Remo e tênis são esportes para ricos? Esporte universitário pode facilitar o acesso a modalidades elitistas

Na USP, é possível realizar diferentes modalidades esportivas; o JC selecionou dois esportes

por Giovanna de Oliveira

Imagem: Ivan Conterno/JC

O esporte universitário pode ser considerado um dos pontos de maior benefício na USP. No campus Butantã, por exemplo, existe o Cepeusp (Centro de Práticas Esportivas da USP), que oferece infraestrutura para inúmeras modalidades esportivas. Na USP, é possível praticar desde atletismo e tênis de mesa até canoagem e stand up paddle, na Raia Olímpica da USP.

Os tipos de esportes oferecidos são muito diversos e possibilitam que alunos de todos os institutos conheçam modalidades não tão convencionais e presentes no dia a dia. É possível também praticar atividades que, fora da universidade, são extremamente inacessíveis financeiramente e é aí que entra uma missão importante para o esporte universitário.

Muitas atléticas na USP já oferecem alguns dos esportes mais caros e elitistas do mundo. O portal de notícias R7 reuniu uma lista com as 10 modalidades menos acessíveis e três delas os alunos podem praticar na Universidade de São Paulo: o tênis, a canoagem e o stand up paddle.

O JC escolheu conversar com atletas de dois esportes que ainda não são muito praticados no Brasil devido aos custos e estão disponíveis nas atléticas de diversos institutos: remo e tênis.

Confira a experiência de estudantes que fazem parte desses esportes na USP:

Game, set, match: o tênis na universidade

O tênis, segundo o Comitê Olímpico Brasileiro, tem hoje cerca de 2 milhões de praticantes no Brasil. O número não é tão pequeno, mas representa apenas 2,6% do número de tenistas no mundo.

Um dos principais desafios para aumentar o número de jogadores de tênis no Brasil é, provavelmente, os custos. Sophia Moyen, estudante de Engenharia Mecatrônica e diretora de modalidade do tênis na Poli, conta que praticar o esporte em academias particulares pode chegar, facilmente, a R$ 200/hora.

Enquanto isso, na Universidade de São Paulo, alunos podem participar a R$ 70,00 por mês na Poli. É claro que os valores variam entre cada instituto, mas de todo modo seguem sendo inferiores às aulas particulares.

É possível praticar o tênis nas estruturas do Cepeusp. Lá, há nove quadras destinadas ao tênis. Como é um espaço da universidade, estudantes de todos os institutos da USP podem utilizá-lo sem qualquer custo de aluguel. Sophia conta: “Cada grupo treina cerca de 3 horas por semana com um técnico, tenista de alto nível. Precisamos apenas pagar o salário do técnico, bolas e inscrições em campeonatos”.

A estudante de engenharia ainda compartilha sua história com o tênis. Ela não conheceu o esporte na USP, ele já era um parceiro de longa data para Sophia. “Eu comecei a praticar tênis com 11 anos em umas quadras perto de casa, mas antes já brincava com as minha irmãs quando íamos para algum lugar que tinha quadra”, diz. 

A aluna já é diretora de modalidade há dois anos e conta que, assim que foi aprovada na Fuvest, já procurou os times de tênis da universidade para participar.

Ao menos na Poli, para que os calouros possam ser incentivados a conhecer o esporte, é possível praticar o tênis por dois meses sem qualquer custo. É comum que a maioria desses alunos seja iniciante e os treinos tenham cerca de 40 pessoas.

Ao longo do tempo, os estudantes interessados são alocados nos times mais experientes e os grupos são divididos entre iniciantes, intermediários e avançados. 

Um ponto curioso apontado pela entrevistada é a diferença no perfil socioeconômico do time. Segundo ela, é comum que os atletas do grupo avançado sejam pessoas que teriam condições financeiras de praticar o tênis em aulas particulares. Enquanto isso, os calouros costumam ser aqueles que nunca tiveram contato com o esporte e, muitas vezes, não o fariam se fosse necessário arcar com todos os custos.

