O hobby… e a profissão

O hobby

Ricardo Miyada não quer saber de seguir carreira literária. “Nunca conseguiria me acostumar com a idéia de escrever para ganhar dinheiro”. Hoje estudante de audiovisual e blogueiro, já publicou textos no Originais Reprovados e quer trabalhar escrevendo roteiros. Sobre o prazer de escrever, ele descreve tudo em quatro partes: livra-se de uma idéia que o incomoda, cria com ela algo que “só poderia vir de mim”, comunica com outros através do texto e depois lê tudo ele mesmo, o que, admite, “às vezes faz doer os dentes”. Depois, resume, sem pretensões, que escrever é “só um modo de vida necessário”.

Miudeza.

É muito difícil achar a onomatopéia
certa para as coisas: que barulho é que fazem os
dedos dele na barriga dela, tamborinlantemente
felizes rumo às zonas secretas entrecoxas ou
então aos seiozinhos?

A profissão

No que chama de “um ato perdido de finais de adolescência”, a primeira faculdade que a escritora Ana Rüsche cursou foi Direito na Sanfran. “Só não digo que foi um erro porque ali conheci grandes pessoas e tirei a subsistência”, conta Ana, que fez parte da Academia de Letras da Faculdade e participou das sinceras rodas de leitura do grupo. “Não imagino um poema do Rasgada [livro de estréia] sem essa sinceridade”. A autora gosta de trabalhar com editoras menores, que zelam por seus autores. Para ela, “escrever é um modo de estar no mundo. No mais, escreve-se para quem precisa te ler, talvez nós mesmos.”

Anoréxicas

Emagrecer,
extirpar a última gordura,
devolver as costelas emprestadas
e desintegrar-se em luz.


Outros autores

Fábio Scorsolini-Comin

Fábio Scorsolini-Comin, 25 anos, escreve por “pura inquietação de corpo e de alma”. Ele participou de seu primeiro concurso literário aos 10 anos e desde então, já esteve em diversos outros, como o Poeta de Gaveta, realizado no campi USP do interior e o Originais Reprovados, na ultima edição do qual teve uma poesia publicada. Quando menor, visitava as bibliotecas de sua cidade à procura de livros de poesia. “Como diria Pablo Neruda, a poesia vem em um certo momento de nossas vidas e nos convoca, nos toca. Acredito que eu tenha sido tocado pela poesia, mas ainda sinto o mesmo arrepio a cada vez que isso acontece. Isso me faz escrever.”

Hoje é psicólogo formado pela USP Ribeirão Preto, onde desenvolve seu mestrado em Psicologia junto com sua graduação em Pedagogia. Tem a escrita como um grande desejo de sua vida, mas não necessariamente como profissão. “Acredito que escrever seja um grande desejo em minha vida, mas há várias formas de isso se realizar. A poesia me “pega” diariamente e compartilhá-la é sempre um grande prazer. Acredito que seja mais uma catarse no papel, e isso é necessário”.

Aguadeiro

É do árduo que se faz o leve
Leve coração que não quer voltar
Para o breve indelével desta pele que lateja.
Que me perdoem os fáceis
Mas as paixões também são tensas
E se não há uma jura, uma crença
Que se esfarele então este desejo.
Mas ele pulsa
E é aí que te desejo
Impropriamente perto
Nem sempre ao certo, – nem reto
Ardendo meu lábio
Que te pronuncia
Desde o primeiro verso.


Elisa Andrade Buzzo

Sua relação com a poesia começou por causa de uma professora de literatura no ensino médio. “A partir delas [de suas aulas] começou meu encanto pela poesia com textos de Camões, Gregório de Matos…”, afirma Elisa Andrade Buzzo, 26 anos. Na USP, cursou jornalismo, escolha motivada pela vontade de escrever, e foi lá, no Departamento de Jornalismo e Editoração, que conheceu a revista Originais Reprovados, em que teve o primeiro texto publicado.

