Conheça a história dos 16 edifícios tombados da USP

Mais do arquitetura, edificações da Universidade contam a história do estado de São Paulo

A arquitetura paulista está intimamente ligada à USP. Das rampas da FAU de Vilanova Artigas às Arcadas do Largo São Francisco; do símbolo art nouveau da FAU Maranhão à sisudez da Faculdade de Medicina, a Universidade tem em seu patrimônio 16 edifícios tombados no estado, além de todo o campus de Ribeirão Preto. Nem todos estão bem conservados, mas, certamente, todas essas paredes têm muita história para contar.

Herança paulistana
Edifício Vila Penteado, que hoje abriga a pós-graduação da FAU, na época em que ainda era a casa dos Penteado
Edifício Vila Penteado, que hoje abriga a pós-graduação da FAU, na época em que ainda era a casa dos Penteado (foto: Arquivo Condephaat)

O edifício da pós-graduação da FAU, localizado na rua Maranhão, no bairro Higienópolis, foi a casa de Sílvio Álvares Penteado e seu filho. Tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo), em fevereiro de 1978, o prédio é um símbolo do art nouveau. “O projeto é do arquiteto sueco Carlos Ekman, que veio ao Brasil a pedido de Sílvio Álvares Penteado”, explica o professor da FAU Maranhão Carlos Faggin. “Ele pertencia a uma escola chamada Secessão Vienense, uma espécie de art nouveau mais rude e menos ornamentada que o francês e inglês”.

Doado à Universidade com a condição de que abrigasse o ensino da arquitetura, o edifício recebeu a primeira turma da USP em 1948. “Não foi o primeiro curso de arquitetura da cidade, mas o fato de se instalar no Edifício Vila Penteado foi importante para o estado de São Paulo”, afirma o professor. Segundo ele, o prédio ainda apresenta algumas características de residência. “Ele foi adaptado, mas precisa ainda sofrer modificações, porque o espaço para a prática de aulas expositivas é muito pequeno”.

Entrada principal da Faculdade de Direito, em desenho do projeto original
Entrada principal da Faculdade de Direito, em desenho do projeto original (foto: Arquivo Condephaat)
As Arcadas

Um prédio que conta com certa imponência e possui as arcadas como símbolo adotado pelos seus estudantes. É assim que Carlos Faggin descreve a Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Em 1827, os franciscanos cederam o espaço do convento da Igreja de São Francisco para a instalação do curso. Na década de 1930, o prédio foi reformado.

O arquiteto e arqueólogo português Ricardo Severo é o responsável pela característica neocolonial da construção. “Ele acreditava que o impasse enfrentado na época entre os estilos neoclássico, neogótico e neo-românico seria superado quando os arquitetos brasileiros estudassem e explorassem as raízes locais da arquitetura brasileira. E isso ele chamou de neocolonialismo”, explica Faggin. O resultado, no entanto, segundo o professor, foi um prédio de arquitetura eclética.

Importância cultural vai além da arquitetura
Importância cultural vai além da arquitetura (foto: Arquivo Condephaat)
Mais do que arquitetura

A Faculdade de Medicina da USP, construída pelo escritório Ramos de Azevedo e inaugurada em 1931 com fachada em estilo neo-Tudor, é tombada pelo Condephaat desde 1981 não só por sua arquitetura. “A Faculdade representa pouco para a arquitetura, é um projeto modesto. Mas para a cultura de São Paulo, ele é muito importante. Foi o maior prédio feito na época pelo governo, e para abrigar uma escola!”, explica Julio Roberto Katinsky, professor da FAU e um dos responsáveis pelo restauro do prédio desde 2004.

Sua irmã e também arquiteta da equipe, Thereza Katinsky, afirma que o prédio não foi inovador. “Em relação à arquitetura, o prédio já era desatualizado quando foi feito. Naquela época, o modernismo já estava consolidado”. Helena Ayoub Silva, a terceira arquiteta a compor o time de restauro, completa apontando a mistura única da construção. “A estrutura do prédio é independente, modulada e flexível – e isso são preceitos modernistas. Mas a fachada é demodée. Talvez por isso o tombamento; por essa necessidade de colocar uma fachada mais palatável para as pessoas da época”.

Mantendo a casa em ordem

Boas condições de conservação não são regra entre os prédios da USP. Para Julio Katinsky, o primeiro passo para salvar o patrimônio é o tombamento. “Os prédios do século XX é que sofrem mais deterioração e são mais deturpados, porque em obras mais antigas, de muitos séculos, ninguém ousa mexer”. Além disso, é preciso critério; algumas intervenções com o intuito de manter o prédio podem causar danos a eles. “Nos anfiteatros da Faculdade de Medicina, fizemos um verdadeiro trabalho de detetive para descobrir o que era original ali”, afirma Katinsky. Carlos Faggin explica que a FAU Maranhão está em boas condições hoje porque “o pessoal da própria Universidade está mantendo um trabalho de restauro em andamento”.

*Essa reportagem foi publicada originalmente com o título: “História contada por arcos e vãos”.