Proibição de comércio informal na EACH mobiliza alunos

Aluno que vendia doces afirma ter sido interpelado por seguranças sob requisição da administração

Vitor Andrade
Foto: Vitor Andrade
Foto: Vitor Andrade

No último dia 12, uma postagem no Facebook chamou a atenção do Grupo de Estudantes da EACH. O aluno Vinícius Felipe, de Sistemas da Informação, denunciava a hostilidade que sofreu, por parte da administração da EACH, por vender alimentos no local.

“Eu comecei a vender trufas de cone no meio do semestre passado, no intuito de pagar o ingresso do INTERCOMP (jogos organizados por atléticas de 12 universidades), mas as coisas começaram a ficar difíceis financeiramente em casa, então eu continuei a vender pra ajudar nas despesas do lar”, afirma Vinícius. “Comecei a vender minhas trufas todo dia, a partir do segundo semestre desse ano, na frente da saída do bandejão”.

De acordo com Vinícius, na quinta-feira, dia 11, seguranças da faculdade o abordaram, dizendo que “aquilo não estava nada discreto” e que possivelmente a guarda universitária confiscaria seus produtos. Logo no outro dia, tornaram a aconselhá-lo a sair dali, desta vez com a ameaça de abrir um processo administrativo contra ele.

Após descobrir que a guarda havia sido acionada, o aluno decidiu compartilhar sua história com os alunos da EACH por meio das redes sociais. “Fiquei intrigado, me senti injustiçado, porque aquelas trufas estavam sendo uma boa maneira de contornar a crise financeira em casa”, comenta.

O texto publicado por Vinícius acabou surtindo efeito nos estudantes da EACH, e em pouco tempo surgiram novos vendedores que se aliaram a ele e começaram a vender diversos produtos na faculdade, e também relataram o mesmo problema. “Estou vendendo bolos na EACH faz alguns dias. Tive muitos problemas com os guardas. Nos primeiros dias eles vinham pedindo pra ficar escondido, pois a cantina viu e reclamou”, declara Max Zorzett, estudante de Marketing. “Ameaçaram de confiscar minha mercadoria”, completa.

Vinícius afirma não ter sofrido truculência por parte da segurança, porém ainda falta uma flexibilização por parte do estatuto do campus para permitir as atividades comerciais pelos alunos. “Uma imensa quantidade de pessoas estava comentando sobre a cantina”, declara. Ela que é estranha aqui, eu sou aluno dessa universidade”.

Foto: Vitor Andrade
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De acordo com alunos, o monopólio da cantina no instituto é prejudicial pois faltam opções, que afetam principalmente a quem fica o dia inteiro no local. “Eu sou vegana. A cantina não tem opção pra mim”, diz a estudante de Têxtil e Moda Luma Arruda. “Eu não tenho uma opção minimamente saudável, […] é muito absurdo, ainda mais na EACH, que se propõe a ser diferente do resto da USP, mas você vê que aqui se usa o mesmo sistema que tá funcionando em todos outros lugares”.

Além disso, as vendas também se relacionam com a questão da permanência estudantil. Com a escassez ou mesmo a proibição de estágios em certos cursos, além da rotina intensa que obriga alguns a ficar na faculdade durante grande parte do dia, as vendas são a opção mais plausível ou mesmo a única para se manter financeiramente durante o curso.

Este conflito levanta a questão das vendas informais dentro dos campi. No ano de 2014, a reitoria passou a proibir a venda de bebidas alcóolicas dentro da universidade, o que gerou reclamações por parte das átleticas, que alegaram que as festas realizadas no campus compunham grande parte de sua renda, que por sua vez era convertida em ajuda para os times e realização de campeonatos.

Próximo ao bandejão central da Cidade Universitária é possível ver a grande quantidade de barracas vendendo livros, alimentos, roupas, entre outros tipos de artigos. Boa parte destas vendas é feita por moradores do próprio Crusp, que também alegam que suas vendas são importantes para sua permanência da universidade.  

William Kita, líder da Guarda Universitária na EACH, afirma que é expressamente proibido que sejam realizadas vendas de maneira não-licenciada em qualquer área do campus. “É assim que somos orientados, de acordo com o protocolo da universidade”, diz Kita. “Não agimos sozinhos”, complementa.

Ainda de acordo com o líder, é necessário que haja um acordo com a administração da universidade para que qualquer tipo de comércio seja feito. Porém não é necessário firmar contrato de concessão, havendo espaços em que os alunos podem entrar para fazer vendas. “Por exemplo, no Grêmio dos Funcionários, o próprio aluno pode conversar com a administração pra poder vender lá”.

Já o administrador da cantina, Marcelo, afirma que as denúncias não vieram dele, e que a proibição vem por parte da prefeitura da USP. “Nunca falei nada pra eles, […] e também não apoio que haja nenhuma ameaça”, afirma. “Só falo que a responsabilidade no caso de alguma intoxicação de aluno, eu não tenho nada a ver com isso.”

Quando contatada, a administração também frisou a questão da regulamentação na distribuição de alimentos: “A preocupação com a saúde é algo sério. A responsabilidade por qualquer problema cai na universidade. O comércio no espaço público tem regras definidas, não apenas aqui, mas na cidade toda”, explica Marcos André, assistente técnico da EACH.  

“Tem toda uma regra na questão de alimentação que precisa ser obedecida. A guarda não pode confiscar ou pedir um processo, ela faz a orientação, e nossos guardas são preparados com isso”, afirma Andréia Pedroso, analista acadêmica da instituição.

“A licitação foi feita quatro anos atrás. Na época, houve a preocupação de ter um prato vegetariano, não um vegano, mas é algo a se pensar na próxima licitação”, diz Andréia. “A escola está trabalhando pra ter mais opções, mas não é uma coisa tão fácil. Estamos com um processo em andamento internamente para termos alternativas, como, por exemplo, máquinas de alimentação. A administração está sim preocupada com isso.“

Sobre a questão da permanência, a administração afirma que é possível chegar a um acordo por meio do diálogo. “Os alunos precisam apresentar sua demanda, que gostariam de espaço, que gostariam de vender. Com essa necessidade proposta e oficializada, nós temos orgãos aos quais vamos consultar, e a partir daí conversamos. Tudo, dentro das normas, é possível”.