Esporte feminino cresce nas atléticas

Times femininos estão se firmando; nos depoimentos ao JC, mais que dificuldades, o tom é de inserção

Por Ligia Andrade

Créditos: Revista Beat/ reprodução

Com a Copa do Mundo de Futebol Feminino deste ano, a participação da mulher no esporte começou a ser discutida com maior intensidade no Brasil. Embasada em reclamações que vão desde a falta de incentivo até a discriminação dentro de quadra, a classe feminina esportiva ganha força também dentro da USP. 

Colhemos quatro depoimentos de atletas de cursos diferentes que contam suas atuações e perspectivas, destacando as dificuldades a serem enfrentadas nas modalidades femininas e o caminho que traçaram até chegarem nas Atléticas.

Heloisa Marcondes, 22 – joga vôlei pela Atlética da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP)

“Eu jogo vôlei desde os dez anos, cheguei a praticar outros esportes na escola mas o vôlei foi a única modalidade em que eu joguei campeonatos por clubes e pela minha cidade. Meu envolvimento com o time de vôlei feminino da ECA começou logo após sair a lista de aprovados, eu já conhecia o time por vídeo e sabia que precisava manter a minha rotina com esportes, então não quis perder tempo. Além de dificuldades financeiras e de estrutura, vejo que ainda há um discurso de valorização e de torcida mais intenso nos jogos masculinos. Foram muitas vezes que ouvi grandes mobilizações e articulação para torcida para o naipe masculino, enquanto o feminino não era contemplado. Ainda há o embate com alguns árbitros, que preferem recorrer aos técnicos do que conversar com as atletas sobre algumas questões em quadra. Hoje o time possui uma treinadora, já tivemos uma outra durante uma temporada. Na USP são poucos técnicos/técnicas de vôlei disponíveis para assumir os times, e por terem poucos da modalidade, a quantidade de técnicas mulheres é realmente baixa.”

 

Fernanda Ferrari, 22 – joga vôlei e handebol pela Atlética da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF-USP)

“Na escola eu já praticava vôlei e joguei handebol por um tempo. Comecei a jogar vôlei em 2006 e não parei de treinar desde então, sempre foi uma parte muito importante pra minha vida. Eu entrei na faculdade em 2015, comecei a treinar vôlei antes do Bichusp e só parei em períodos de lesão. Depois disso, participei de outras modalidades, no começo treinei rugby e agora voltei pro handebol. Os treinos costumam ser dinâmicos e contemplar temas diferentes para que todas as meninas (de níveis bem diferentes como é o esperado no ambiente universitário) consigam se desenvolver juntas. Hoje vemos uma quantidade muito maior de times e até o surgimento de modalidades que antes não existiam. Mesmo que tenha demorado um tempo grande, acredito que agora a mentalidade das pessoas está muito inclinada a aceitar e principalmente apoiar o esporte feminino, e isso vem de cima para baixo. O esporte de alto nível feminino vem sendo mais respeitado, então com o universitário não seria diferente.”

 

Ana Fernanda (Felícia), 23 – joga handebol e vôlei pelo ICBIO

“Eu nunca fiz algum esporte por muito tempo. Eu sou do interior de São Paulo e onde morava não tinha oferta, a área de esporte era muito mal desenvolvida, embora eu gostasse de esporte desde pequena. Ao longo do primeiro ano do colégio fiz handebol, já no segundo ano as meninas iam desaparecendo, então acabava tendo só o masculino. Na apresentação da semana dos bichos, quando falaram que havia um ambiente para praticar esporte e times para aprender outras modalidades, eu surtei. Jogaria todas as modalidades no Bichusp se eu pudesse. Eu ia fazer algo que sempre quis fazer e nunca tive oportunidade, e foi uma das melhores decisões que eu fiz. Entrei em 2014 e esse é meu sexto ano. Pelo que vi, o esporte feminino nas atléticas se desenvolveu e cresceu. Como modalidade, o handebol em si cresceu absurdamente dentro da USP, o feminino desenvolveu muito. Futsal, basquete, vôlei estão cada vez mais competitivos. Atletismo também cresceu, com muitas competidoras. É muito legal saber que apesar da tendência machista que o esporte tem no geral, aqui vemos muitas meninas procurando times para jogar, sem ter vergonha de ir para o esporte. Meninas vão atrás de esporte, e isso é ótimo.”

 

Roberta, 21 – joga basquete pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP)

“Sempre pratiquei esporte quando era mais nova, e ainda no fundamental me interessei muito por basquete, mas tive muita dificuldade em encontrar um time para treinar que fosse só feminino. Na faculdade, conheci pessoas que não só tinham essa paixão, mas que eram ativas em fazer o esporte crescer (ou existir). Eu fui conquistada por essa ideia e assim fui parar na atlética. Sempre vejo, em média, uma crescente quantidade de times femininos participando de campeonatos. É impressionante como algumas modalidades, como rugby e futebol, cresceram nos últimos 3 anos, e continuam crescendo. Apesar de ver o crescimento de várias modalidades, é comum times que não conseguem atingir o mínimo de atletas para treinar. Acho que uma questão também é o baixo número de campeonatos oferecidos para algumas modalidades, no naipe feminino. Além disso, ainda existente muita gente que acha que o esporte universitário feminino não tem nível. Há vários jogos de alto nível competitivo, mas algumas pessoas (por vezes técnicos e árbitros) parecem não perceber.”