Em 2005, publicou seu primeiro livro de poesia, Se lá no Sol, pela editora 7letras. Conseguir uma editora para escritores iniciantes já é um processo difícil, se o livro for de poesia, então, a coisa piora. A dica que a paulistana dá é “começar enviando originais para revistas literárias em papel ou na internet”. É uma boa via de se fazer contatos e de fazer seus textos circularem, diz. Depois do primeiro livro, ela já participou de diversas coletâneas, inclusive internacionais, como a Cuatro poetas recientes del Brasil, em 2006 pela editora Black&Vermelho, de Buenos Aires.

Ela destaca as revistas literárias online como a Série Alfa e a Germina. A Internet, além de ser uma boa maneira para conseguir contatos para trabalhos, diz ela, também é um meio de para se fazer boas amizades. Hoje está terminando o curso de língua francesa em Bordeaux, na França; além de manter o blog Calíope e uma coluna no Digestivo Cultural.
Elisa também integra o grupo literário responsável pela produção do jornal O Casulo.

Estacionamento

Estaciona
o muro vai se desfazendo
mento
Senti
sem um tremor
de abalo prévio
mento
Aos golpes da marreta
letras desapareceram
Natural teria sido
terremoto
levar tudo abaixo
inclusive seus cabelos
Fica o esqueleto
a coluna partida
ao meio
Se esta
comeu a casa
resta comer a si mesmo


Paulo Ferraz

Paulo Ferraz, 34 anos, escreve basicamente por inquietações. “Não consigo estabelecer um critério único, há poemas que são racionalizados, pensados a partir da observação de uma obra de arte, outros da vivência, do sentimento pelo outro.”

Seu interesse pela arte vem desde a adolescência, aos 15 anos, quando leu os primeiros poemas: “ali tinha uma função distinta do que eu estava acostumado, as palavras soavam de modo diferente, causavam um estranhamento desconhecido”.

Estudou Direito na Sanfran e o ambiente que outrora acomodara autores como Álvares de Azevedo, José de Alencar, Osvald de Andrade, Hilda Hilst, Haroldo e Augusto de Campos foi um estímulo. Lá também encontrou a Academia de Letras do Largo São Francisco, lugar em que os estudantes se reúnem para discutir poesia e trocar informações.

Esse ar literário contribuiu para que Paulo, ainda no quinto ano, lançasse seu primeiro livro, junto com o colega Pedro Abramovav, então segundo anista. Com mais um amigo, Matiar Mariani, eles formaram um selo editorial, o Sebastião Grifo, com o qual editaram seus livros e uma revista literária, que é publicada até hoje. A escolha por se publicar sozinho veio também da dificuldade de conseguir uma editora “oficial”, mas principalmente pela percepção, já no final dos anos 90, de que “com boa vontade e algum trabalho era possível editar um livro com as mesmas qualidades de uma edição comercial”.

Paulo fez pós-graduação na FFLCH, em que estudou a poesia contemporânea, hoje ainda trabalha na área do Direito. “Por ora, ainda não me atrevi a atuar economicamente nessas áreas, sou amador, no bom sentido da palavra”.

Dois momentos com café

Minúsculo lago
Circundado por
porcelana, bem cabe
nesse quase raso
leito o pensamento,
voluntário náufrago
de um rodamoinho
que gira anti-horário
carcomendo o tempo.

Na margem oposta,
um rastro de boca
de mulher canhota
lança morno às ondas
negras um dormido
beijo — talvez nade,
talvez chegue à minha ou
apenas bóie e morra em
doce e amarga cova.


Vinícius Cássio Barqueiro

Vinícius Cássio Barqueiro, 20 anos, escreve desde pequeno, recriando o que via em desenhos, histórias em quadrinhos e livros. Hoje, o estudante de Letras admite que o contato com grandes autores às vezes o desencoraja a escrever alguns textos. “Não vejo isso como um problema, vejo como um grande avanço”, conta.

Escrever para ele é um hobby, uma forma de canalizar sua “auto-motivação criativa”. Vinicius envia seus trabalhos para a revista “Áporo” e “Originais Reprovados”, mas publica os textos também em seu blog Canto em Silêncio (http://cantoemsilencio.blogspot.com/), que considera muito importante por facilitar o contato com aqueles que o incentivam.

