente diversificado e de várias faixas etárias, mas tanto ela quanto a organização em si podem melhorar nos próximos anos. A admissão de uma linguagem mais simples e a realização de pesquisas junto à comunidade, para descobrir temas de seu interesse, seriam caminhos possíveis para potencializar os resultados da Virada.
“A linguagem terá que ser mais direta. Além disso, teremos de escolher temas, não só na parte de ciência e tecnologia, mas também na área de ciências humanas, de políticas públicas, trazer a população para esse debate. Trata-se de uma demanda [da população], temas como moradia, transporte… A Universidade se preocupa com isso”, resumiu.
por GABRIELA ROMÃO