Quem é o responsável pela suspensão do acesso aos periódicos?

Das 223 bases assinadas pela USP, 36 têm assinatura suspensa; sem opções, estudantes apelam à pirataria

Foto: VisualHunt

Por Laura Castanho

Quando Paola Lanzoni foi atrás de artigos para o seu mestrado em biologia estrutural, no ano passado, teve um problema: de um dia para o outro e sem aviso, não conseguia mais acessar às principais bases online que compilam periódicos científicos. A assinatura dessas bases, feita pela universidade, havia expirado e não foi renovada durante toda a duração da pesquisa da bióloga.

A solução: apelar a sites piratas para baixar artigos, como o LibGen e o SciHub. “Da minha bibliografia, que devia 140 fontes, pelo menos 15 eu tive que baixar. Fui muito prejudicada. Tinha vários artigos que eu queria pegar e não consegui”, conta Lanzoni. “Não tive acesso nem à publicação do meu próprio orientador.”

O caso dela não é único. Das 223 bases às quais a USP tem acesso — por assinatura própria ou por vínculo com o Capes —, 36 estão temporariamente bloqueadas à comunidade acadêmica uspiana. Há bases sem acesso há mais de dois anos, como a Dissertations and Theses.

No caso da ECA (Escola de Comunicações e Artes), pesou especialmente a perda de acesso a unidades da JSTOR, uma das principais bases para pesquisa em artes. A professora Sônia Salzstein, das artes plásticas, relata uma sensação de ter o seu trabalho paralisado. “Fiquei perplexa, porque não fomos avisados.”

Recentemente, a comissão de Pós-Graduação, do qual Salzstein faz parte, enviou um ofício à diretoria da unidade em conjunto com a comissão de Biblioteca, pedindo esclarecimentos. O caldo engrossou com uma correspondência encaminhada pelo Conselho Técnico-Administrativo ecano ao Sistema Integrado de Bibliotecas (SiBi) da USP, responsável pelo processo de renovação.

Segundo professores presentes na última reunião do Conselho, o SiBi havia informado em março de 2017 que as bases seriam renovadas, mas isso não aconteceu. Por ora, não há previsão de retorno.

“Acho grave. Os alunos perderam acesso aos mesmos periódicos nos quais eles devem publicar”, diz Marina Macambyra, bibliotecária da ECA que vem lidando com a profunda insatisfação, “para dizer o mínimo”, de alunos e professores.

Outro lado
Apesar de o SiBi ser alvo frequente das reclamações de quem foi prejudicado pela suspensão de acesso às bases, a responsabilidade pelo problema parece ser mais difusa dentro do complexo burocrático universitário.

Depois de aprovadas no órgão, as assinaturas ainda passam por pelo menos outras quatro instâncias da USP para serem oficialmente renovadas. Quando Macambyra procurou o sistema para ter o que responder aos usuários das bases, foi informada de que elas eram renovadas sempre em tempo hábil, mas que não estariam sendo aprovadas suficientemente rápido, o que resultaria na perda de acesso.

Contatado pelo Jornal do Campus, o SiBi respondeu em nota que “o fluxo de tramitação desses processos inclui o Departamento Administrativo, Departamento Financeiro, Procuradoria Geral e Gabinete do Reitor, finalizando com a publicação no Diário Oficial do Estado de São Paulo e o pagamento.”

O órgão ainda esclareceu que a tramitação dos processos de renovação “pode ser acompanhada pelo Sistema Proteos”, e que considera “essencial a colaboração das Unidades ao registrarem a preocupação com os trâmites e manutenção dos acessos aos conteúdos, a exemplo da iniciativa da ECA”. (A íntegra da nota pode ser vista aqui.)

O sistema Proteos é a plataforma de registro e acompanhamento dos processos administrativos da USP. A reportagem não obteve acesso aos números dos processos das renovações, necessários para conferir o andamento das mesmas.

Contatados, os departamentos citados na nota não responderam até o fechamento desta edição.