A Bolha

Era linda, a bolha.
Refletia-se com seu brilho arqüirisante, fascinal. E os ólhos, sóis da manhã. Flutuava entre os cotidianos, magical. Quê, mistério, complexo. Ao lado, em baixo, baixinho, espionava a sensacional. Sentia o calor dos sóis nos seus, as cores diversas, o brilho, todo o mistério dentro daquilo, bolha. Tremia. Era longe, era ilusão. Espionava-a, quietinho, e sentia borboletas quando um brilho, uma faiscazinha, correspondia. Até parece!
Criou coragem. Era preciso pular muito, mesmo, para alcançá-la. Não por causa dela, que agora se colocava à sua altura, chamando-o inhamente. Ele que colocava-se baixinho, quietinho; era consciente, tadinho. Sabia, se a tocasse, explodiria, oras, como de sabão. Sabia! Assim são as bolhas, de outro mundo, irreais. O encanto partiria.
Tentou, apesar, esperançoso, iludido:
Puf!
Mesmo assim, é, bem, os sóis, nascem toda manhã. É que é tudo dôido, doído, acentuadíssimo. Sorriso de vida, eterno como a esperança permanente, estranha.
Era bolha, a linda. Ou melhor, é, linda, e ele não tentou, não tentará, eu acho. É tudo suposição, e ele, tadinho, é consciente. Silêncio.

Vinícius Cássio Barqueiro
Sábado, 26 de janeiro de 2008
(escrito em outubro de 2007)


Renato Cury Tardivo

Renato Cury Tardivo, 28 anos, hoje faz Pós-graduação em Psicologia Social. Começou a escrever logo no curso de graduação, quando se deparou com uma necessidade de dar forma às emoções e afetos que experimentava. Para ele, Psicologia e Literatura são áreas muito próximas. “Crias histórias, recriá-las, reconstruí-las, comunicá-las… ofício do escritor – e também do psicólogo”, explica.

Começou a divulgar seus textos no jornal BOCA, do CA da Psicologia. Também não resistiu à Internet – “até o Saramago aderiu”, diz – e escreve hoje em seu segundo blog. Apesar de ter escolhido pela Psicologia, a carreira literária ainda lhe interessa. “Sinto que ainda posso contruir alguma coisa mais sólida na literatura”.

Desempate

Está nervosa, certamente. Entra no elevador mais atrapalhada que de costume. Ela sobe sozinha, e se olha no espelho. Precisa se certificar de que todos os vestígios foram eliminados, o que faz com uma espécie de gozo. Não pode negar – embora deseje – que vai entrar em casa com uma sensação de triunfo. Empatou a disputa.
Vira a chave receosa do que pode encontrar no outro lado. De volta para casa, o medo do desconhecido. Ele está no sofá, de frente para a porta, de frente para ela.
Em muitos anos, talvez tenham acumulado mais perdas do que ganhos. Mas se há algo em que, dia após dia, eles se aprimoram é na expressividade dos olhares. Uma troca intensa, às vezes até mais do que isso. Verdadeiras batalhas.
“Boa noite.”
É ela quem diz.
Um pouco fria. Mas, na verdade, queimando por dentro. Nunca soube – embora já tivesse desejado – mentir. E falar a verdade implica, no mais das vezes, conseqüências mais duras. Para os dois exércitos.
Mas ela está decidida – não conseguiria fazer de outra forma. Sua primeira preocupação é o estrago que pode provocar. A seguinte, decorrência direta da anterior, é o contra-ataque que talvez sofra. Ele pode abandonar o campo de batalha, de tão ferido. E isso ela certamente não quer.
Ele não responde à saudação. O documentário da tevê a cabo sobre coalas está muito interessante. Quanta ingenuidade, ela pensa. Há questões tão mais sérias a tratar.
“Você já jantou?”
Ela insiste.
Um pouco impaciente. Mas, na verdade, extremamente hesitante. Não sabe como introduzir o assunto. Há algumas investidas que dispensam estratégia. E há aquelas que simplesmente não suportam estratégia. Qualquer preparação, inócua. Nada a ensaiar.
“Não é sempre que conseguimos estar bem, como de resto nem sempre podemos esconder que estamos mal. Nada além disso.”
É a chamada do próximo programa. O documentário está no intervalo. A seguir vai entrar uma entrevista com um psicólogo especialista em comunicações. Por um instante, ela fixa a atenção na tevê.
“Com quem foi?”
“O quê?”
Ela se faz de desentendida.
“É. Quero saber com quem você me traiu. Se é que eu posso.”
Os coalas aparecem novamente. Ela começa a chorar. Poderia sentar-se ao lado dele, mas escolhe o outro sofá. Os cabelos lhe cobrem o rosto, já coberto pelas mãos. Ela o ama, isso é patente. Ele parece realmente interessado pelos coalas. E deixa claro (o olhar) que ela pode responder ou não à sua pergunta, sem maior prejuízo, tanto num caso como no outro.
Ela chora copiosamente. O receio de não ser perdoada se põe do avesso. Indiferença. Tem-se a impressão (inequívoca) de que é ela quem acaba de receber a notícia de uma traição, não o contrário.
O programa dele chega ao fim. A entrevista com o psicólogo especialista em comunicações entra na seqüência, sem comerciais. Ela, um bebê que aos poucos se acalma por encontrar algo tristemente cativante. Ele deixa a sala e toma a direção da cozinha.


