Inspirado pelo diretor Akira Kurosawa, o projeto “Sonhos de uma Noite de Quarentena” usa sonhos como disparadores criativos para curta-metragens
por Adriana Teixeira e Sofia Kassab
Cenas do curta “Azul Apneia”, da série de filmes “Noite em Queda”, produzida por alunos do CAC-ECA USP. Arte: Catarina Virginia Barbosa/Foto: Arquivo pessoal
O Grupo Noite em Queda nasceu de um interesse em comum entre Carolina Borges e Luana Pantaleoni, alunas de Artes Cênicas da Universidade de São Paulo: o Teatro de Animação, gênero teatral que faz uso de bonecos, máscaras, luzes e sombras para representar algo, como o homem.
As estudantes, que se juntaram em 2020 para desenvolver uma peça teatral como trabalho de conclusão de curso, foram surpreendidas pela pandemia da covid-19, e a tão sonhada peça precisou ser adaptada à linguagem audiovisual, isto é, passou a ser uma série de curta-metragens. Ainda que a pandemia tenha mudado o formato do projeto, também foi ela que trouxe a ideia de explorar o tema comum dentro dos curtas. Impulsionadas pelo filme Sonhos (Yume, 1990), de Akira Kurosawa, veio a ideia de trabalhar os sonhos pandêmicos no projeto “Sonhos de uma Noite de Quarentena”. O primeiro curta, Azul Apneia, foi baseado em um sonho sobre angústia.
As alunas afirmam que os sonhos carregam em si características intrínsecas ao Teatro de Animação: “O teatro de animação não respeita as leis da física, assim como os sonhos, que estão em um universo onde as leis são outras.” conta Carolina. Luana complementa: “Quando você sonha, pensa em imagens. Como o Teatro de Animação também é muito criado a partir delas, há uma convergência muito grande entre como os dois são criados”.
Uma vez definidos os temas e o formato, novas pessoas juntaram-se ao grupo e agregaram outras esferas da produção teatral e do audiovisual ao projeto: Lux Machado entrou para trabalhar com a iluminação; Marcella Georgini, com a dramaturgia; Tuzão, cenografia; José Pedro com sonoplastia e Rodrigo Nunes como editor de vídeo.
O desafio passou então a ser encontrar os sonhos que seriam retratados. Para isso, o grupo criou um formulário online, no qual pediam para que cada pessoa descrevesse de forma detalhada algum de seus sonhos pandêmicos. Entre as centenas de respostas recebidas, os alunos selecionaram apenas os sonhos sobre angústia – tema do primeiro curta – entre eles, selecionaram um: o sonho de Gustavo Zanfer.
Produção do curta “Azul Apneia”. Foto: Arquivo pessoal
Zanfer, que é aluno de jornalismo da ECA, conta que se interessa muito pelo tema e, quando viu o formulário sobre sonhos de quarentena, sentiu que precisava compartilhar uma experiência muito vívida e perturbadora que havia tido durante o sono. Na época, o aluno não sabia que seu pesadelo se tornaria um curta-metragem, apenas pensou em contribuir para o TCC das estudantes.
“Os apelos visuais e sonoros do Azul Apneia são diferentes do meu sonho, mas o conceito de angústia foi o mesmo, tanto que após assistir ao curta, senti as mesmas coisas que tinha sentido logo depois de ter acordado desse pesadelo”. E realmente o objetivo do grupo era utilizar o sonho de Zanfer como um disparador criativo, isto é, como um ponto de partida para eles próprios utilizarem suas interpretações e criatividade.
Bastidores do curta-metragem que será lançado em julho de 2021. Foto: Arquivo Pessoal
Para o próximo curta, com estreia prevista para julho, o grupo buscou um tema mais leve: reencontros, sejam quais forem. O “Noite em Queda” vai além do trabalho de TCC, o grupo pretende continuar criando mais curta-metragens e um dia concretizar a ideia inicial de uma peça teatral.
Para acompanhar os próximos curtas e saber mais sobre a série “Sonhos de uma Noite de Quarentena” e o grupo Noite em Queda, acesse o site e siga nas redes sociais!