Mostra no MAC questiona arte contemporânea

Exposição de Gustavo Von Ha critica a autenticidade das obras de grandes nomes modernos
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Cópia de obra de Pollock, por Von Ha | Foto: Ethel Rudnitzki

Pollock, Warhol, Klein. Esses são nomes renomados da arte moderna da década de 50. Tidos como vanguardistas, suas obras são consagradas como estilos próprios e originais de cada artista. Mas será que a arte moderna é tão única assim? É essa reflexão que a nova exposição de Gustavo Von Ha desperta.

São 34 obras do artista brasileiro expostas no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, incluindo pinturas, objetos, cartazes, documentos e um filme. A mostra, chamada “Inventário: arte outra”, ficará em cartaz até 5 de fevereiro de 2017 no segundo andar do prédio. Até lá, o público pode visitar gratuitamente as obras e compartilhar do questionamento do artista. O visitante e engenheiro, Cláudio Munhoz, de 53 anos, gostou da mostra, “eu gosto quando a arte interage comigo e essa faz isso.”

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Tela feita a partir da descontrução de outra |Foto: Ethel Rudnitzki

A exposição começa com diversas pinturas feitas com camadas de tinta tiradas de réplicas de outras obras. Em seguida, o público se depara com telas que imitam as técnicas de respingamento e pintura de Pollock, além de vários objetos supostamente utilizados na produção das obras. Na última sala de exposição, exibe-se um filme fictício, feito pelo próprio Von Ha, que encena um documentário póstumo dele mesmo, se ele fosse um artista da vanguarda dos anos 50. Na mesma linha, diversos cartazes datando das décadas de 30, 40, 50 e 60 anunciam as obras do artista, que só nasceria em 1977. Para a curadora do museu, Ana Magalhães, “é justamente por esse aspecto provocador, de jogar com o autêntico e o falso, a ficção e a realidade, que von Ha é instigante.”

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Cartaz produzido pelo artista | foto: Ethel Rudnitzki

Porém, para entender melhor a crítica por trás de todas essas obras expostas de Von Ha, é preciso entender o contexto da arte moderna. A curadora do museu, Ana Magalhães, explica que o artista “questiona a noção de autoria e autenticidade da obra de arte, e faz isso a partir de um momento preciso da história da arte: a produção artística dos anos 1950, entre o Brasil e os Estados Unidos. Esses são os anos da afirmação de uma pintura de caráter gestual, para a qual reinventa-se, por assim dizer, a noção do artista genial, heróico, cuja ação resulta de uma espécie de intuição.” Deste modo, ao exibir técnicas de reprodução de artistas modernos e ironizar a deificação dessas figuras, Von Ha desconstrói a ideia de obras de vanguarda e provoca reflexão sobre a arte contemporânea.

Assim, ao exibir “Inventário: arte outra”, o MAC toma uma reflexão para si mesmo, além de disponibilizá-la para o público. “O trabalho apresentado por Gustavo von Ha interessa ao MAC USP na medida em que ele nos lança uma provocação, como instituição artística, como museu de arte contemporânea”, diz Ana. Como parte da USP, o museu também ganha com a mostra “O MAC USP, a meu ver, por ser um museu universitário de arte, é um museu-escola onde a reavaliação da história da arte e da crítica de arte é um imperativo. Acho que as obras do Von Ha nos ajudam nessa reflexão crítica”, finaliza.