Rodrigo Morozetti Blanco

Rodrigo Morozetti Blanco, 29 anos, faz Licenciatura em Matemática e gosta de ser professor. A vontade de criar, no entanto, leva o matemático a se aproximar da escrita. “É quase uma válvula de escape”, conta. Seu tema preferido são as peculiaridades humanas, as situações e sentimentos que se encaixam em qualquer um.

Rodrigo tem um blog, que satisfaz a vontade de expor seu trabalho, mas, mesmo assim, gostaria de publicar um livro.”Ainda estou produzindo textos, mas quando eu achar que tenho material suficiente e bom, pretendo procurar editoras.” Rodrigo teve um texto´publicado na última Originais Reprovados.

Carência de mim

Sou uma puta. Uma piranha, vadia, vagabunda, barata e fedida. Ou ao menos sinto assim, como prostituída. Vendendo meu corpo, minha alma, minha força de trabalho, o que tenho de mais íntimo, meus sucos mais doces, minhas entranhas afogadas e macias. Ando lendo demais, sabe? Ler me faz pensar. E pensar me faz questionar… Ando cansada de aceitar certas coisas… Há quanto tempo não sei mais quem sou? Há quanto tempo sinto esse vão no peito, essa carência, esse buraco negro que consome meus dias?

Difícil explicar. Essa carência é uma carência de mim. Não sei quem a trouxe e nem quando. É uma vontade que vem não sei de onde de fazer não sei o que. Vontade de sentar e ver o sol morrer em silêncio com uma amiga ao lado. Ou com um amigo. Ou com um amante. E deve ser um silêncio daqueles de intimidade, não daqueles constrangedores. Uma vontade de ser compreendida, de não tentar ser aceita, de não ter que explicar. De ter a tranqüilidade de se saber e sem a tentativa exaustiva de se expor, de dizer, de ser. Nessas horas o telefone não ajuda. Até por que não toca. A internet também não ajuda. Até algumas presenças não ajudam.

A carência, afinal, é uma carência de mim. É uma ânsia por paz que impede qualquer possibilidade de paz. É a espera da volta. É a espera do novo à espera de novo. E é quase sem solução, embora a resposta esteja ali, quase escondida nas perguntas: Onde diabos eu fui me meter…? Quantos sentimentos não manifestos se perderam em mim ao longo dos anos passados? Quantas manifestações esperei, esperei e esperei, sempre em vão? Foram muitas se não infinitas as vezes em que um olhar bastaria, não qualquer um, mas um que compreendesse, que visse por dentro… E não se encontrou tais olhos. Penso agora que se eu fosse mais transparente, talvez… Mas não importa, são momentos idos, não existem mais. Só existe o instante agora, esse que tento entender. Esse segundo de suprema compreensão que não sei como caiu sobre meu quarto adornado de pôsteres antigos e fotos novas. Esse instante amarelado e pastoso que não é qualquer um, mas sim o Instante Definitivo.