O tênis está presente em diferentes institutos da USP. Veja abaixo alguns deles e clique nos links para acessar as redes sociais da modalidade:

Continue a remar: o remo na USP

Imagem: Ivan Conterno/JC

O remo é um esporte coletivo e individual que, além dos desafios financeiros, também tem o espaço como dificultador. Afinal, não é em toda esquina que existe uma raia olímpica. Grandes academias como o Club Atlhetico Paulistano e o Esporte Clube Pinheiros frequentam a cidade universitária para utilizar os mais de 2km de comprimento da raia universitária. 

A infraestrutura da USP é uma das mais adequadas de São Paulo para a prática do remo. “Na universidade, há o barco escola [equipamento da imagem acima], uma máquina que simula o movimento de remada e a academia da Raia para desenvolver técnica, resistência e força”, explica Maria Kaseker, estudante de Economia na FEA (Faculdade de Economia e Administração da USP) e diretora de modalidade.

Maria conheceu o remo em 2015, quando fazia cursinho popular na FEA. Ela conta que, durante uma das aulas, a atlética visitou a sala para apresentar alguns esportes, dentre eles o remo. “Foi amor à primeira vista. Quando ingressei na USP, ‘namorava’ a raia de longe enquanto criava coragem para começar”, ela conta.

Mesmo dentro da universidade, o remo ainda não é um esporte tão barato, mas já é mais acessível do que em clubes particulares. Rogério Kovalinkinas estuda Engenharia Civil na Poli e pratica o remo pela atlética. Segundo ele, o remo na Poli é filiado ao clube Bandeirante e, por isso, a mensalidade fica em torno de R$ 199,90.

Embora não seja um valor tão barato, é mais amigável ao bolso que em clubes particulares. Tanto na Poli, quanto na FEA, há um auxílio para estudantes que praticam o remo e não conseguem pagar o valor integral das mensalidades.

Maria conta sobre o projeto de inclusão da Faculdade de Economia e Administração: “tem um projeto de inclusão para os alunos de baixa renda, o ‘Atleta Inclusivo’, que ajuda os alunos que não conseguem pagar a caixinha a continuar treinando”. 

Na Poli, funciona de forma semelhante, segundo Rogério. “Ainda há aqueles que necessitam de um auxílio, que ao momento é fornecido pela AAAP [Associação Atlética Acadêmica Politécnica]”, explica.

É um consenso dos dois estudantes que nenhum dos times completos conseguiria praticar o remo se não fosse pela ajuda do esporte universitário. Por ser um esporte muito caro e de difícil acesso estrutural, é comum que apenas a elite paulistana tenha condições financeiras para treinar em clubes.

Além disso, a USP abre portas para que cada vez mais alunos tenham interesse em conhecer as modalidades. Maria compartilha a experiência de apresentar o remo todos os anos para os calouros: “dá para ver na cara deles a surpresa por ter remo na faculdade e a curiosidade em saber como é”, ela diz.

Ainda, defende que ter essas modalidades na universidade é uma forma de dar visibilidade a esportes que nunca foram praticados em educação física. 

“Quem é que veio da periferia e já viu uma regata na Raia? As pessoas passam pela Marginal Pinheiros e sequer imaginam que atrás dos muros de vidro tem um centro esportivo que faz parte da USP”, afirma a estudante.

Por ser um esporte um pouco mais restrito, o número de institutos que oferecem o remo é mais reduzido. Ainda assim, é praticado porhá em diversas atléticas. Conheça abaixo algumas delas e clique no link para acessar as redes sociais:

Além das atléticas de cada instituto, é possível conhecer diferentes modalidades esportivas através de uma disciplina optativa oferecida para todos os alunos de graduação.

A matéria PRG0001 (Esporte na Graduação: da Teoria à Prática I) incentiva os estudantes a refletirem sobre a importância do esporte na universidade. Algumas atividades da disciplina incluem a prática de modalidades desde as mais comuns, como o vôlei, até as menos convencionais como o tênis e o remo. Vale a pena conferir.