Esse Instante me chama e me invade, me grita tão alto nos ouvidos que não defino o que diz. Então ele me aperta o peito, enfia os tentáculos pela minha garganta, causa soluços e engasgos, momentos profundos de silêncio inexplicável e lágrimas aos borbotões. Não o entendo, mas sei, em algum lugar, o que ele quer.

Onde diabos eu fui me meter? Onde fui meter as mãos, a língua, a boca? Como cheguei até aqui razoavelmente inteira, se não sei sequer para onde vou agora? Sei apenas o que tenho que fazer, embora tenha medo. E lembro ainda de saber o que quer de mim esse maldito Instante.

Sei que quer arrancar de mim o amor inconfesso, a raiva contida, a vingança planejada e jamais cometida. A frustração engasgada, a lágrima não derramada, o grito engolido, a dor cicatrizada. Os risos, as alegrias… Não, esses não, nunca foram guardados, sempre pontuais, sempre bem utilizados e hoje tão raros. Não, o Instante não é para comemorações. É saudoso, cruel, quieto e triste. É mesquinho e dominador. Eu, que nunca fui minha, hoje sou escrava desse momento de angústia que há de me libertar. E o máximo que posso fazer é respeitá-lo. Deixá-lo seguir seu rumo e carregar-me com ele. Desamarrar essas roupas justas, as sandálias de couro e todos esses instrumentos de tortura com que cubro meu corpo. Ir com ele e passar pela mudança sabendo que o hábito – o costume, o vício – é a pior de todas as amarras. Assim, como a aliança que você tira do dedo, mas ainda a sente lá, ainda brinca com ela. Ainda esfrega, com a outra mão, o dedo vazio como costumava fazer quando ele andava enfeitado. É sempre assim, passam-se anos e um dia a aliança se foi. A aliança se foi, mas não a marca, não a sensação física de ela estar ali. Dentro do corpo ela permanece, ainda é possível senti-la. E, quando finalmente percebemos que ela não está mais ali, fica o vazio, a presença da ausência, que também incomoda, também dói, também é feita de se acostumar consigo mesma. No canto do quarto, nua, as pernas arrepiadas de frio e medo, a pergunta ecoando na cabeça. O que fazer, no entanto?

No entanto não há nada a fazer. Mudar, em geral, é assim. Dói. Mas passa.


Marcelo Ferraz de Paula

“Por volta dos dez anos eu sentia uma vaga necessidade de escrever. Escrevia coisas óbvias, como um diário, alguns versinhos melodramáticos e até um malfadado romance de colossais 12 páginas!” Foi assim que Marcelo Ferraz de Paula começou seu interesse por literatura. Hoje, aos 21 anos, o estudante de Letras é cauteloso quando fala em seguir a carreira de escritor, pois acredita que planejar a vida em função disso é um convite à frustração, tanto pelo mercado editorial quanto pela forma que a literatura é vista pelos leitores hoje, que esperam muito de um novo autor.

Vã cobiça – Glória de ausentar

Eu só te vejo quando não te vejo
E desejo os teus abraços
Apenas quando em seus braços
Não posso tê-los.

O eterno do teu corpo é fluido
Que somente a distância
É capaz de esculpir.
Quando perto, és como eu.

Deliro-te e rogo enquanto te não alcanço.
Mas se te toco, perco-te. Ou vos lanço como dados
para um degrau além; onde jamais
poderei te alcançar
até que alcance.

Afogo-me em piscinas vazias
Por não ter o mar a educar meu fôlego.
O que tenho, falta-me; meu alicerce
É líquido.

Embriago-me nisso que trespasso e miro
Ausente
Por não ter jamais,
– e ser eternamente –
O oco do infinito.


Henrique Carlos Parra Filho

A história que o estudante de Ciências Sociais Henrique Carlos Parra Filho, de 21 anos, conta é que desde pequeno sempre quis ser inteligente, e pra ele isso tinha alguma coisa a ver com livros. Ele continua dizendo que daí para uma carreira literária é um negócio que demanda talento. “Além disso, é uma coisa que absorve bastante e eu ainda estou na fase de não querer fazer só um negócio da vida” conta. Por enquanto, Henrique define sua relação com a escrita como poligâmica, pois precisa conciliar suas outras atividades. “Sou aquele homem médio que nunca completa nada e não é campeão” brinca.